Luzinette Laporte | Garanhuns, 20/11/2003
O sol queima. Oxalá fosse apenas um queimar de pele. Mas é também a queima da terra. A estiagem indo bem além do verão. Não é mais verão. É a seca. Devorando o verde. Extinguindo a vida. Sorvendo toda a água do céu da terra.
Em "Os Sertões", Euclides da Cunha narra a luta que se passa entre as nuvens e a terra. A chuva tenta chegar até os terrenos ressequidos. As nuvens soltam a chuva que deveria regar o solo, porém, sedento, o ar bebe a água toda, a metros e metros de altitude. Evapora aquela que seria a redenção das searas, das colheitas. Seca tudo.
Mas, quando a chuva consegue romper a muralha invisível do ar quente, se chega de verdade, a terra abre-se em flor. São pequeninas flores quase invisíveis, brotos olhando, sorrindo para a gente. Vocês já viram o efeito de uma trovoada no Sertão? Eu vi. É inacreditável. A chuva cai, em torrentes, à noite e, pela manhã já se notam os "olhinhos verdes" a nos mirarem. Sorriem para a vida. Milagre da natureza. Não creio haja alguém capaz de não se emocionar, comover-se, com a pujança da terra que parecia morta.
O sertanejo, sem compreender o ciclo das secas, sai em procissão e roga a Deus que envie a chuva, isto é a vida. Ele (como nós) só tem Deus.
E os poetas clamam também: "Acauã vive cantando, / nas tardes tristes do sertão /, no silêncio da tarde agourando, / chamando a seca pro sertão! /... Teu canto é tristonho e faz medo, / te cala, Acauã, que é pra chuva voltar cedo..." Clamor de sofrimento e morte. Mas há quem cante o verde da esperança: "quando o verde dos teus olhos se espalhar na plantação..." O drama de homem mais corajoso e forte do mundo: o sertanejo. O mais... Aquele que cultiva a esperança, a fé. Resiste em largar seu chão. Rosto calcinado pelo sol e a poeira. Coração em chamas pela família e a terra.
Séculos de insensibilidade. Quem sabe, agora, com a esperança das centenas de cisternas (um milhão, clama-se há anos) o homem não será olhado, reconhecido. Com a descoberta (México, Estados Unidos) da palma como alimento não apenas dos animais, porém do homem também, tudo muda. Que sabe, aprenderemos com Israel a cultivar as frutas dos cactos ( que chegam a custar até 8 dólares cada, no mercado europeu). Vocês já provaram? Eu já. São deliciosas. E foi em São Pedro, aqui bem pertinho de Garanhuns.
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