segunda-feira, 1 de julho de 2024

Lucidez


João Marques* | Garanhuns

O que me encanta é a vida! Aos poucos, vim tendo essa iluminação. Comparo tempos passados, e vejo que então não tinha a percepção de hoje. É como se nascêssemos guardando dentro de si o futuro, que tende a desabrochar oportunamente. Não é simplesmente o tempo, é uma transformação substancial, palpável. Uma eclosão do que, me parece, se encontrava já no ser, compreendida espiritualmente. A evidência é tal, que tudo supera, e dá para sentir que o mundo em volta não é o mesmo. A vida é mais agradável e importante. E fica muito clara a presença divina em tudo, como se percebe o ar, a luz e o movimento. A essa altura da vida, completando 84 anos neste julho, 13, dou-me como ingresso numa nova juventude, onde não se envelhece nem se morre.

*João Marques dos Santos, natural de Garanhuns, onde sempre residiu, é poeta, contista, cronista e compositor.  Teve diversas funções nas atividades culturais da cidade: foi Presidente da Academia de Letras de Garanhuns, durante 18 anos, Diretor de Cultura do Município e, atualmente, é presidente da Academia dos Amigos de Garanhuns - AMIGA. Compôs, letra e música, o Hino de Garanhuns. Mantém, desde 1995, o jornal de cultura O Século. Publicou quatro livros de poesia: Temas de Garanhuns, Partições do Silêncio, Messes do azul e Barro.

José Inácio Rodrigues


O ex-prefeito José Inácio Rodrigues, era filho de
Florência Rodrigues de Oliveira. Nasceu em São Paulo no dia 03 de fevereiro de 1937. Nos primeiros meses de vida sua família veio morar em Garanhuns e ele adotou a Cidade das Flores como sua Terra Natal. 

Professor, advogado, radialista, poeta, escritor, funcionário público, Zé Inácio entrou na vida pública em 1963, quando se elegeu vereador a primeira vez, no pleito em que Amílcar da Mota Valença foi eleito prefeito de Garanhuns. José Inácio ainda seria reeleito em dois mandatos para a Casa Raimundo de Morais e, em 1982 disputou o mandato de prefeito de Garanhuns derrotando seu antigo aliado Amílcar da Mota Valença, que tentava voltar pela terceira vez ao Palácio Celso Galvão.  O Zé do Povo, como era chamado carinhosamente pelos amigos, eleitores e servidores públicos, obteve 8.507 votos, enquanto Amílcar da Mota Valença, teve 5.313 votos. José Inácio Rodrigues, governou a cidade por seis anos, de 1983 a 1988, sendo responsável, entre outras obras, pelo incentivo aos artistas locais, a inauguração da Fonte Luminosa na Praça Dr. Souto Filho  e o pagamento de Cr$ 9.560.940.71 (nove milhões, quinhentos e sessenta mil, novecentos e quarenta cruzeiros e setenta e um centavos) destinado a uma ação de excursão judicial promovida pela Rede Ferroviária Federal do antigo prédio da antiga estação ferroviária de Garanhuns.

Além dos mandatos políticos, José Inácio ensinou nos principais colégios da Suíça Pernambucana, trabalhou no Ciretran, tendo se aposentado pelo Estado e durante muitos anos apresentou o programa Revendo o Passado, na antiga Rádio Difusora, onde abria a atração com o carinhoso bordão, "amigos meus, amigas minhas".

O ex-prefeito José Inácio Rodrigues, teve como sua primeira esposa, Ana Maria Vila Nova Rodrigues, e viveu seus últimos dias de vida na Rua do Magano, 46, ao lado de sua segunda esposa e  grande amor de sua vida, Eliane da Silva Rodrigues. O nosso querido José Inácio Rodrigues deixou a Terra das Sete Colinas no dia 01 de maio de 2012, às 10:30h, no Hospital Perpétuo Socorro, sendo seu corpo velado na Câmara de Vereadores de Garanhuns, onde vários amigos, funcionários públicos, ex-alunos, políticos e autoridades prestaram suas homenagens a um dos homens mais culto, carismático, humanitário e humilde da história educacional e política de Garanhuns.

Clique nos links abaixo e saiba mais sobre José Inácio Rodrigues:

https://bloghistoriadegaranhuns.blogspot.com/2023/08/o-legado-de-jose-inacio-rodrigues.html

https://bloghistoriadegaranhuns.blogspot.com/2023/08/jose-inacio-rodrigues-o-poeta-da-voz.html

https://bloghistoriadegaranhuns.blogspot.com/2023/08/prefacio-do-livro-relendo-o-passado-em.html

https://bloghistoriadegaranhuns.blogspot.com/2023/08/posse-do-prefeito-jose-inacio-rodrigues.html

https://bloghistoriadegaranhuns.blogspot.com/2023/08/governador-paulo-guerra-recebe-titulo.html

https://bloghistoriadegaranhuns.blogspot.com/2023/08/os-zes-de-garanhuns.html

https://bloghistoriadegaranhuns.blogspot.com/2023/07/jose-inacio-rodrigues-talento-toda-prova.html

Francisco Epaminondas de Barros


Dr. José Francisco de Souza* (foto) | Garanhuns, 15 de Março de 1980

Voltamos apreciar a conduta política de mais um dos nossos conterrâneos. Entendemos que qualquer cidadão pode se tornar digno representante de sua comunidade. Sua, porque a comunidade é a soma dos indivíduos. O homem, portanto, deve ser o interprete dos seus sentimentos mais nobres. Começa a manifestação dos sentimentos políticos, neste momento exato. Um partido político não é uma simples agremiação. É sobretudo, uma comunidade intermediária de forças eleitorais.

A sua finalidade é congregar elementos humanos capazes de consolidar o poder emanado do povo. Deve assim, conjugar todas aspirações e participar de  todos os eventos cívicos. O centralismo democrático nasce de baixo como se constrói. Tem que brotar das raízes humanas para poder consolidar o edifício da liberdade. De outra maneira, tem que perecer, por falta de estrutura.

Foto: Da esquerda para a direita: Fausto Souto Maior, Murilo Marques Amorim, Amílcar da Mota Valença, Antônio de Andrade Melo, Dr. Uzzae Canuto, João de Assis Moreno e João Bezerra Sobrinho. No segundo plano: Pedro de Souza Lima, Francisco Epaminondas de Barros, Luiz Pereira Júnior, Aloísio Souto Pinto e o Dr.  Raimundo Atanásio de Moraes. Dr. Celso Galvão foi eleito prefeito e Francisco Figueira  o vice-prefeito (1952-1955)

Democracia não implica liberalismo, mas exige que em todas as partes da sociedade há discussão sobre os meios que se conduza livremente. Sem liberdade de opinião a democracia é um mito. 

Acontece, como agora, abertura para uns não passa de um simulacro de falsa posição. A perspectiva de uma abertura mais ampla, quando levada a certo ponto comparativo se transforma em processo de coerção psicológica. Esta coerção é quase permanente entre os representantes  da elite, rica de formalidades de há muito superadas. A filosofia natural é que o poder é um instrumento de promover o bem público. Todo poder que não protege, tornar-se inconsequente e arbitrária. Tem todas as épocas sempre se fez um levantamento dos valores humanos, já conscientizados. Não é pluripartidarismo mas união de forças positivas. Nestas condições um homem simples pode representar o destino político de sua comunidade.

FRANCISCO EPAMINONDAS DE BARROS - Legítimo representante do Distrito de Miracica. Homem simplesmente informal em todas as suas atividades. Despontou na política já em idade madura.

Ingressou no partido da oposição ao governo. Enriqueceu a legenda da UDN com alguns sufrágios do  eleitorado dos amigos e correligionários seus. Na Câmara foi sempre cordato e partidário em toda a linha. Liderado pelo ilustre médico e homem de letras Dr. Othoniel Gueiros, conduziu-se com muita dignidade.  Por isto ganhou a confiança de todos os seus  eleitores. Nunca foi uma voz, foi sempre uma presença. Gostava muito de ouvir, o seu comportamento era de um homem público digno de respeito.

FRANCISCO EPAMINONDAS DE BARROS - Viveu entre os seus amigos como legítimo filho e representante de uma tradição de homens sinceros e dignos. Casou-se e deixou filhos. Com honestidade conseguira um patrimônio honrado. Privamos de sua amizade, era nosso admirador. A discrição era o seu mais  acentuado traço psicológico. Depois de uma vida de trabalho digno e honrado fechou os olhos para este mundo, ainda relativamente moço. Seu nome é sempre lembrado. Seu retrato consta na galeria dos homens que representaram como vereador, o nosso município. É sem dúvida, um dos vultos da nossa encantadora cidade.

*Advogado, poeta, jornalista e cronista.

Jayme Luna, um amigo solidário

Jayme Luna
Texto de Amaro Costa*

Jayme Luna, funcionário público estadual também jornalista, político socialista dos moderados, mas bastante preocupado com os problemas do povo e seu estado social: moço inteligente, era em termos de datas um verdadeiro computador. Quando lhe perguntava a data de uma ocorrência passada, ele então logo respondia com consciente precisão a data; dia, mês e ano. Luna, pessoa de boa formação,  amigo e solidário nos momentos da aflição, condenava nos governos as injustiças sociais, ditaduras, opressão, lesa pátria e tudo mais. Queria um Brasil livre e independente, com seu povo forte, consciente e competente.

Já nos anos do movimento da Aliança Nacional Libertadora, Jayme Luna ao lado do povo se pôs com valentia e coragem e, mesmo assim, teve que se refugiar em municípios e distritos vizinhos a Garanhuns, em propriedades de amigos, para não ser preso e continuar lutando, escrevendo sem perder a liberdade. Muito jovem ainda lutava com abnegação, sempre ao lado do povo, contra a ditadura e opressão. Sua arma era lápis e caneta. Nos artigos de jornais, sua opinião condenava opressores e  ditadores que ao povo só causam males, infelicidades e tristezas.

Jayme tinha o costume de andar sempre ao centro das ruas, pois temia andar nas calçadas que para ele era perigoso, especialmente à noite. Ele temia os malfeitores que poderiam se amparar nas  esquinas e becos. Precavido, quando a noite era mais escura e a iluminação precária, Jayme tinha o cuidado de se distanciar das calçadas. Nos anos 40, 50 e 60, na cidade da Garanhuns onde nasceu e sempre morou, as ruas eram pouco movimentadas, com poucos carros e daí se poderia transitar com menos cuidado, até mesmo nas artérias centrais. 

Quarta-feira, cerca das 23 horas, de 31 de março de 1964, quando eu conversava com alguns amigos em frente ao Café Central, de propriedade de Sandoval Almeida, quando do outro lado da avenida Santo Antônio, eu via Jayme que  para mim acenou, chamando-me ao seu encontro. Prontamente atendi. Foi aí que me informou do golpe militar que estava em marcha. O general Mourão Filho se deslocava de Minas Gerais para o Rio de Janeiro, com o objetivo de reforçar as ações e "berraria" de Carlos Lacerda que contava também com o apoio do governador de São Paulo, Ademar de Barros. Eu, até aquela hora da noite, não sabia ainda da traição militar à Constituição Brasileira. Os golpistas eram liderados pelo jornalista Carlos Lacerda, na época governador do Estado da Guanabara, atual Estado do Rio de Janeiro.

Logo que Jayme me fez ciente do que estava ocorrendo, me dirigi bastante preocupado para a minha residência. Ao chegar em casa, não demorou, Aarão Braga, seus dois irmãos e mais alguns companheiros chegavam, em um caminhão, para fazer ciente do que  estava acontecendo no País. Dali saímos todos juntos e fomos acompanhar, em vigília, em uma garagem-depósito no bairro da Brasília, em Garanhuns. Junto  com vários companheiros, passamos a noite escutando as emissoras de rádio que divulgavam o desenrolar dos acontecimentos. Para decepção nossa, os governos eleitos pelo povo, tanto a nível federal como estadual - o presidente João Goulart, o governador Miguel Arraes e outros, não se dignaram a oferecer a mínima resistência aos golpistas. O Presidente da República fugiu, o nosso governador Arraes foi preso e os que neles votaram, muitos que em vigília ficaram, foram procurados, perseguidos, presos e torturados. Muitos desses até a morte. Hoje resta o monumento "Tortura Nunca Mais" que serve de tema para os caçadores de votos em época de eleições.

Esquecer Jayme eu não esqueço. Valeu muito a sua contribuição pela luta de um Brasil livre e independente. Contribuição esta que não podemos deixar de reconhecer e que foi de grande valor político e social. E mais: Jayme lutou e se expôs em época de grande e terrível discriminação política e ideológica. Em períodos de regimes ditatoriais, como nos 15 anos dos governos de Getúlio Vargas e no golpe militar de 1964, que se prolongou por quase 20 anos, deixando muitos mortos, viúvas e crianças sem pais, inúmeros desaparecidos que até hoje não se sabe se estão vivos ou onde foram enterrados. Até os governos democratas de hoje silenciam. Quem sabe, pois se até hoje só existe democracia para os que  gozam do poder econômico. Tomara que um dia nosso povo possa ser feliz vivendo em uma democracia do  povo para povo. Jayme, meu amigo, que Deus o tenha em bom lugar, aqui será sempre lembrado.

*Amaro Costa, alfaiate aposentado, foi vereador em Garanhuns e membro do PCB - Partido Comunista Brasileiro.

Texto transcrito do jornal O Século de Setembro de 2002.

Retratos de Garanhuns


Obra do Artista Plástico João Oliveira em homenagem a Garanhuns. Buscando retratar a ligação: Natureza e Divindade, com Anjos Arcanjos e a Fonte, simbolizando as Águas Minerais deste Município | Créditos da foto: Anchieta Gueiros | Julho de 2021.

Retratos de Garanhuns

Parque Ruber van der Linden (Pau Pombo)

Parque Ruber van der Linden (Pau Pombo) | Créditos da  foto: Anchieta Gueiros | Setembro de 2020

Retratos de Garanhuns

Parque Ruber van der Linden (Pau Pombo)

Parque Ruber van der Linden (Pau Pombo) | Outubro de 2021 | Créditos da foto: Anchieta Gueiros.

Valter Vieira de Araújo

Valter Vieira de Araújo

Nascido em Bom Conselho - PE, em 1930, veio residir em Garanhuns, com 14 anos de idade, sendo aluno do Colégio Diocesano, concluindo o curso de Contabilidade, tendo como diretor o Mons. Adelmar da Mota Valença, nos idos de 1953.

Trabalhou no comércio e depois como comerciante presidiu a Associação Comercial de Garanhuns durante 3 anos, presidiu a Associação dos Ex-Alunos do Colégio Diocesano, participante do Rotary e diretor de vários clubes sociais da cidade das flores. A sua veia artística surgiu através de um grupo de senhoras de Garanhuns, à frente a empresária Marly Couto, sendo lançado como pintor retratista fazendo grande sucesso.

A sua 1ª exposição individual ocorreu em 1970, no Salão de Arte do Hotel Tavares Correia, patrocínio da Casa da Amizade, do Rotary local, em seguida no Clube de Engenharia de Pernambuco, galeria Águas Verdes, centro Cultural de Garanhuns, Universidade de Campina Grande, Museu do Açúcar de Pernambuco, Liga Auxiliar da Comunidade, em Natal, Palácio da Abolição, Fortaleza, Clube Baiano de Tênis, Salvador, Sociedade Mineira de Engenharia, Belo Horizonte, entre outros locais em todo o Brasil. 

RETRATOU NOMES FAMOSOS

Iniciou em Garanhuns nos anos 70 retratando Marly Couto, Edjenalva Amaral, 1ª dama do Município, Mons. Adelmar Valença, e ainda Hilda Faria Lima, Marta Rocha, Glorinha Sued, Janete Clair, Léa Pabst Craveiro, Mécia Oiticica, e centenas de senhores recebendo os maiores elogios.

No mundo político sua produção foi marcada através de retratos do governador Virgílio Távora, ministro César Cals, deputado federal Flávio Marcílio, senador Nilo Coelho, jornalista Adolfo Block, jurista Orlando Gomes, Assis Chateaubriand para o salão de artes dos Diários Associados do Ceará.

Em 1980 comemorou 10 anos de sucesso retratando a alta sociedade brasileira, através de uma exposição, que recebeu o registro dos principais jornais e revistas do País, através de famosos colunistas, professores de artes e críticos numa prova da repercussão do seu trabalho, iniciado em Garanhuns e levado ao Brasil através do seu esforço reconhecido por todos.

Valter Vieira de Araújo recebeu o Título de Cidadão Honorário de Garanhuns, em sessão solene realizada na Câmara dos Vereadores, projeto de autoria do então vereador Antônio Edson.

Durante muitos anos realizou as decorações dos tradicionais carnavais da AGA, e também do centro da cidade, inclusive nas épocas natalinas.

Valter Vieira faleceu em um sábado, 19 de dezembro de 1992, em Curitiba.

Foto: Valter Vieira de Araújo.

Borborema e seus discursos

João Marques
João Marques | Garanhuns

Quando ainda não era eleitor, eu prestava muita atenção nas campanhas eleitorais. Para nós, meninos, era mais uma festa de tempos em tempos. Os comícios tinham atração espetacular, como nos circos que duravam pouco tempo. Os retratos dos candidatos em preto em branco, espalhados pelas paredes, chamavam-me muito a curiosidade, porque não se pareciam com os verdadeiros rostos conhecidos. Nas fotografias, muito sérios e engravatados, davam uma aparência imponente. Essa imagem se desmanchava nos meus olhos, vendo-os nos cafés da cidade, à vontade, homens com cacoetes, comuns como todo mundo. Na minha observação de menino, era aquilo uma fantasia dos homens, como nos três dias de carnaval, quando os via novamente abraçados com os pobres, em plena euforia.

Não entendia porque eles se agrediam mutuamente, pois queriam todos trabalhar em benefício da coletividade. Os discursos longos e cheios de expressões já conhecidas. Achava graça em certos candidatos que falavam como se estivessem com raiva. Cuspiam o microfone e gesticulavam o tempo todo, até de punhos fechados. E o "Zé Povinho", os que se posicionavam bem perto do coreto, gritando "Já ganhou! Já ganhou!". Outros gritavam, em meio ao coro, "Reganhou! Reganhou!" Era como se fosse uma vingança...

Um bêbado, era engraxate, que sempre vivia embriagado e sujo de graxa, gostava de fazer discursos políticos pelas calçadas. Fazia-os bem! Muita gente parava, para escutar e sair rindo. Mesmo depois das eleições, ele fazia as falações, também longas e cheias de promessas. Ninguém se importava, se estivesse incomodando, porque além de bêbado o seu discurso era político. Era "Borborema". Figura popular, digno de figurar na memória, por seu jeito descontraído de viver, pela sua profissão de engraxar, mas sobretudo, pela sua voz de invejável diapasão. Punha-se no alto de uma calçada e, sempre abrindo os braços, repetia as promessas dos candidatos (muitas vezes já eleitos),  com as frases feitas do discurso comum a todos. O que era mais constante em "Borborema" era uma profunda admiração, mas que isto, uma grande fidelidade ao deputado Elpídio Branco. Quando estava muito bêbado, ficava a repetir continuamente o nome do parlamentar de Garanhuns: "El... pídio Bran... co!" A primeira sílaba, pronunciava de uma forma que só ele sabia. Um "EL" rouco, alto,  com eco. Só "Borborema"! Só ele pôde, como nenhum político daquela época, fantasiar os meus olhos de promessas. Hoje me lembro mais do bêbado. De Elpídio Branco, o charuto que sempre estava na boca. E o ambiente era o "Café Central". Noutro canto, "Borborema" falava e tomava cachaça. Lembranças que ficaram na urna de minha memória.

Eleitor, nunca mais fui a comícios. "Borborema" morreu. A televisão veio, acendendo as caras dos candidatos. A atração, agora, é mais tecnológica. Os candidatos continuam com os mesmos discursos... Mentem melhor, porque os problemas se multiplicaram e é muito mais fácil iludir os famintos.

Eleitor, eu voto, como o menino que fui, solidário   à esperança do povo. É tudo mentira, mas é possível que alguma coisa saia certo. Ou, quem sabe, nos tempos futuros, outras crianças assistam a campanhas verdadeiras, com novos discursos... Outros "borboremas" não estarão iludidos, como engraxates, falarão palavras novas e o discurso será de todos. Todos terão direito a urna, que  oferecerá casa, saúde, escola e comida.

Tem nada não, Borborema! A razão triunfará e o seus discursos serão ouvidos, lúcidos, como promessas legítimas de políticos.

*João Marques dos Santos, natural de Garanhuns, onde sempre residiu, é poeta, contista, cronista e compositor.  Teve diversas funções nas atividades culturais da cidade: foi Presidente da Academia de Letras de Garanhuns, durante 18 anos, Diretor de Cultura do Município e, atualmente, é presidente da Academia dos Amigos de Garanhuns - AMIGA. Compôs, letra e música, o Hino de Garanhuns. Mantém, desde 1995, o jornal de cultura O Século. Publicou quatro livros de poesia: Temas de Garanhuns, Partições do Silêncio, Messes do azul e Barro.

Retratos de Garanhuns

Abril de 2016 | Lançamento do livro "Memórias de Garanhuns - Crônicas Escolhidas", realizado na festa de dois anos do jornal 'O Columinho'. Da direita para a esquerda Roberto Maranhão, Walter Santana, Ivo Amaral, Lígia Beltrão, Edjenalva Amaral e Anchieta Gueiros

Augusto César diretor do jornal O Columinho criou um troféu para ser entregue a alguns garanhuenses que se destacaram, principalmente na área de comunicação. A comenda recebeu o nome do radialista e jornalista Lúcio Mário, que durante muitos anos exerceu sua profissão em veículos como a Rádio Jornal, O Monitor, FM Sete Colinas, dentre outros. Lúcio Mário pai de Augusto César.

O Columinho editou o livro com crônicas de três escritores de Garanhuns: Marcílio Reinaux, Lígia Beltrão e José Hildeberto Martins. O lançamento foi realizado no Garanhuns Palace Hotel.

Valter Vieira é homenageado com nome de Praça em São Paulo

Valter Vieira e Ivo Amaral

Nascido em Bom Conselho - Pernambuco, em 11 de julho de 1930, veio residir em Garanhuns, com 14 anos de idade, sendo aluno do Colégio Diocesano, concluindo o curso de Contabilidade, tendo como diretor o Mons. Adelmar da Mota Valença, nos idos de 1953.

Trabalhou no comércio e depois como comerciante presidiu a Associação Comercial de Garanhuns durante 3 anos, presidiu a Associação dos Ex-Alunos do Colégio Diocesano, participante do Rotary e diretor de vários clubes sociais da cidade das flores. A sua veia artística surgiu através de um grupo de senhoras de Garanhuns, à frente a empresária Marly Couto, sendo lançado como pintor retratista fazendo grande sucesso.

A sua 1ª exposição individual ocorreu em 1970, no Salão de Arte do Hotel Tavares Correia, patrocínio da Casa da Amizade, do Rotary local, em seguida no Clube de Engenharia de Pernambuco, galeria Águas Verdes, centro Cultural de Garanhuns, Universidade de Campina Grande, Museu do Açúcar de Pernambuco, Liga Auxiliar da Comunidade, em Natal, Palácio da Abolição, Fortaleza, Clube Baiano de Tênis, Salvador, Sociedade Mineira de Engenharia, Belo Horizonte, entre outros locais em todo o Brasil. 

RETRATOU NOMES FAMOSOS

Iniciou em Garanhuns nos anos 70 retratando Marly Couto, Edjenalva Amaral, 1ª dama do Município, Mons. Adelmar Valença, e ainda Hilda Faria Lima, Marta Rocha, Glorinha Sued, Janete Clair, Léa Pabst Craveiro, Mécia Oiticica, e centenas de senhores recebendo os maiores elogios.

No mundo político sua produção foi marcada através de retratos do governador Virgílio Távora, ministro César Cals, deputado federal Flávio Marcílio, senador Nilo Coelho, jornalista Adolfo Block, jurista Orlando Gomes, Assis Chateaubrian para o salão de artes dos Diários Associados do Ceará.

Em 1980 comemorou 10 anos de sucesso retratando a alta sociedade brasileira, através de uma exposição, que recebeu o registro dos principais jornais e revistas do País, através de famosos colunistas, professores de artes e críticos numa prova da repercussão do seu trabalho, iniciado em Garanhuns e levado ao Brasil através do seu esforço reconhecido por todos.

Valter Vieira de Araújo recebeu o Título de Cidadão Honorário de Garanhuns, em sessão solene realizada na Câmara dos Vereadores, projeto de autoria do então vereador Antônio Edson.

Durante muitos anos realizou as decorações dos tradicionais carnavais da AGA, e também do centro da cidade, inclusive nas épocas natalinas.

Valter Vieira faleceu em um sábado, 19 de dezembro de 1992, em Curitiba.


Viagem


João Marques | Garanhuns

Eu gosto dos caminhos

dos avistamentos e das chegadas

gosto dos sapatos

de quando vou

e estou sempre chegando

como na ladeira

de frente de casa

lá o que era bom chegava


a subida indica sempre

uma maior descida 

e eu toda a vida

me achei mais completo

no sobe e desce

das ladeiras da existência

tudo isso, no tempo certamente

é só descida...

é só chegada

de que se pensa

apenas ser partida.

Um problema


Por Edson Mendes

Em 13 de abril de 1970, o comandante Jim Lovell, da missão Apolo 13, avisou à base: “Houston, temos um problema”. Uma explosão num tanque de oxigênio ocorrera no modulo de serviço, onde ficam as células de combustível e os suprimentos de viagem. A missão foi abortada. Orientando-se pelas estrelas, alavancados pela gravidade lunar, auxiliados pelo pessoal de terra, os náufragos conseguem retornar e pousam a nave, a 17 de abril, no Oceano Pacifico. Vivos.

O Estado de São Paulo, em 16.06.2024, que por analogia e similaridade topográfica nos faz lembrar essa quase tragédia ocorrida no espaço, repete-nos hoje o aviso singular: temos um problema.

Refere-se o editorial à entrevista concedida pelo presidente do Supremo Tribunal Federal ao Programa Roda Viva, da TV Cultura, na qual nos ensina, a certa altura: “Há incompreensão, percepção equivocada de que ministros do Supremo sejam disponíveis a qualquer influência”. “É um equivoco achar que as pessoas chegam a essa altura da vida disponíveis a qualquer tipo de sedução, como uma passagem para ir à Europa ou um hotel de qualidade. A maior parte das pessoas que está lá tem condições de ir sem ser convidada”.

Diz o Editor: A liturgia do cargo é cada vez mais irrelevante. Tudo se passa como se não houvesse conflitos de interesse objetivos e comportamentos inadequados a priori. Ministros promovem “fóruns” na Europa bancados com patrocínio de empresas com problemas no STF. Ou seja, como os juízes podem bancar seus luxos, não há problemas quando terceiros os bancam... Não é esse, contudo, o entendimento do Código de Ética da Magistratura, que exige que o juiz evite “todo o tipo de comportamento que possa refletir favoritismo, predisposição ou preconceito”.

Prossegue o Editor: Se alguém, por exemplo, questiona a idoneidade de ministro por suspender multas de uma empresa que tem entre seus defensores ex-juízes e parentes, até a esposa, há de ser por mera “implicância”... “Não há como você regular a vida privada de uma autoridade pública”, diz o presidente. De novo, não é o que entende a Lei da Magistratura, que exige que os juízes não só ajam com independência, mas tenham “conduta irrepreensível na vida pública e na privada”.

Em 2014, continua, o Congresso Nacional aprovou regra prevendo impedimento de juiz quando a parte for cliente do escritório de advocacia de algum parente seu. Mas em 2023, numa ação da Associação dos Magistrados, o STF decidiu ser este um preconceito intolerável pela Constituição. Cinco dos sete ministros que votaram pela inconstitucionalidade têm parente na advocacia. O presidente não vê necessidade de um código de ética para regular conduta dos ministros, donde se supõe que não vê condutas antiéticas a serem reguladas. A sociedade que se satisfaça com a convicção do magistrado sobre seu próprio caráter. E conclui: Quando chefe do STF assim entende a Justiça “cega”, e não vê problema se juízes se relacionam com empresários, negociam indicações e julgam casos de escritórios de advocacia de parentes, a sociedade tem um problema.

Os homens íntegros, como o sr. presidente do STF, também estão sujeitos às idiossincrasias humanas. Deles, todavia, depende o enfrentamento do mal, que hoje se alastra por tantas outras instâncias onde prospera o império dos sentidos.

No Estado do Rio Grande do Sul, por esses dias, padecemos todos vitimas da natureza, da negligencia, da incompetência e das paixões. No Recife, na Bahia, no Pantanal, nas prisões, nos hospitais, nas escolas, nas ruas, nas praças, de norte a sul, todos os dias o desastre, material e moral, nos sorri com seus dentes de sabre. O que se espera, dos homens justos, é que sejam justos. Dos bons, que sejam bons. A leniência com os privilégios, o crime, a desídia, o dolo, a incompetência, velha de tantos tempos, nos fere, nos maltrata, nos mata.

Mas não mata a esperança. Se a outras nações, um dia também miseráveis, foi possível combater seus males e prosperar em busca da felicidade, nós todos aqui temos o direito, e alguns o dever, de também prosseguir.

A Ética nos ensina o que é felicidade. A Política, como obtê-la. Os lideres, bons e justos, injustos ou maus, é que são os condutores. Eles sabem, todos sabem, que a Ética é o principio. Porque o povo, que banca o Estado, não é apenas contribuinte. Acima dos Poderes da República, e dos interesses particulares, há que estar o bem comum.  Aos justos e aos bons, e aos poucos, e aos muitos, cabe decidir sobre os meios e os fins. Com discernimento, caráter, competência, integridade, bondade, generosidade, amor, coragem.

Sabe o leitor, e dizem os jornais, as gazetas e os pasquins, o que se passa por aqui, ao rés-do-chão, em nosso módulo terrestre. Resta-nos rogar por clemencia às instâncias superiores. Mas, se nos faltam, às estrelas... O que mais se pode fazer? Os náufragos do espaço, agonizantes, precisaram filtrar o gás carbônico produzido pela própria respiração. Para isso, encaixaram um filtro quadrado em um tubo cilíndrico...

Anchieta Gueiros e familiares no Sítio Mamoeiro nos anos 2010


Anchieta Gueiros no Sítio Mamoeiro (Baixa da Lama), Brejão - Pernambuco


Da direita para a esquerda: Ulisses Roncalli (irmão), Anchieta Gueiros e Luís Gueiros (Luisinho).


Ulisses Viana de Barros e Anchieta Gueiros


Pedro (sobrinho) e Anchieta Gueiros


Anchieta Gueiros e Pedro (sobrinho)


Anchieta Gueiros e Karina (prima)


Anchieta Gueiros e Ulisses Viana de Barros


Anchieta Gueiros e Simone (irmã)

Anchieta Gueiros no Sítio Mamoeiro nos anos 2010


Pedro (sobrinho), Ryan (neto) e Anchieta Gueiros


Pedro e Ryan


Karina, Cristiane, Caline, Anchieta Gueiros. As crianças Pedro  e Igor


Cristiane, Anchieta Gueiros e Karina


Anchieta Gueiros e Pedro (sobrinho)


Anchieta Gueiros e Pedro (sobrinho)

Lucidez

João Marques* | Garanhuns O que me encanta é a vida! Aos poucos, vim tendo essa iluminação. Comparo tempos passados, e vejo que então não ti...