Alfredo Vieira*
Aconteceu que ainda cursava o quarto ano Ginasial, em nosso Colégio Diocesano, quando passei a integrar o corpo redacional de "O Monitor", sob a direção de Genésio Vilela.
Iniciando a série de notas para o referido jornal, na gestão do companheiro Aguinaldo de Barros e Silva, comecei a escrever o "Garanhuns do Meu Tempo", o título deste livro. Na sua edição de 22 de maio de 1976 escrevi o seguinte:
"Volto hoje, às colunas de "O Monitor", com outra roupagem, atendendo a um convite muito amável do seu diretor este formidável companheiro que é o AGUINALDO DE BARROS E SILVA.
Neste Semanário, quando dos seus primeiros dias, comecei o meu aprendizado jornalístico. A convite do seu redator chefe e diretor, o Dr. GENÉSIO SOUTO VILELA, catava informes em nossa já buliçosa cidade e transformava-se em notícias.
Está presente ainda o impacto da surpresa do convite feito por aquele advogado, líder católico do seu tempo e figura de prestígio nos meios políticos de Garanhuns e adjacências. O DR. GENÉSIO VILELA pertencia ao Grupo Político do Garanhuense SOUTO FILHO e o nosso conhecimento perdia-se "na noite dos tempos". O DR. GENÉSIO VILELA, residia na Rua Santo Antônio e quando o meu pai, também advogado e Promotor Público de Garanhuns de 1917 a 1927, estava em atividade, acostumei-me a vê-lo muito moço ainda, saído dos bancos acadêmicos, frequentando assiduamente o escritório do meu pai, ora em consultas aos seus livros, ora na discussão de assuntos jurídicos. O primeiro redator-chefe de "O Monitor", tinha ocupado o posto de Juiz Municipal de Bom Conselho ou de Correntes e deixara a magistratura para entrar na Advocacia. Mais tarde, já formado, no Governo Agamenon Magalhães, voltei a encontrá-lo ocupando uma das Delegacias de Polícia da Capital, de onde saiu para a Magistratura federal, para a Presidência de uma das Juntas de Conciliação e Julgamento da Justiça do Trabalho.
O Dr. GENÉSIO tinha cultura humanística ampla ao lado do saber jurídico necessário para ser bom advogado, e mais tarde, também excelente julgador. Minhas homenagens iniciais, ao sempre lembrado amigo, quando começo a escrever estas quase "memórias", àquele que me chamou e me deu os primeiros passos no jornalismo interiorano.
O nosso "O Monitor" era editado semanalmente e se constituiu órgão oficial da Diocese. Jornal católico, sem compromissos partidários-políticos, o nosso jornal tinha oficinas próprias e se encontrava instalado à Rua do Cajueiro, nos "fundos" da Farmácia dos Pobres, defronte do Armazém da Viúva DILLETIERE. Vinha "O Monitor", preencher lacuna jornalística na cidade, sobretudo por se tratar de "órgão católico", nascido sob a inspiração do Bispo D. MANUEL ANTÔNIO DE PAIVA, que sucedera ao meu padrinho o 1º Bispo de Garanhuns, D. JOÃO TAVARES DE MOURA.
Os presbiterianos tinham o seu jornal oficial. Era o "Norte Evangélico", editado sob a responsabilidade do Pastor NEVILLE. Tinha oficinas próprias e se encontrava instalado na Rua Dantas Barreto.
A atividade jornalística em Garanhuns sempre foi intensa. Lembro o seu mais polêmico jornal: "O Imparcial", de propriedade e responsabilidade do Dr. VICENTE DANTAS FILHO, o Dr. Vicentinho, como era conhecido. Jornal político fazia oposição a certas "pessoas" e certas atitudes julgadas de maneira apriorística pelo seu responsável. "O Imparcial", criou muitos incidentes, envolvendo em um deles figura de prestígio em Garanhuns e motivando a sua suspensão e mudança do seu então Diretor para o Recife. "O Imparcial" circulava aos domingos e às vezes aos sábados. Dependia do "furo" a ser publicado. Algumas edições foram rasgadas nas ruas, outras apreendidas. Garanhuns sempre teve clima político agitado.
Outros jornais apareceram e desapareceram em nossa cidade. Antes de fundar o "Pequeno Diário", o nosso saudoso colega HIBERNON WANDERLEY dirigiu um jornal político que teve vida efêmera. Durou poucos meses, pois a revolução de 1930, mudara o panorama político da cidade e na mudança, o jornal desapareceu. HIBERNON WANDERLEY, professor de humanidades dos nossos Colégios Diocesano e 15 de Novembro, ex-secretário da Prefeitura Municipal em várias ocasiões, fundou mais tarde e dirigiu o "Pequeno Diário" que realmente veio modificar a paisagem do nosso jornalismo.
Outros jornais surgiram e tiveram vida meteórica, porém era o reflexo do entreguismo e da cultura de sua gente. Lembro ainda "O Esporte", jornal semanal editado e de responsabilidade do Esporte Clube de Garanhuns, na Presidência do médico Dr. LUIZ GUERRA, impresso nas oficinas de MANUEL VICENTE DA CRUZ GOUVEIA, o nosso queridíssimo livreiro MANUEL GOUVEIA, na Rua Santos Dumont; fui durante algum tempo o seu Diretor-Gerente.
Este era o panorama jornalístico de Garanhuns, ao tempo de minha adolescência.
*Jornalista, advogado e historiador / 1981.
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