Marcilio Reinaux*Dedicado à Avó: Francis Lucia Gueiros Reinaux Santos
Outro dia escrevemos neste espaço dos nossos "Retalhos do Cotidiano" reservados, mercê do colega jornalista Roberto Almeida, a quem agradecemos, uma crônica sobre o Tempo. Hoje queremos falar também de tempo, mas de um modo muito especial. Aquele em que as pessoas - pela mercê de Deus e pela idade - chegam a desfrutar o tempo de serem avós. Ou mais ainda, como este cronista, já desfrutando um tempo muito bom de ser bisavô. Graças à Deus mais uma vez.
Alquebrado, o tempo trás consigo um jeito de ser - como no dizer da amiga escritora Marieta Borges, que acrescenta: "traz um branquear dos cabelos, antes escuros, depois clareando aos poucos, mas de repente - como no dizer do poeta - não mais que de repente estão esbranquiçados no nosso dia a dia". Para alguns chegam o tremor nas mãos envelhecidas, como aqui e acolá um esquecimento fortuito daquilo que se constituiu - um dia - razão de ser feliz.
Do nosso ponto de vista, falando como avô e bisavô, entendemos que o tempo amedronta, para alguns, porque significa o desconhecido. E com este, certa angustia se apossa de muitos. Temos alguns amigos angustiados com o tempo que vai chegando e passando célere. Outro dia em um almoço de colegas aposentados da CELPE, um deles nos confessava, ter uma angustia, porque ficava a imaginar o quanto resta da sua vida, embora apresentasse um aspecto bastante saudável. Havia discretamente ali, uma precipitada "dor" de estar chegando ao fim. Ou mesmo o desânimo dos que já não esperam nada. E o pior: nem se sentem capazes de continuar lutando... Lutar pra que? alguns perguntam...
Não é sem razão que surge em meio à idade avançada - para alguns - momentos de tristeza, de angustia por vislumbrar o começo do fim de tudo e por isso muitos desembocam em períodos de depressão, dominados por enfermidades terríveis. Fácil para os familiares torna-se, levar os avós velhinhos pelo caminho em direção das chamadas "Casas de Repouso". Deve ser - no íntimo de cada vovô e vovó, uma tristeza terrível, que encurta dos dias, com certeza.
Mas pela Graça de Deus, ao que parece no nosso caso, temos no somatório dos anos vividos a resultante da soma de muitos dias que formataram - em nossa vida - um tempo também que soma experiências maravilhosas, enriquecedor as do nosso espírito, com muita claridade e porque não dizer daquilo eu termos mesmo pouco, de conhecimento e de sabedoria. Como se vê, o tempo molda o caráter desperta coragem de distribuir os bens acumulados com outros. Diríamos que como fardos que carregamos na vida, o tempo os torna doces e merecidos para quem os recebe... sentimo-nos assim. Alguns poderiam pensar que seria altruísmo, autoestima em demasia e ou mesmo algum sentimento de querer ser "bonzinho". Na realidade não somos assim "diferentes" das demais pessoas míseros e comuns mortais. Mas entendemos que há muitas pessoas que se mortificam, "enjauladas" e é seus próprios sentimentos de repulsa ao tempo que vai passando sobre suas vidas.
Entendemos, que se o tempo por um lado é cruel , inflexível na sua razão de ser, também sentimos que ele, o tempo, ameniza cicatrizes, suaviza feridas na alma, consola corações estremecidos, torna-se em um inalienável acervo de conhecimento e de trocas. Com tudo isso, entendemos que o tempo rejuvenesce a fé, renova esperanças e partilha com a vida o que se fez bagagem imorredoura. Por tudo isso temos no tempo um tesouro.
Pesquisa recente na França revela que dos cerca de sete milhões de avós, dois terços deles gastam mais da metade de seu tempo livre com os netos. Naquele país (por sinal nação do meu bisavô paterno), muitas crianças passam mais tempo com os avós do que com os próprios pais. O fato revela, uma amostragem, de como hoje a presença viva dos avós na educação dos netos tem bastante vulto e ganha especial significado sociológico. No Brasil precisamos que mais avós convivam mais com indescritível felicidade da presença dos netos.
Uma outra reflexão que fazemos neste sobre os avós, é a questão do respeito aos idosos, e principalmente a sua acolhida no ambiente familiar, esta sumamente importante na vida de todos. Assim, os pais devem propor às gerações mais novas, uma atitude de sincero respeito pelos mais velhos. Com tal comportamento será possível construir-se um ambiente propicio à acolhida, ao carinho e despertar nos jovens sentimentos de bondade e de atenção em relação aos idosos, em especial aos avós aos quais constituem os elos das tradições e da história familiar de cada um.
Em geral todo avô e toda avô são idosos, embora aqui e acolá vejamos um deles ainda muito jovem. Há poucos dias tivemos o DIA DOS AVÓS, dia 26 de julho. Ainda é de tempo, de saudar este idoso, avô, ou avó. Saudemos - se possível - aqueles os avós que receberam as marcas do tempo sem sofrer por tê-las e dividi-las no cotidiano com os seus queridos com o entusiasmo. Por isso dedicamos esta crônica à filha Francis Reinaux Santos, a jovem avó das meninas: Ester, Rebeca, Rute e Rafaela, (nossas bisnetas).
Com as saudações à Francis - queremos aqui e agora - saudar também todos os avós, homens e mulheres, sejam os jovens avós, sejam outros avós com muitas décadas amealhadas de vida e de experiências, calejados e até sofridos. Mas - em especial - nossos cumprimentos são para aqueles que deixaram que as suas rugas chegassem até agora. Que saibam, por isso mesmo, o quanto de bom cada uma delas acrescentou à sua própria vida, ao amor por ela, mesmo com os cabelos esbranquiçados. Enfim, que Deus os abençoe a todos e de forma especial aos que já vivem a maravilhosa aventura de serem chamados: Vovô e Vovó. Ou mais ainda: "Bivô, bivó!"
*Marcilio Reinaux é Membro da Academia de Letras de Garanhuns e Presidente da Academia Brasileira de Cerimonial e Protocolo. Jornalista e Escritor. (Crônica transcrita do Jornal Sete Colinas de agosto de 2010).