sábado, 19 de agosto de 2023

Terra de gigantes


Clovis de Barros Filho*

São Paulo (SP) - O túnel do tempo me coloca de volta aos anos sessenta. Com certeza os melhores anos da minha vida. Naquele domingo de manhã assistia à missa na Capela do Mosteiro, acho que o ano era 1964. A cerimônia já começara.  Nas missas aos domingos a capela costumava encher de fiéis. O silêncio só era quebrado pelas palavras de Dom Prior e os cânticos gregorianos dos padres que auxiliavam à cerimônia, uma marca registrada até hoje. Eu tinha 13 anos e não prestava muito atenção à missa. Me detinha sempre a olhar as pessoas a minha volta e às vezes dava uma saidinha até a área do lado de fora, olhava a estação, o trem, respirava um pouco do ar fresco e voltava a sentar-me. Naquele domingo já quase no meio da missa um fato deixou a todos, eu inclusive, entre um misto de curiosidade e espanto, com o que presenciamos. Do nada, a capela  foi invadida literalmente  por um "bando de gigantes" sendo que o mais baixinho deveria ter 1, 90 metros e outros passando dos 2,00 m de altura. Ocorreu um murmúrio geral, ninguém sabia quem eram aquelas pessoas estranhas ou de onde haviam  saído. Eles trataram de ocupar os lugares vazios e assistiram a missa até o fim.

Só algum tempo depois, no fim da missa, quando alguns deles começaram a conversar é que ficamos sabendo que eram nada mais nada menos que a Seleção Paulista, (base da seleção brasileira bicampeã mundial de basquete) que iam participar do campeonato brasileiro de seleções, cujo grupo era em Garanhuns. Os jogos iriam ser realizados na quadra do Santa Sofia. Lá estavam Wlamir Marques, Amaury, Succar, Jatir, Menon Mosquito, Rosa Branca  entre outros, todos lendas do basquete mundial. Não precisa nem falar que os jogos foram um sucesso. A seleção paulista ganhou todos os 4 jogos que disputou com escores superior a 80 pontos, fora o show dos craques do basquete. O triste da história era que eu não tinha uma centavo no bolso para comprar o ingresso. A saída? Arriscar pular o muro de mais de 2 metros em todos os jogos, além do risco de ser expulso pelas freiras que ficavam vigiando do lado de dentro. Foi o que fiz. O risco valeu a pena, pois  pouca gente como eu no Brasil teve a chance de ver um time de basquete bicampeão mundial ao vivo em Garanhuns sem pagar um centavo.

*Clovis de Barros filho nasceu na Serra da Prata (Iatecá). Estudou no Colégio Diocesano de Garanhuns do Admissão ao Científico onde concluiu em 1968. Reside em São Paulo desde 1970. É Licenciado e Bacharel em Química Industrial pela Universidade de Guarulhos e Químico Industrial Superior pelas faculdades Oswaldo Cruz - SP.

Foto: Victor, Amaury, Sucar, Rosa Branca e Wlamir - Equipe Campeã Mundial de Basquete em 1963. Créditos da foto: Divulgação/CBB.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Casas comerciais: 10 Portas, atrativa e Brasil Chic

Estes nomes pitorescos de algumas casas comerciais do meu tempo, todas elas situadas na Rua Santo Antônio, a principal de nossa cidade, e on...