segunda-feira, 21 de agosto de 2023

João Fogueteiro

Grande Vultos de Garanhuns - Na linguagem habitual, cultura é atributo de homem culto. Daquele que  tem consciência da origem de seus semelhantes e sabe aplicá-los quando necessários. Para o antropólogo - cultura é tudo o que humaniza e faz o homem crescer - neste sentido todo homem tem cultura. Colocando o problema nesta posição, um camponês tem cultura, tem sabedoria. Ele é o culto que lê na cor das plantas amarelas pelo sol, o que se passa na roça. Que lê na cor da terra os possíveis usos da sua gleba. Lembra o fato que revela o quanto, muitos intelectuais da cidade, devem sentir-se muitas vezes ignorantes que o  primeiro contato com a cultura dos indígenas. Dos indivíduos que vivem verticalmente ligado às raízes telúricas. O ato de posse desses conhecimentos gerais da natureza como sendo da natureza como sendo de todos, decide como poder a razão. A natureza por si mesma e pela variedade das coisas que nascem e crescem dentro do seu reino, desperta em cada criatura, o estado de conservação. O direito de viver e produzir meios adequados. Por força dessas circunstâncias o homem torna-se um criador de amplas possibilidades inerentes à sua substância. Realiza muitas coisas úteis à comunidade. Ora, realizar-se não é cumprir uma  tarefa totalmente, extirpando coisas, mas sim interpor-se no mundo - num processo que não tem fim. Assim a vida torna-se uma alegria constante e não um fardo imposto pelo destino. Todo existir humano que não pode realizar, no  dia a dia, suas capacidades, está fadando à depressão. Está preso às contingências de sua incapacidade de criar condições dignas. O domínio e suas limitações pode ser superado pelos efeitos contínuos de sua vontade de vencer. Essa qualidade é chama inerente a cada ser humano. Assim a criatura tem possibilidade de criar meios de cultuar o belo. A catedral de seus sonhos. Onde  o seu espírito se decide pela construção da beleza. Seja pela palavra escrita ou falada, pela pintura ou pela música. E não é sem razão que procura de boa vontade juntar-se em sociedade com outros que estão unidos, ou pretende unir-se para a mútua convocação da vida artística. Antes de 1887 - quando foi inaugurado a estrada de ferro, não havia banda de música. As festas promovidas por confrarias religiosas eram animadas por  zabumbas e pífanos. As  mais importantes eram abrilhantadas por músicos das cidades mais próximas - como Atalaia das Alagoas. Por isto Manoel Ferreira Rabelo e outros fundaram e nossa primeira Banda de Música "Sociedade 13 de Maio" em homenagem a data da libertação  dos escravos e viveu até o último ano do século XIX - quando encerrou as suas atividades.

João Francisco da Silva (João Fogueteiro) no ano seguinte fundou a "Sociedade Musical Novo Século" e também uma escola regida pelo maestro José Moreira Pimentel.

Assim por iniciativa do velho João Fogueteiro a nossa terra foi dotada da melhor banda de música do seu tempo. Parece que  nascera aqui na terra de Simôa Gomes. Viveu sempre voltado para as grandezas festivas de sua mocidade. Figura respeitável, cuja dedicação ao seu trabalho profissional impunha respeito. O seu comportamento psicológico era de  um homem de alma e coração abertos. manteve-se sempre muito bem relacionado no meio ambiente em que vivia. Pai de numerosa prole, entre os seus filhos destacaram-se pelo amor e dedicação às artes de seu genitor distintos amigos: José Francisco da Silva (Zé Fogueteiro) e Francisco Ribeiro e Silva (Xixi).

Homem modesto e dedicado ao progresso social da nossa terra. Era circunspecto e jovial. Um grande criador das belezas da arte pirotécnica. Animador das grandes e memoráveis festas do Natal. Era de uma  habilidade incrível na arte de soltar balões. Dava impressão de que os balões multicores de sua vida - outros não tiveram a ventura de seguir a apanha-los. Destacou-se pela sua  independência moral e simplicidade de conduta. Espírito amigo e caridoso, gostava de servir aos necessitados. Toda força política do Município rendia  homenagem ao seu talento de  organizador. Foi nos brincos de sua meninice, o mais festejado criador de  lendas. Compadre dos nosso Pais, o nosso velho Clementino tinha-lhe muita estima. Era padrinho do  nosso primeiro irmão: Gabriel. Conhecemo-lo já bem inclinado pelo peso dos anos.

João Fogueteiro como era conhecido: João Francisco da Silva, seu verdadeiro nome. Artista de  alto gabarito, um dos pioneiros da arte pirotécnica entre nós. Viveu sempre para o bem comum. Tradição comovente da honra e da dignidade da família garanhuense. Os dias mais gloriosos de sua existência dedicou-os à nossa sociedade. Residiu até os seus últimos dias na rua Dr. José Mariano, cuja casa por ele construída mudou de feição e de proprietário. Morreu em uma noite de Natal depois de ter se queimado, antes de dominar os ares, o primeiro e o seu último balão. Da catedral para sua casa a distância era pequena. Nos seus olhos mortiços perdurou ainda por muito tempo as  imagens coloridas de seus sonhos de felicidade. Ao lado dos seus amigos e familiares duas últimas lágrimas deslizaram sobre a sua face lívida. Os seus   restos mortais estão sepultados onde não é mais cemitério. Foi um dos vultos da nossa cidade que muito honrou os homens de bem de sua geração.

*Dr. José Francisco de Souza / Advogado, jornalista e historiador / Garanhuns, 21 de abril de 1979.

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