Perguntaram a KRISHNAMURTI: Que é o Destino?
"Desejais realmente examinar esse problema? Fazer uma pergunta é a coisa mais difícil do mundo, mas uma pergunta só tem significação se vos interessa diretamente, se levais muito a sério. Não tendes notado como muitas pessoas perdem todo o interesse depois de fazerem uma pergunta? Há dias um homem pergunta e, em seguida, começou a bocejar, a coçar a cabeça e a conversar com seu vizinho (de cadeira): tinha perdido todo o interesse. Assim sugiro não façais perguntas, a menos que a tomeis realmente a sério". Agora, começa o raciocínio do Instrutor.
"Este problema do destino é muito difícil e complexo. Vede, quando uma causa é posta em marcha, produzirá inevitavelmente um resultado, um efeito. Se um grande número de pessoas - russos, americanos, ou hindus - se preparam para a guerra, seu destino é a guerra; ainda que alguém que deseja a paz que está preparando apenas para sua própria defesa, apenas, puseram em movimento causas que originam a guerra. Analogamente, quando milhões de pessoas vêm tomando parte, há séculos, no desenvolvimento de uma certa civilização ou cultura, puseram em marcha um movimento pelo qual os entes humanos são colhidos e arrastados, a gosto ou a contragosto; e esse processo em que se é colhido e levado de roldão por determinada corrente de cultura ou civilização, pode se chamar de Destino. Pode-se chamar de Destino...
"Afinal de contas, se nasceis filho de advogado e vosso pai insiste em que também vos torneis advogado, se vos submeteis a seus desejos, ainda que prefirais ser outra coisa, então, evidentemente, vosso destino é ser advogado. Mas, se vos recusardes a ser advogado, se estiverdes firmemente determinado a fazer o que sentis ser correto para vós, ou seja o que realmente gostais de fazer - que pode ser escrever, pintar, ou viver sem dinheiro, pedindo esmolas - se isso ocorrer, tereis saído da corrente, ter-vos-eis libertado do destino que vosso pai traçara para vós. O mesmo se dá em relação à cultura ou civilização".
"Por isso é tão importante sermos educados corretamente - educados, para não nos deixarmos sufocar pela tradição, para não termos o destino de um dado grupo racial, cultural ou familiar; educados para não nos tornarmos entidades mecânicas, movimentadas para um fim pré-estabelecido. O homem que compreende esse processo em sua inteireza, que dele si liberta e fica só, cria o seu impulso próprio; e, se sua ação consiste em libertar-se de falso para conhecer a verdade, então esse próprio impulso se torna a verdade. ESSES HOMENS ESTÃO LIVRES DO DESTINO.
Julgam-se os espíritos e os homens pela sua linguagem. A inteligência longe está de constituir um indício certo de superioridade, porquanto a inteligência e a moral nem sempre andam emparelhadas. Pode um homem, ou um espírito ser bom, afável, e ter conhecimentos limitados, ao passo que outro, inteligente e instruído, pode ser muito inferior em moralidade. São estes princípios que determinam o comportamento de muitas pessoas que se dizem destinadas.
Se pudéssemos receber a correta educação desde a idade mais tenra, criar-se-ia um estado completamente isento de contradição, tanto interior como exteriormente, e não haveria então necessidade de disciplina ou compulsão, porquanto cada um faria as coisas completamente, livremente, com todo o seu ser. As disciplinas só se tornam existentes quando há condição imposta pelos que pretendem dominar em lugar do outro.
Os políticos, os governos, as religiões organizadas querem que tenhamos uma única maneira de pensar, porque, se podem fazer de cada um de nós um completo instrumento de sua vontade.
Dr. José Francisco de Souza (foto) | Advogado, jornalista e historiador | Garanhuns, 12 de Setembro de 1992.
Nenhum comentário:
Postar um comentário