sábado, 9 de agosto de 2025

Depressão


João Marques* | Garanhuns

A pedra pesa e cai

de onde se origina

e pende para o chão

de fundos abissais

passagem e ponto

para olhar perdido

que procura um porto

fixo e sólido e só


a queda, única

sem audição nem baque

movimento e tempo

que afinal se partem


minha é essa pedra

presa aqui no peito

de horizontes e chão

sentimento e fogo

cratera infinda

de inflexões e pó.

*João Marques dos Santos, natural de Garanhuns, onde sempre residiu, poeta, contista, cronista e compositor. Teve diversas funções nas atividades culturais da cidade: foi Presidente da Academia de Letras de Garanhuns, durante 18 anos, Diretor de Cultura do Município, foi presidente da Academia dos Amigos de Garanhuns - AMIGA. Compôs, letra e música, o Hino de Garanhuns. Manteve, desde 1995, o jornal de cultura O Século. Publicou quatro livros de poesia: Temas de Garanhuns, Partições do Silêncio, Messes do azul e Barro. João Marques desencarnou em 22 de setembro de 2024.

Retratos do Agreste

Créditos da foto: Lívia Souto

Anchieta Gueiros e o Sr. Mané de Amélia com seus 88 anos de idade. Sítio Riacho Fundo, Iati - Pernambuco em 25 de junho de 2024. 

sexta-feira, 8 de agosto de 2025

Lançamento do livro Memórias de Garanhuns - Crônicas Escolhidas


Abril de 2016 | Lançamento do livro "Memórias de Garanhuns - Crônicas Escolhidas", realizado na festa de dois anos do jornal 'O Columinho'. Da direita para a esquerda Roberto Maranhão, Walter Santana, Ivo Amaral, escritora Lígia Beltrão, Edjenalva Amaral e Anchieta Gueiros

Augusto César diretor do jornal O Columinho criou um troféu para ser entregue a alguns garanhuenses que se destacaram, principalmente na área de comunicação. A comenda recebeu o nome do radialista e jornalista Lúcio Mário, que durante muitos anos exerceu sua profissão em veículos como a Rádio Jornal, O Monitor, FM Sete Colinas, dentre outros. Lúcio Mário pai de Augusto César.

O Columinho editou o livro com crônicas de três escritores de Garanhuns: Marcílio Reinaux, Lígia Beltrão e José Hildeberto Martins. O lançamento foi realizado no Garanhuns Palace Hotel.

Anchieta Gueiros no Sítio Aguazinha


Anchieta Gueiros na ordenha | Sitio Aguazinha, Iati - Pernambuco | Setembro de 2021 | Créditos da foto: Carlos Alberto (Azulão)

quinta-feira, 7 de agosto de 2025

Prefeitura de Garanhuns homenageia poeta João Marques no 32º FIG


A Prefeitura de Garanhuns, através da Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos, realiza no próximo sábado, dia 27, a partir das 15h, no “Espaço da Palavra”, instalado no Parque Luiz Carlos de Oliveira, na Boa Vista, uma homenagem ao poeta João Marques dos Santos. O evento faz parte da programação do Festival de Inverno de Garanhuns dentro do polo de Literatura.

João Marques dos Santos, natural de Garanhuns, onde sempre residiu, é poeta, contista, cronista e compositor.  Teve diversas funções nas atividades culturais da cidade: foi Presidente da Academia de Letras de Garanhuns, durante 18 anos, Diretor de Cultura do Município e, atualmente, é presidente da Academia dos Amigos de Garanhuns - AMIGA. Compôs, letra e música, o Hino de Garanhuns. Mantém, desde 1995, o jornal de cultura O Século, que completará no próximo mês de agosto 30 anos de existência. Publicou quatro livros de poesia: Temas de Garanhuns, Partições do Silêncio, Messes do azul e Barro.

A homenagem contará com depoimentos de alguns escritores que integram a Academia de Letras de Garanhuns e a União Brasileira de Escritores (UBE), que proporcionarão um momento de reflexão e celebração do legado do Escritor. Além disso, será uma oportunidade para que a comunidade possa se reunir e relembrar a importância cultural e histórica das contribuições do poeta para Garanhuns.

PAI NOSSO DE GARANHUNS


João Marques | Garanhuns

Pai nosso, que estás na cidade das flores,

Santo sempre seja o teu nome

E bem aventurado seja também o nome de Garanhuns.

Venha a nós o domínio divino das belezas e da paz,

Seja feita a tua vontade, nesta terra amada e no céu.

A farta sobrevivência do pão e da justiça nos dá em todo o tempo,

Perdoa os nossos erros e indiferenças,

Assim como festejamos a amizade e abraçamos os amigos.

Não nos deixas cair em tentações de poder desviar os nossos olhos dos encantos desta terra.

E livra-nos do mal...

Amém!

*João Marques dos Santos, natural de Garanhuns, onde sempre residiu, é poeta, contista, cronista e compositor.  Teve diversas funções nas atividades culturais da cidade: foi Presidente da Academia de Letras de Garanhuns, durante 18 anos, Diretor de Cultura do Município e, foi presidente da Academia dos Amigos de Garanhuns - AMIGA. Compôs, letra e música, o Hino de Garanhuns. Manteve desde 1995, o jornal de cultura O Século. Publicou quatro livros de poesia: Temas de Garanhuns, Partições do Silêncio, Messes do azul e Barro.

Terra


João Marques* | Garanhuns

Terra este útero

de onde me tiro

e de onde sou giro

como o Sol que brilha

circundando meu corpo


mãe que ama

e guarda os filhos

nos regaços da aurora

e aos leites do peito.

*João Marques dos Santos, natural de Garanhuns, onde sempre residiu, poeta, contista, cronista e compositor. Teve diversas funções nas atividades culturais da cidade: foi Presidente da Academia de Letras de Garanhuns, durante 18 anos, Diretor de Cultura do Município, foi presidente da Academia dos Amigos de Garanhuns - AMIGA. Compôs, letra e música, o Hino de Garanhuns. Manteve, desde 1995, o jornal de cultura O Século. Publicou quatro livros de poesia: Temas de Garanhuns, Partições do Silêncio, Messes do azul e Barro. João Marques desencarnou em 22 de setembro de 2024.

Sequencial


João Marques* | Garanhuns

I

Quantas vezes respiro

o ar da ventania distante!

e sinto que vou

pelas árvores da infância.

II

A poesia chega onde estou

vem de qualquer parte

de uma flor serena

de uma árvore que sonha

e mais perto de mim

fica um pequeno círculo

de traço geométrico

em rodopio no ar.

*João Marques dos Santos, natural de Garanhuns, onde sempre residiu, poeta, contista, cronista e compositor. Teve diversas funções nas atividades culturais da cidade: foi Presidente da Academia de Letras de Garanhuns, durante 18 anos, Diretor de Cultura do Município, foi presidente da Academia dos Amigos de Garanhuns - AMIGA. Compôs, letra e música, o Hino de Garanhuns. Manteve, desde 1995, o jornal de cultura O Século. Publicou quatro livros de poesia: Temas de Garanhuns, Partições do Silêncio, Messes do azul e Barro. João Marques desencarnou em 22 de setembro de 2024.

A Praça


João Marques* | Garanhuns

Caminham os homens

eu digo que caminham

pela praça esparsa

a praça do mundo

e descobrem os dentes

e descobrem o grito

todos chegam, eles que partem

para estender caminhos


cá estão as feras

entre flores e monumentos

as feras estão soltas

e acima livres as aves

as feras são perseguidas

as feras devem ser perseguidas

são contra o povo na praça

contra a turba enfurecida

contra o verde das árvores

a primavera e o azul

e da praça são os homens livres

como são dos céus as aves.

Tratado


João Marques* | Garanhuns

A reunião dos poetas

e o encontro dos ventos

e de todos os caminhos

calmarias e tempestades

o alvoroço dos elementos

da criação do primeiro dia 


a palavra se levanta

pela proclamação do justo

os lamentos dos vencidos

a escolha da igualdade

as conotações das cores da pele

a liberdade dos diferentes


e se voltam os ímpetos

contra abismo infame

onde se esmagam flores

miasmas de azedume

pedaços feios das coisas


a reunião dos poetas

imenso tem na palma o grito

das rotações da Terra

e da imensidão dos oceanos

e no grito o canto

de amor às existências.

*João Marques dos Santos, natural de Garanhuns, onde sempre residiu, poeta, contista, cronista e compositor. Teve diversas funções nas atividades culturais da cidade: foi Presidente da Academia de Letras de Garanhuns, durante 18 anos, Diretor de Cultura do Município, foi presidente da Academia dos Amigos de Garanhuns - AMIGA. Compôs, letra e música, o Hino de Garanhuns. Manteve, desde 1995, o jornal de cultura O Século. Publicou quatro livros de poesia: Temas de Garanhuns, Partições do Silêncio, Messes do azul e Barro. João Marques desencarnou em 22 de setembro de 2024.

Fragmentado canto


João Marques* | Garanhuns

Cacos caídos e gastos

e o que pode o canto

de partido barro

erigir na praça torso

vaso de alabastro

em reduzidos cacos

desnivelados e soltos


resta encontrar rastilhos

para retenção na alma

de despedaçada vida

porque o canto é pleno

pode redimir o feio

e consolar o triste

refazer granítica a obra

das mortes da existência

e da desolação dos cacos.

*João Marques dos Santos, natural de Garanhuns, onde sempre residiu, poeta, contista, cronista e compositor. Teve diversas funções nas atividades culturais da cidade: foi Presidente da Academia de Letras de Garanhuns, durante 18 anos, Diretor de Cultura do Município, foi presidente da Academia dos Amigos de Garanhuns - AMIGA. Compôs, letra e música, o Hino de Garanhuns. Manteve, desde 1995, o jornal de cultura O Século. Publicou quatro livros de poesia: Temas de Garanhuns, Partições do Silêncio, Messes do azul e Barro. João Marques desencarnou em 22 de setembro de 2024.

quarta-feira, 6 de agosto de 2025

Quando chega o verão


Luzinette Laporte | Garanhuns, 20/11/2003

O sol queima. Oxalá fosse apenas um queimar de pele. Mas é também a queima da terra. A estiagem indo bem além do verão. Não é mais verão. É a seca. Devorando o verde. Extinguindo a vida. Sorvendo toda a água do céu da terra.

Em "Os Sertões", Euclides da Cunha narra a luta que se passa entre as nuvens e a terra. A chuva tenta chegar até os terrenos ressequidos. As nuvens soltam a chuva que deveria regar o solo, porém, sedento, o ar bebe a água toda, a metros e metros de altitude. Evapora aquela que seria a redenção das searas, das colheitas. Seca tudo.

Mas, quando a chuva consegue romper a muralha invisível do ar quente, se chega de verdade, a terra abre-se em flor. São pequeninas flores quase invisíveis, brotos olhando, sorrindo para a gente. Vocês já viram o efeito de uma trovoada no Sertão? Eu vi. É inacreditável. A chuva cai, em torrentes, à noite e, pela manhã já se notam os  "olhinhos verdes" a nos mirarem. Sorriem para a vida. Milagre da natureza. Não creio haja alguém capaz de não se emocionar, comover-se, com a pujança da  terra que parecia morta.

O sertanejo, sem compreender o ciclo das secas, sai em procissão e roga a Deus que envie a chuva, isto é a vida. Ele (como nós) só tem Deus.

E os poetas clamam também: "Acauã vive cantando, / nas tardes tristes do sertão /, no silêncio da tarde agourando, / chamando a seca pro sertão! /... Teu canto é tristonho e faz medo, / te cala, Acauã, que é pra chuva voltar cedo..." Clamor de sofrimento e morte. Mas há quem cante o verde da esperança: "quando o verde dos teus olhos se espalhar na plantação..." O drama de homem mais corajoso e forte do mundo: o sertanejo. O mais... Aquele que cultiva a esperança, a fé. Resiste em largar seu chão. Rosto calcinado pelo sol e a poeira. Coração em chamas pela família e a terra.

Séculos de insensibilidade. Quem sabe, agora, com a esperança das centenas de cisternas (um milhão, clama-se há anos) o homem não será olhado, reconhecido. Com a descoberta (México, Estados Unidos) da palma como alimento não apenas dos animais, porém do homem também, tudo muda. Que sabe, aprenderemos com Israel a cultivar as frutas dos cactos ( que chegam a custar até 8 dólares cada, no mercado europeu). Vocês já provaram? Eu já. São deliciosas. E foi em São Pedro, aqui bem pertinho de Garanhuns.

Ave, vida


João Marques* | Garanhuns, 2022

Conduzo o andor da vida

estendido nas mãos

que seguram o Sol

e recolhem flores

e frutos caídos das auroras

santificada a respiração do solo

do pó das eras

e da pedra nua

polida pelo vento vivo

e pela santidade da existência.

*João Marques dos Santos, natural de Garanhuns, onde sempre residiu, poeta, contista, cronista e compositor. Teve diversas funções nas atividades culturais da cidade: foi Presidente da Academia de Letras de Garanhuns, durante 18 anos, Diretor de Cultura do Município, foi presidente da Academia dos Amigos de Garanhuns - AMIGA. Compôs, letra e música, o Hino de Garanhuns. Manteve, desde 1995, o jornal de cultura O Século. Publicou quatro livros de poesia: Temas de Garanhuns, Partições do Silêncio, Messes do azul e Barro. João Marques desencarnou em 22 de setembro de 2024.

A brecha da vida

Luzinette Laporte de Carvalho* | Garanhuns, 14/08/2004

"Brecha" é a expressão que Hannah Arend usa: "O homem sustém-se sobre uma brecha, no intervalo entre o passado já resolvido e o futuro inescrutável. Ele não pode suster-se aí senão na medida em que pensa, quebrando assim, por sua resistência as forças do passado infinito e do futuro infinito e o fluxo do tempo indiferente".

Eis pois como suster-se o homem entre os dois infinitos: ao pensar. Só assim pode mover-se na "brecha".

Cada um de nós sente isso: não se pode romper o fio da tradição. Quem foge à tradição ou tenta fugir-lhe, negando-lhe o indiscutível valor - foge de uma parte indispensável de sua história pessoal e coletiva. De sua fé, de sua crença, de seus costumes, de sua cultura. É este lado anterior da "brecha" que nos dá suporte para equilibrar-nos. Para não sermos devorados, melhor, engolidos, pelo futuro que nos conclama. O fato de a "brecha" ser uma constante, exige de nós o pensar constante. Não nos paralise a tradição, mas nos lance a criar não apenas abraçar o futuro infinito.

A "brecha" é a "crises" que vivemos no ato do viver. O choque entre o que foi e ainda é, pois que vivência, experiência vivida e o que será. Caminhamos em roteiros de crise e isto é maravilhoso. A "brecha" é o agora.

A "crisis" é instrumento de diagnóstico e o horizonte da cultura, do tempo presente, o agora. Estende-se a quase todos os setores da condição humana. Na verdade, atravessou também o passado infinito e, certamente, está presente na "brecha" e estará no futuro.

Daí porque pensar para, como diz a filósofa judia, "mover-se na brecha".

"Crisis" é a luta entre o que somos e o que sonhamos ou queremos ser. Entre o estar e o lançar-se. Entre paralisia e ação.

O equilíbrio está no pensar, disse a filósofa. E o pensar leva-nos a descobrir os roteiros, as vias, as estradas a percorrer. Entre montanhas e pedras, vales e flores, desertos e fontes. Demanda.

*Escritora, professora e jornalista.

Auroral


João Marques* | Garanhuns, 2022

Volve o sol perto de casa

a roseira que minha esposa deixou

plantada na palma e no vento

clave da fala de Homero

de traços livres e vibrantes

e da celebração do simples


tenho o rosto do primeiro homem

de olhos e de cabelos de luz

manhãs novas e os beija-flores

caindo serenos do azul

amanhecendo os montes

substantivos e sensíveis

do gozo dos seres


no 7º dia do descanso dos elementos

e da alegria das bodas e do mel

as aves cantam, incrivelmente cantam

com as falas da natureza

que compõe a alma

dos homens de pedra e flores.

*João Marques dos Santos, natural de Garanhuns, onde sempre residiu, poeta, contista, cronista e compositor. Teve diversas funções nas atividades culturais da cidade: foi Presidente da Academia de Letras de Garanhuns, durante 18 anos, Diretor de Cultura do Município, foi presidente da Academia dos Amigos de Garanhuns - AMIGA. Compôs, letra e música, o Hino de Garanhuns. Manteve, desde 1995, o jornal de cultura O Século. Publicou quatro livros de poesia: Temas de Garanhuns, Partições do Silêncio, Messes do azul e Barro. João Marques desencarnou em 22 de setembro de 2024.

A primavera e o meu bosque

Izaías Régis, Marcílio Reinaux e Ivo Amaral
Da direita para a esquerda: Izaías Régis, Marcílio Reinaux e Ivo Amaral. Prefeitura de Garanhuns em 2014

Marcílio Reinaux* | Recife, 10/12/2010

Há poucos dias neste mês de setembro visitou-me o amigo Ivo Amaral. Demos uma caminhada pelo meu bosque e Ivo a meu convite plantou uma árvore. Inspirado, naquele dia, próximo ao começo da primavera, escrevi esta crônica dos "Retalhos do Cotidiano". É dedicada ao amigo Ivo Amaral em agradecimento à visita

Assentado na relva, debruçado em um tronco adormecido, contemplo um espetáculo maravilhoso da natureza. Chegou nestes dias de setembro, a primavera. Sem que nenhum de nós percebesse, ela chegou de mansinho, porém firme, forte e luzidia, mesmo que muitos nem dela se lembrem, nem mesmo possuam jardim para recebê-la. Eu a recebi.

O sol agora dardeja luzes, já marcando sombras diferentes entre as árvores do meu bosque. Ao que parece os habitantes da mata já sentem as diferenças de ontem para hoje. Essas criaturas maravilhosas tão naturais que circulam no ar e pelo chão e relva ao nosso redor continuarão as suas trajetórias, agora mais felizes. E com certeza sentindo que as mudanças da mãe natureza, começam a preparar uma nova vida primaveril.

Parece que ouvimos finos clarins, ou novos cantos de pássaros que antes não voavam por aqui. Parece também que eles se associam a outro mundo confidencial, aquele das raízes, que se movem e se elastecem nas entranhas da terra, rangido tentáculos, ampliando e conquistando seus espaços. Afinal as chuvas invernais que agora cedem lugar à luz da primavera, deixaram há pouco uma herança muito rica do viço do húmus e o alento das plantinhas e das grandes e também frondosas árvores do bosque. As folhagem ainda balouçante com as últimas gotas orvalhadas.

Cecília Meireles nos conta que na primavera, "arautos sutis acordarão as cores e os perfumes e a alegria de nascer, no espírito das flores, em bosques de rododentros que eram verdes e ficarão alguns cor-de-rosa, como os palácios de Jeipur."

Nesta primavera iniciante, já ouvimos vozes novas de passarinhos, ao que parece ainda surpresos com as mudanças do ciclo do tempo, começam a ensaiar as árias tradicionais das suas próprias canções. Ah! Também vemos com mais intensidade, que pequenas borboletas brancas e amarelas - saídas dos casulos, parece que se apressam pelos ares, conquistando seus espaços na infinitude de um novo mundo. E, também nos deixa a imaginar, que elas conversam, mas tão baixinho que não ouvimos nem entendemos.

O inverno que se foi ou se vai, deixa também traços da vida nas águas da renovação de mundos incomensuráveis. Por entre  eles as plantinhas alegres, inauguram suas flores e as árvores anunciam seus frutos. As folhas, flores e frutos e todos os seres viventes, procuram os céus da primavera e comemoram o primeiro raio de sol.

O bosque com as suas árvores cobertas de folhas e flores nos lembram que só os poetas, percebem rápido que ela, a Primavera tal qual uma deusa, chega coroada de flores, com vestidos bordados de flores, com os braços carregados de flores, e vem dançar com a natureza neste renovado mundo de luz. A terra também de sua parte - com a chegada da Primavera - maternalmente se enfeita para as festas da sua perenidade na dança das flores, folhas e frutos e entoa uma nova canção.

Enquanto há primavera, esta primavera natural, escutemos estas vozes que andam nas árvores, caminhemos por estas veredas e toscas estradas do bosque que ainda conservam nossos sentimentos de amor à natureza e à Primavera. Ela sempre de roupagem nova a cada ano. Por isso brindemos por tudo dos ares primaveris, para deixar brilhar por um instante, apenas que seja, a sua beleza expressa nessa dádiva de Deus. Saudemos a primavera, dona da vida.

*Marcílio Reinaux, à sombra do arvoredo do "Bosque Ebenezer" / Iputinga / Recife.

Mãos da terra


João Marques*

Terra meu chão

de pedra e raiz

e de meus dedos

que irrompem acima

acenando com gestos

do balanço dos caminhos 

e dos roseirais


erguem-se das mãos

da terra espalmada

extensas manhãs

de planura e de sol.

*João Marques dos Santos, natural de Garanhuns, onde sempre residiu, poeta, contista, cronista e compositor. Teve diversas funções nas atividades culturais da cidade: foi Presidente da Academia de Letras de Garanhuns, durante 18 anos, Diretor de Cultura do Município, foi presidente da Academia dos Amigos de Garanhuns - AMIGA. Compôs, letra e música, o Hino de Garanhuns. Manteve, desde 1995, o jornal de cultura O Século. Publicou quatro livros de poesia: Temas de Garanhuns, Partições do Silêncio, Messes do azul e Barro. João Marques desencarnou em 22 de setembro de 2024.

Com licença, obrigado, desculpe, por favor


Luzinette Laporte de Carvalho* | Garanhuns, 15/11/2002

São expressões básicas, para se viver bem na sociedade

 O pai, a mãe, o professor que deseja das nações da chamada "educação doméstica", isto é, o fundamental em educação, não precisa de códigos, livros etc.

Bastam expressões acima.

A criança que aprende  a pedir licença, a agradecer, a pedir desculpas, e a dizer "por favor" com toda certeza será um adolescente que continuará na mesma linha.

E não venham dizer-me que é "frescura". "Frescura" é exigir dos pais tênis e roupas de grife que estejam além da capacidade aquisitiva deles. "Frescura" é esquivar-se a lavar os pratos, varrer a casa, espanar os móveis, ajudar na cozinha. Ajudar os pais. Isso é  "frescura'.

Se querem macaquear o primeiro mundo, então sigam os exemplos de  trabalho, estudo, participação que têm os jovens do primeiro mundo.

Com certeza vão objetar-me que  "lá", eles se drogam, ferem, matam. São  violentos. Os marginais, como aqui. Os que não receberam - ou recebem e não valorizaram, valorizam o esforço dos pais - o carinho e amor  expressos nas refeições preparadas com ternura (fruto do suor do trabalho), nos estudos (que lhes custam renúncias  silenciosas), no vestir, no calçar que sinalizam cuidados e afeto.

Seria muito com começar muito, muito cedo, o exercício dos sentimentos nobres. O respeito por si e pelos outros. (Se não me respeito, não sei respeitar ninguém).

Educação é atividade positiva de sentir-se bem no ambiente em que se vive. De ser feliz. A felicidade existe.

Tem um nome.

É um monossílabo: Deus. E para quem quer aprofundar: amor. "Deus é Amor".

*Professora, escritora e cronista.

Poema novo


João Marques* | Garanhuns

Livre dos objetos

que estendem laços

recebo a aurora

da madrugada breve

na garganta dos galos

me visto leve

da pele azul do espaço

trajo o diáfano

que se espalha com a luz

e nomeio os primeiros raios

por cima de montes e da laranjeira

da frente da casa onde nasci

meus braços partem

e vão abraçar o Sol longe

leve como fico em sua aparição

e fantástico com quer a alma.

*João Marques dos Santos, natural de Garanhuns, onde sempre residiu, poeta, contista, cronista e compositor. Teve diversas funções nas atividades culturais da cidade: foi Presidente da Academia de Letras de Garanhuns, durante 18 anos, Diretor de Cultura do Município, foi presidente da Academia dos Amigos de Garanhuns - AMIGA. Compôs, letra e música, o Hino de Garanhuns. Manteve, desde 1995, o jornal de cultura O Século. Publicou quatro livros de poesia: Temas de Garanhuns, Partições do Silêncio, Messes do azul e Barro. João Marques desencarnou em 22 de setembro de 2024.

Embrião do trio elétrico


Manoel Neto Teixeira*

Ainda sem respostas para perguntas como: quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha? o homem continua até hoje envolvido na dúvida, sobretudo quando se tratam de questões mais complexas, como o princípio e o fim das coisas, inclusive da vida

Mas nos plano do conhecido, concreto, das coisas que compõem o nosso cotidiano, nem sempre o  que está posto, dito e propagado corresponde à verdade. Ainda somos tomados, não raro, por opiniões e interpretações que, não sendo procedentes, terminam por dissimular a verdade dos fatos.

Na cena humana existem fenômenos naturais (os da natureza) e os artificiais (criados e inventados a partir das elaborações racionais, onde há lugar para tudo, inclusive mistificações).

Na metodologia científica temos as fontes primárias, aquelas que assistem ao nascimento dos fatos, e as fontes secundárias, que são as informações e interpretações registradas em periódicos, jornais, revistas e outras publicações.

Pois bem, o trio elétrico, antes de tomar a forma e dimensão que aí estão, teve o seu embrião concebido pelas mãos do técnico de som, o paraibano José Monteiro (1906/1974), responsável pela instalação da primeira emissora de rádio da Paraíba, a PRI-4, hoje Rádio Tabajara. Corria a segunda metade dos anos 1940 do século vinte. De forma artesanal, o seu José instala uma vitrola na cabine de um carro Fiat, modelo "topolino", importado da Itália e, com o apoio dos seus dois filhos, então  adolescentes, Newton e Nélio Monteiro, projetou o som com as marchinhas da época animando o carnaval de rua do centro de João Pessoa.

Quem conta essa história é o colecionador de carros antigos e psicólogo Fernando Monteiro, sobrinho do seu José Monteiro; ele que, ainda criança, viu nascer esse sistema de som, fornecendo detalhes: "Meus primos tinham a incumbência de, sentados na cabine do veículo, apoiavam com as mãos a vitrola que projetava o som, evitando a interferência da trepidação do veículo, para alegria dos foliões que tomavam as ruas do centro de João Pessoa, principalmente a Rua Nova, hoje Duque de Caxias".

Ainda era tempo do disco de cera, de 78 rotações, e da vitrola a cordas (manual, à base da manivela).

Foi quando Dodô que, à época, trabalhava na Great Western, empresa responsável pelo transporte ferroviário no Nordeste do Brasil, circulando pela região e tomando conhecimento da engenhoca do seu José Monteiro, não teve dúvida, se mandou para João Pessoa e gostou do que viu. Encomendou de pronto um serviço de som semelhante ao do seu José Monteiro e, retornando para  Salvador, introduziu lá a novidade sonora. Mais do que isso: ao lado do seu amigo Osmar, recria a engenhoca compondo-a com um terceiro elemento formando a partir daí o que ficou conhecido de canto a canto como o trio elétrico, que tantas alegrias provoca, principalmente para as novas gerações.

Com viola, cavaquinho e guitarra estava garantida a festa, inicialmente pelas ruas da capital baiana e logo mais pelo Brasil afora; hoje dispondo de tudo que se tem direito em termos de modernidade e sofisticação sonora, esses veículos se transformaram em grandes palcos nos quais se apresentam bons e maus  artistas em todas as regiões do Brasil.

A pequena diferença é que a engenhoca sonora do seu José Monteiro fora concebida na segunda metade dos anos 1940, enquanto na capital baiana teve início a partir dos anos 1950. Dr. Fernando Monteiro dispõe inclusive de ampla documentação comprobatória dessas informações, como fotografias (preto e branco) e recortes de jornais da época.

*Manoel Neto Teixeira, jornalista e professor, é membro da Academia de letras de Garanhuns.

Não devemos temer a morte


Jesus de Oliveira Campelo*

Desde os grande primórdios, grande parte da humanidade vem fazendo indagações sobre a razão de sua existência, e continua a se questionar: De onde vim? Para onde vou?

Mesmo, em se tratando de um fenômeno natural, a morte ainda se constitui num desafio para o ser  humano. Muito embora os religiosos acreditem na imortalidade da alma, o medo da morte continua desafiando e perturbando as suas mentes.

Os que não acreditam na sobrevivência do espírito após a morte, - os materialistas - estão convictos de que tudo no mundo é constituído exclusivamente de  duas coisas: energia e matéria. Elas podem ser transformadas, mas, nunca destruídas. Se for alguma coisa, a vida é energia. E, sendo energia, pode passar por várias transformações, mas nunca destruída. E, concluem: se a morte não é uma simples mudança, nada existirá depois dela, a não ser um sono eterno. Por isso não a desejam, mas dizem não temê-la.

O que difere na postura de quem possui a visão espiritual, daquele que é materialista, ou, ainda, daquele que possui ideias vagas a respeito da vida após a morte, é a falta de conhecimento dos vários aspectos da espiritualidade. O despreparo, o medo da definitiva separação, a angústia, a incerteza, o medo do desconhecido, o pagamento das penas pelas faltas cometidas, atormentam os que possuem superficiais conhecimentos sobre a morte.

A morte deve ser entendida como um fenômeno inevitável na natureza, que merece ser estudada e analisada em seus vários aspectos, a fim de ser melhor compreendida, e para que o ser humano possa lidar com ela com simplicidade e, não  apenas temê-la.

Não é possível que milhões de depoimentos em todo o planeta, sobre a experiência realizada por renomados médicos sobre o fenômeno da chamada Experiência de Quase Morte EQM, e o tratamento feito através da Terapia de Vidas Passadas - TVP, em indivíduos das mais variadas condições sociais, econômicas e culturais, por milhares de pesquisadores sérios, não mereçam crédito. Acreditamos não ser lógico nem científico, negar-se simplesmente pelo fato de não se acreditar.

Morte e vida são dois fenômenos mergulhados numa só experiência. A vida é essa oportunidade extraordinária que Deus deu para propiciar nosso progresso material e espiritual e que deverá ser vivida em toda sua intensidade, a fim de que se possa obter dela o máximo de aproveitamento. A morte é apenas um fenômeno natural de transformação que marca o fim da jornada terrestre e a volta para o mundo espiritual. O conhecimento da vida espiritual, em todos os seus aspectos, liberta o homem do medo da morte.

A ciência vai aos poucos vasculhando a vida e ampliando seus horizontes tentando mudar o paradigma deste importante acontecimento.

A psiquiatra suíça, Elizabeth Kubler Ross, deixou magnífica contribuição a respeito desse tema, através de estudos que mostram que a morte apresenta-se, não como um aspecto aterrador, mas como um fenômeno natural. Suas conclusões foram extraídas de longos anos de pesquisas junto a moribundos e pessoas que foram ressuscitadas em hospitais, onde mais de vinte mil casos foram estudados.

Outros pesquisadores de renome como o Dr. Ian Stevenson, Dr. Bryan Weiss, Dr. Raymond Mood Jr., Dra, Julita Kiskis, Dra. Patrick Druot, Camille Flammarion, o Engenheiro Gabriel Delane e tantos outros que, tanto no passado como no presente, continuam prestando suas colaborações na elucidação deste importante tema. O estudo do esplendor da vida pode, perfeitamente, clarear o entendimento humano, a fim de que a morte possa ser aceita como fenômeno natural.

Mesmo tendo conhecimento da imortalidade da alma, isso não significa que o momento do desenlace não seja desprovido de fortes emoções. A convivência física, o amor, a vida em conjunto, fazem brotar um sentimento de tristeza e saudade em qualquer criatura. Mas, em seguida vem a conformação, e tudo voltará ao normal.

*Jornalista, cronista, é membro da Academia de Letras de Garanhuns.

A maravilhosa dádiva de ser avós


Marcilio Reinaux*

Dedicado à Avó: Francis Lucia Gueiros Reinaux Santos

Outro dia escrevemos neste espaço dos nossos "Retalhos do Cotidiano" reservados, mercê do colega jornalista Roberto Almeida, a quem agradecemos, uma crônica sobre o Tempo. Hoje queremos falar também de tempo, mas de um modo muito especial. Aquele em que as pessoas - pela mercê de Deus e pela idade - chegam a desfrutar o tempo de serem avós. Ou mais ainda, como este cronista, já desfrutando um tempo muito bom de ser bisavô. Graças à Deus mais uma vez.

Alquebrado, o tempo trás consigo um jeito de ser - como no dizer da amiga escritora Marieta Borges, que acrescenta: "traz um branquear dos cabelos, antes escuros, depois clareando aos poucos, mas de repente -  como no dizer do poeta - não mais que de repente estão esbranquiçados no nosso dia a dia". Para alguns chegam o tremor nas mãos envelhecidas, como aqui e acolá um esquecimento fortuito daquilo que se constituiu - um dia - razão de ser feliz.

Do nosso ponto de vista, falando como avô e bisavô, entendemos que o tempo amedronta, para alguns, porque significa o desconhecido. E com este, certa angustia se apossa de muitos. Temos alguns amigos angustiados com o tempo que vai chegando e passando célere. Outro dia  em um almoço de colegas aposentados da CELPE, um deles nos confessava, ter uma angustia, porque ficava a imaginar o quanto resta da sua vida, embora apresentasse um aspecto bastante saudável. Havia discretamente ali, uma precipitada "dor" de estar chegando ao fim. Ou mesmo o desânimo dos que já não esperam nada. E o pior: nem se sentem capazes de continuar lutando... Lutar pra que? alguns perguntam...

Não é sem razão que surge em meio à idade avançada - para alguns - momentos de tristeza, de angustia por vislumbrar o começo do fim de tudo e por isso muitos desembocam em períodos de depressão, dominados por enfermidades terríveis. Fácil para os familiares torna-se, levar os avós velhinhos pelo caminho em direção das chamadas "Casas de Repouso". Deve ser - no íntimo de cada vovô e vovó, uma tristeza terrível, que encurta dos dias, com certeza.

Mas pela Graça de Deus, ao que parece no nosso caso, temos no somatório dos anos vividos a resultante da soma de muitos dias que formataram - em nossa vida - um tempo também que soma experiências maravilhosas, enriquecedor as do nosso espírito, com muita claridade e porque não dizer daquilo eu termos mesmo pouco, de conhecimento e de sabedoria. Como se vê, o tempo molda o caráter desperta coragem de distribuir os bens acumulados com outros. Diríamos que como fardos que carregamos na vida, o tempo os torna doces e  merecidos para quem os recebe... sentimo-nos assim. Alguns poderiam pensar que seria altruísmo, autoestima em demasia e ou mesmo algum sentimento de querer ser "bonzinho". Na realidade não somos assim "diferentes" das demais pessoas míseros e comuns mortais. Mas entendemos que há muitas pessoas que se mortificam, "enjauladas" e é seus próprios sentimentos de repulsa ao tempo que vai passando sobre suas vidas.

Entendemos, que se o tempo por um lado é cruel , inflexível na sua razão de ser, também sentimos que ele, o tempo, ameniza cicatrizes, suaviza feridas na alma, consola corações estremecidos, torna-se em um inalienável acervo de conhecimento e de trocas. Com tudo isso, entendemos que o tempo rejuvenesce a fé, renova esperanças e partilha com a vida o que se fez bagagem imorredoura. Por tudo isso temos no tempo um tesouro.

Pesquisa recente na França revela que dos cerca  de sete milhões de avós, dois terços deles gastam mais da metade de seu tempo livre com os netos. Naquele país (por sinal nação do meu bisavô paterno), muitas crianças passam mais tempo com os avós do que com os próprios pais. O fato revela, uma amostragem, de como hoje a presença viva dos avós na educação dos netos tem bastante vulto e ganha especial significado sociológico. No Brasil precisamos que mais avós convivam mais com indescritível felicidade da presença dos netos.

Uma outra reflexão que fazemos neste sobre os avós, é a questão do respeito aos idosos, e principalmente a sua acolhida no ambiente familiar, esta sumamente importante na vida de todos. Assim, os pais devem propor às gerações mais novas, uma atitude de sincero respeito pelos mais velhos. Com tal comportamento será possível construir-se um ambiente propicio à acolhida, ao carinho e despertar nos jovens sentimentos de bondade e de atenção em relação aos idosos, em especial aos avós aos quais constituem os elos das tradições e da história familiar de cada um.

Em geral todo avô e toda avô são idosos, embora aqui e acolá vejamos um deles ainda muito jovem. Há poucos dias tivemos o DIA DOS AVÓS, dia 26 de julho. Ainda é de tempo, de saudar este idoso, avô, ou avó. Saudemos - se possível - aqueles os avós que receberam as marcas do tempo sem sofrer por tê-las e dividi-las no cotidiano com os seus queridos com o entusiasmo. Por isso dedicamos esta crônica à filha Francis Reinaux Santos, a jovem avó das meninas: Ester, Rebeca, Rute e Rafaela, (nossas bisnetas).

Com as saudações à Francis - queremos aqui e agora - saudar também todos os avós, homens e mulheres, sejam os jovens avós, sejam outros avós com muitas décadas amealhadas de vida e de experiências, calejados e até sofridos. Mas - em especial - nossos cumprimentos são para  aqueles que deixaram que as suas rugas chegassem até agora. Que saibam, por  isso mesmo, o quanto de bom cada uma delas acrescentou à sua própria vida, ao amor por ela, mesmo com os cabelos esbranquiçados. Enfim, que Deus os abençoe a todos e de forma especial aos que já vivem a maravilhosa aventura de serem chamados: Vovô e Vovó. Ou mais ainda: "Bivô, bivó!"

*Marcilio Reinaux é Membro da Academia de Letras de Garanhuns e Presidente da Academia Brasileira de Cerimonial e Protocolo. Jornalista e Escritor. (Crônica transcrita do Jornal Sete Colinas de agosto de 2010).

Palavra maior


João Marques* | Garanhuns

Uma palavra é mais

que o ferro e a força

que aprisionam o mundo

impedem caminhos

estendem correntes

amordaçam o canto

das aves e dos homens


essa palavra é tudo

mais que a fala

sinal ou escrita

essa palavra é liberdade

o campo aberto

os braços livres

enfim, a vida!

*João Marques dos Santos, natural de Garanhuns, onde sempre residiu, poeta, contista, cronista e compositor. Teve diversas funções nas atividades culturais da cidade: foi Presidente da Academia de Letras de Garanhuns, durante 18 anos, Diretor de Cultura do Município, foi presidente da Academia dos Amigos de Garanhuns - AMIGA. Compôs, letra e música, o Hino de Garanhuns. Manteve, desde 1995, o jornal de cultura O Século. Publicou quatro livros de poesia: Temas de Garanhuns, Partições do Silêncio, Messes do azul e Barro. João Marques desencarnou em 22 de setembro de 2024.

O homem e a guerra

Jesus de Oliveira Campelo*

Sempre que tomamos conhecimento através dos meios de comunicação de ameaças de guerras, ações terroristas e, que cada vez mais cresce o desejo de países em desenvolvimento de fabricarem armamentos nucleares, químicos e biológicos, voltamos o pensamento para o passado e recordamos os dizeres que foram gravados na Praça da Paz, em Hiroshima, Japão: - "Descansem em paz, o erro jamais será repetido. Amém. -" E, ficamos a meditar! Será  que a humanidade não tem memória? Será que os dirigentes das grandes potências não estão conscientes das consequências que causariam um conflito nuclear de grandes proporções? Se sabem, por que não procuram outros caminhos para resolver os problemas? E, imediatamente vem à nossa mente a lembrança dos macabros acontecimentos ocorridos nos dias seis e nove de agosto de 1945, já no final da segunda guerra mundial, quando as cidades japonesas de  Nagasaki e Hiroshima foram bombardeadas por aviões americanos, com bombas atômicas, - as famosas bombas A. 

Aquelas cidades foram quase totalmente destruídas, e as explosões provocaram devastações e morticínio jamais vistos na história da humanidade. O sofrimento e a agonia desse episódio ainda deverá estar presente nos sobreviventes daquela hecatombe e na memória dos que tomaram conhecimento dele, através dos noticiários e filmes daquela época. Esse acontecimento deveria se constituir numa lição importante para a humanidade, pois, a realidade mostra que a guerra, o ódio e a vingança, só geram: guerra, ódio e vingança e  jamais resolverão problemas. Convém lembrar que as bombas lançadas naquela época eram rudimentares em comparação com as armas nucleares, químicas e biológicas fabricadas atualmente. Apesar dessas evidências, os homens sempre recorrem à luta como juiz final na solução de disputas, predisposição essa que reforça o ponto de vista de que ele é por natureza agressivo.

O homem deveria se espelhar na convivência dos demais membros do reino animal que se contentam, em geral, com demonstrações de agressão e raramente matam seus semelhantes, só o fazendo para se alimentarem; mesmo assim, matando animais de outras espécies. O homem, todavia, parece não ter esse escrúpulo. No seu instinto animal está incluído o comportamento agressivo, o qual é demonstrado em quase todas suas atividades do cotidiano. A perfeição seria o caminho ideal para conduzi-lo ao bem estar ao aperfeiçoamento. Essa bela faculdade que parece se constituir orgulho do homem e o torna tão superior aos outros animais, pela extensão de suas concepções, é, na verdade, mais negatividade que proveitosa em seus resultados, porque geralmente não é utilizada para  proporcionar nem o bem estar nem para manter com equilíbrio a supremacia de suas ações. O animal selvagem nada inventa, mas, em compensação, sua espécie não se degenera.

Recursos maciços têm sido aplicados para incrementar o poder destrutivo das armas de guerra. Os três tipos de armas, química, biológica e nuclear estão sendo desenvolvidas em grau horrífico de poder destrutivo. Se o terrorismo internacional e a corrida armamentista não forem reprimidos, a humanidade correrá o risco de desaparecer do planeta. Por isso, antes de iniciar uma guerra o homem deveria se lembrar desta máxima : - Toda guerra só termina em acordo -, Que os homens que dirigem as nações nunca se esqueçam do que aconteceu ao Japão, nos dias seis e nove de agosto de 1945.

*Jornalista, cronista e membro da Academia de Letras de Garanhuns.

A rosa encantamento


Luzinette Laporte de Carvalho* | Garanhuns, 01/11/2003

Chegou-me por mãos de amizade, vertendo beleza, ternura, permanência

Coloquei-a em um jarro. Ela cresceu, cresceu, cresceu. Agora é uma lua (porque ouro e prata). Mais prata que ouro). Ou um sol? Encantamento. Isso é ela.

A vida oferece beleza. Não me canso de lembrar a afirmação da filosofia: "A beleza é o alimento do amor." Sem alimento o que é vivo, morre. Seja amor, flor, animal, gente. Morre. Necessita, o ser vivo, do alimento. Terra. Água. Sol. Orvalho. Sombra. O homem, bem mais: música, dança, cores, harmonia. Vai buscá-los no seu entorno, natureza, ou no(s) outro(s). Aliás, a música foi captada no marulhar das ondas, no farfalhar das copas das árvores, no canto dos pássaros, no uivo das feras, nas vozes da tempestade, no assobio do vento parece às vezes sons novos -.

O balé, o homem o cria a partir dos movimentos do mar, das folhas, flores. Do andar sinuoso das serpentes e dos felinos. Enfim, a beleza do entorno alimenta o amor. Sem isso, o amor morre. Porque tudo requer presença. Comunicação. Deus é comunicação.

Verbo. Palavra. Daí o Evangelista João iniciar seu evangelho afirmando: "No princípio era o verbo", isto é, a Palavra.

Eis a Sinfonia da Criação: os seres comunicam-se. Lutam, depredam-se entre si, mas não deixam de ter sua linguagem. Depredar é comunicação? Sim, para os seres irracionais. Não para o homem. Este vai bem além. Terá que dominar sem ser animal para criar harmonia. É um mistério fascinante.

Cortar uma rosa da roseira é depredar. Porém, desde que seja para transformar o gesto de violência, para mudá-lo, transfigurá-lo em gesto de amor, comunicação, não é mais. Tudo muda. Tudo é amor.

"Tudo ama. / Tudo ama. / Ama a ave no azul / E o inseto na lama." Sinfonia de amor, a vida ensina, guia, orienta. Mesmo quando parece destruir. A vida, não o homem. A este não lhe é dado o direito de destruir. Porque, criado para o amor, a convivência, a solidariedade.

*Professora, cronista e escritora.

Vida a dois


Dr. José Francisco de Souza* | Garanhuns, 04/07/1981

O mundo em que o jovem situa o seu comportamento psicológico é um jardim suspenso em atitude de espera. Sonho em busca da realidade. Em busca do universo, onde vive o eleito de seu coração

O mundo do jovem e o universo do seu amado sintonizam-se na mesma dimensão. É um estado de espírito purificando vibrações de amor.

Esse profundo sentimento emanado do Perfeito. As divisões não devem ser objeto de cogitação dos que se unem para uma vida a dois. O compasso da espera perdeu a sua atração. Não é mais centro de atenções. O desagradável e muitas vezes decepcionante é a intenção de se prolongar este comportamento pela vida inteira.

Depois surge o entendimento de que a união dos corpos, não é só atração física, é o resultado de uma integração moral. Essa união pode se modificar o pensamento, dando maior conteúdo a vida. Trata-se aqui de um novo tipo de relacionamento em que as pessoas tomam maior importância dentro do seu contexto social.

A constituição da família é o centro de equilíbrio da sociedade. É o sustentáculo de tudo quanto se relaciona e vive nesse esquema. Daí o desejo dos puros sentimentos em unir os dois mundos. Duas vidas que se integram e passam a sentir as belezas do seu próprio universo unificado. Não se deve possibilitar o desencanto. Nem confusão de sentimentos que provoca a fuga. Tudo deve ser claro e nítido. A bondade deve ser retida no mais profundo do coração. Só as águas procuram se perder no mar. As vezes, por falta de compreensão, momentos desagradáveis surgem. Quando isso acontece não se conturbe o coração. Basta indagar quem deu causa e logo o efeito desaparece. O estado de vigília é aconselhável a dois. A mente é muito letárgica não gosta de se modificar. O apercebimento total é o remédio. Memorizar as belas expressões do verbo, das palavras que dignificam, é um contentamento espiritual. 

Deve-se lembrar das expressões que foram talhadas no rosto matinal como se hoje fosse as madrugadas de todos os tempos. Assim a vida será sempre pontilhada de luz da aurora de todos os dias. E as noites não são mais tristes, nem sombrias porque existe em cada uma, um resto de luz da aurora de todos os dias. E as noites não são mais tristes, nem sombrias porque existe em cada uma, um resto de luar e miríades de estrelas nos céus. Assim se conquista a certeza de que é possível dominar as trevas. Sempre se encontra dentro de nós um pouco de esperança. Deve-se manter iluminada o templo do lar para que os filhos vivam cercados de luz. Essa imagem representa a luz crística que existe no mundo interior de cada um de nós.

Os caminhos conduzem os jovens unidos pelo matrimônio às suas mais altas aspirações, que o rebento do amor, para ser apresentado no tabernáculo do Senhor. Eis aqui a glória do primeiro fruto do amor. Ao longo das horas o tempo avança e as distâncias proporcionam muitos alvitres diferentes. A busca de outra dimensão da própria vida indica a verdade de que todos somos peregrinos da eternidade em trânsito para a VIDA SUPERIOR.

*Advogado, jornalista, cronista e historiador.

Associação Garanhuense de Atletismo comemora 95 anos de história

ASSOCIAÇÃO GARANHUENSE DE ATLETISMO (AGA)   - Fundada graças a iniciativa de sete rapazes, com sede inicialmente na Rua Dr. José Mariano, ch...