Ainda sem respostas para perguntas como: quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha? o homem continua até hoje envolvido na dúvida, sobretudo quando se tratam de questões mais complexas, como o princípio e o fim das coisas, inclusive da vida
Mas nos plano do conhecido, concreto, das coisas que compõem o nosso cotidiano, nem sempre o que está posto, dito e propagado corresponde à verdade. Ainda somos tomados, não raro, por opiniões e interpretações que, não sendo procedentes, terminam por dissimular a verdade dos fatos.
Na cena humana existem fenômenos naturais (os da natureza) e os artificiais (criados e inventados a partir das elaborações racionais, onde há lugar para tudo, inclusive mistificações).
Na metodologia científica temos as fontes primárias, aquelas que assistem ao nascimento dos fatos, e as fontes secundárias, que são as informações e interpretações registradas em periódicos, jornais, revistas e outras publicações.
Pois bem, o trio elétrico, antes de tomar a forma e dimensão que aí estão, teve o seu embrião concebido pelas mãos do técnico de som, o paraibano José Monteiro (1906/1974), responsável pela instalação da primeira emissora de rádio da Paraíba, a PRI-4, hoje Rádio Tabajara. Corria a segunda metade dos anos 1940 do século vinte. De forma artesanal, o seu José instala uma vitrola na cabine de um carro Fiat, modelo "topolino", importado da Itália e, com o apoio dos seus dois filhos, então adolescentes, Newton e Nélio Monteiro, projetou o som com as marchinhas da época animando o carnaval de rua do centro de João Pessoa.
Quem conta essa história é o colecionador de carros antigos e psicólogo Fernando Monteiro, sobrinho do seu José Monteiro; ele que, ainda criança, viu nascer esse sistema de som, fornecendo detalhes: "Meus primos tinham a incumbência de, sentados na cabine do veículo, apoiavam com as mãos a vitrola que projetava o som, evitando a interferência da trepidação do veículo, para alegria dos foliões que tomavam as ruas do centro de João Pessoa, principalmente a Rua Nova, hoje Duque de Caxias".
Ainda era tempo do disco de cera, de 78 rotações, e da vitrola a cordas (manual, à base da manivela).
Foi quando Dodô que, à época, trabalhava na Great Western, empresa responsável pelo transporte ferroviário no Nordeste do Brasil, circulando pela região e tomando conhecimento da engenhoca do seu José Monteiro, não teve dúvida, se mandou para João Pessoa e gostou do que viu. Encomendou de pronto um serviço de som semelhante ao do seu José Monteiro e, retornando para Salvador, introduziu lá a novidade sonora. Mais do que isso: ao lado do seu amigo Osmar, recria a engenhoca compondo-a com um terceiro elemento formando a partir daí o que ficou conhecido de canto a canto como o trio elétrico, que tantas alegrias provoca, principalmente para as novas gerações.
Com viola, cavaquinho e guitarra estava garantida a festa, inicialmente pelas ruas da capital baiana e logo mais pelo Brasil afora; hoje dispondo de tudo que se tem direito em termos de modernidade e sofisticação sonora, esses veículos se transformaram em grandes palcos nos quais se apresentam bons e maus artistas em todas as regiões do Brasil.
A pequena diferença é que a engenhoca sonora do seu José Monteiro fora concebida na segunda metade dos anos 1940, enquanto na capital baiana teve início a partir dos anos 1950. Dr. Fernando Monteiro dispõe inclusive de ampla documentação comprobatória dessas informações, como fotografias (preto e branco) e recortes de jornais da época.
*Manoel Neto Teixeira, jornalista e professor, é membro da Academia de letras de Garanhuns.
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