domingo, 20 de agosto de 2023

Eu e a solidão

O Cajueiro
O Cajueiro | Créditos da foto de Anchieta Gueiros

Zé do Lírio

No dia em que eu nasci

O destino apontou para a minha mão

E foi ensinar-me

Os escubrios dos rios da ilusão

Mas eu tenho a obrigação

De romper este embaraço

Fazendo mil aventuras

E todas as aventuras que eu faço

Vem um pincel desumano

E apaga todos os traços que eu traço

Desaventura é o meu ninho

Separada dos amores

Inimigo do carinho

Eu ouço uma voz dizer

Nasceu pra viver sozinho

Eu vou no mesmo caminho

Que seguiu a natureza

Mas eu pergunto a vossa alteza

Qual foi o seu ideal

De me fazer sozinho

Como o sobrenatural

Tantos no jardim do bem

E eu na cabana do mal

Mas é muito natural

Insistir com paciência

Mas, eu quero perguntar

A divina providência

Quem foi que pintou

Esse quadro da minha resistência

A falta de competência

Eu sinto que tenho razão

Por que no momento me falta

Amor e inspiração

As testemunhas da cena

Sou eu e a solidão.

* Zé do Lírio foi um poeta da cultura popular, um mestre da expressão dos sentimentos da dor, da vida e da alma. Brejão,  PE, novembro de 2009. 

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