segunda-feira, 25 de novembro de 2024

Floresta agonizante

Genivaldo Almeida Pessoa

Genivaldo Almeida Pessoa

Antes...

Terra de índios valentes

Que habitavam a mata virgem,

Que amparavam, animais, árvores e rios,

Guerreiros e, mais ninguém...


Tupã Deus indígena

Mandava-lhes forças do além...

Contra qualquer invasão

Às suas terras sagradas...


Os rios de águas límpidas

Corriam serenas pela floresta,

Sem quem tombasse

Uma só árvore ao chão...


Terra de tribos e lendas...

Amazonas era uma só festa

De animais e plantas nativas,

Templo do verde e da vida...

Que protegia com força e fé

Toda raça de animal tal como Arca de Noé...


Ninguém sentia que um dia,

O próprio homem com ambição

Destrói o seu mundo...

O Amazonas sem vida

E a terra sem seu pulmão,

A esperança esquecida, em cada árvore caída,

Que o machado lhe leva ao chão...


O homem sucumbe em sua última "quimera"...

As queimadas ardentes

Que destrói tudo na frente...

É fogo!

E o inferno que lhe espera...

Garanhuns | 2008.

Capacidade do ser humano

Cassimiro Raimundo | Sítio Aguazinha, Iati - PE | Setembro de 2019 | Créditos da foto: Anchieta Gueiros

Só os que se integram como entidade possuem visão altamente qualificada, se queres a paz prepara o teu mundo para paz 

A capacidade de determinação importa ao conhecimento do próprio indivíduo como ser atuante. A nossa fonte de informações se nos apresenta defasada. Não há identidade no tempo e no espaço. O nosso apercebimento não alcança os efeitos da sublimação. A natureza das coisas é rica em si mesma. Vivemos a esperar os meios do entendimento. A dificuldade nos invade. O pensamento se nos aflora de modo negativo. Esse estado estabelece um bloqueio  mental muito fechado.

O homem precisa acreditar de que é capaz de criar o seu próprio destino. O que não deve ser considerado como determinismo inevitável. Ao contrário, a nossa volição de vontade determina normas de conduta apreciável. Modalidade de encontro com as nossas raízes. Teremos de  ser acessíveis ao conjunto de reflexos do nosso mundo interior.

É uma maneira específica de objetivar todos os nossos segmentos. Nesse contato o nosso universo intelectual se renova aprioristicamente. O momento que vivemos não passa e nem fica. Transforma-se em novo símbolo do eterno presente. A nossa personalidade como produto do meio é muito mutável. A mente humana tem que se modificar. Tem de pensar com muita sutileza. Essa percepção não é meio de fuga. É uma realidade plena.

Esse estado mental é positivo, não busca proteção às sombras ocultas de um passado morto. Vive sempre com muita intensidade o dia de hoje. Só os que se integram como entidade possuem visão altamente qualificada. Nessa circunstância observam a distância logo vencida. Não há separação. O espaço é ocupado por miríades de vidas em perene transformação. É o destino traçado pelo espírito superior em autodeterminação.

As influências até certo são surpreendentes. Só não terão nunca capacidade de decisão. Os homens superiores sempre superam o meio. O que não implica em isolamento. E sim em ato de decisão. Para medir a dimensão de ordem psicológica desses reflexos é preciso não ficar repetindo como o estático no meio do dinâmico. A superioridade nesse sentido, não pode ser do econômico e nem depende de cargos elevados. Essa grandeza é do próprio ser, visto como elemento superior.

A sua preocupação maior é simplesmente existir. Viver para ele representa uma vitória completa, enquanto outros não passam a ocupar o seu lugar. Esse raciocínio é complexo porque é simples. Os que gostam de complicar as coisas são incapazes de entendê-las. O mundo é o que nós somos. A presença do explorador,  e a personificação de um mundo em que  a fome exerce o seu predomínio. Se queres a paz prepara o teu mundo para paz.

Há certas circunstâncias que por sua natureza se conclui que não se deve aplicar à imagem das coisas, uma ideia do bem e do mal que não seja tirada de suas relações. Elas podem ser boas em relação ao todo, apesar de difíceis em si mesmas. Aquilo que concorre para o geral pode ser um mal particular, em relação ao todo, ao qual há possibilidade libertar-se quando possível. Quando se trata de racionar  sobre a natureza humana, o verdadeiro filósofo não o ornamento dos poderes, é sobretudo, o Homem. O espírito encarnado que em nós vive.

A nacionalidade do homem superior é um triunfo de sua capacidade em ação. O homem de gênio não se limita e pensamentos  determinados pelas consequências das necessidades humanas. Tudo isso é muito vulgar e circunscrito. A entidade é uma pessoa portadora das mais amplas vontades de criar no Eterno. O seu  mundo não se limita. A limitação não tem capacidade no sentido de dignificar a função do mundo superior.

Esses conceitos não podem ser temática fácil à mentalidade política. Não se entende política sem o social, nem o social sem equidade humanística. O desenvolvimento dos que se posicionam em sentido contrário não tem eficácia. Os partidos se conjugam sem definição programática. Não existe filosofia de vida nem alta indagação. Tudo passa a se repetir consoante interesses dos chamados líderes.

Se os grupos fossem verdadeiramente sintonizados em princípios de sistematização democrática, talvez o mundo do político e social e econômico fossem estáveis e seguros no sentido do bem comum, do bem de todos os seres que agem, sentem e pensam com dignidade. O homem que assim procede o seu contingente mental é diferente. O seu socialismo não tem laços da obrigação do consenso de  correligionários sistematicamente convencidos que deverão ser herdeiros do espólio político.

Sem o respaldo da opinião pública, sem o consenso dos movimentos de opinião da vontade livre, qualquer esperança de vitória eleitoral é uma temeridade. (Dr. José Francisco de Souza | Garanhuns, 28 de novembro de 1987).

Os rumos da humanidade


Jesus de Oliveira Campelo | Garanhuns

Se compararmos o comportamento da humanidade de hoje com de décadas passadas, vamos verificar que existe uma grande diferença no sistema de vida de cada época. No passado, buscava-se a felicidade através do sucesso de suas atividades sem ser molestado pelos problemas oferecidos por este mundo globalizado.

Em diversos aspectos, a terra parecia um verdadeiro paraíso e os seus habitantes eram bem mais humanos. Hoje, a humanidade vive cercada de luzes, de poluição, perigos por toda parte, de pânico, no meio do caos, os homens querendo ganhar cada vez mais, produzir cada vez mais, apoderar-se do poder de qualquer maneira, assaltos, sequestros, criação de novas tecnologias etc.

Além do mais, o atraente mercado de consumo transforma o indivíduo num compulsivo consumidor. Resultado: O homem vive estressado, ou seja, tem as portas abertas para todo tipo de doenças.

Como é sabido, o estresse é uma coisa boa, pois está ligado à emoção de coisas e traz energia. É um processo de fabricação de hormônios estimulantes que nos deixa de repente eufórico ou capazes de não sentir dores em uma hora de risco. É um recurso extremo do organismo para se por a salvo.

O grande problema, todavia, é quando o estresse se torna crônico. Se isto acontecer, ele se transformará num inimigo capaz de minar a saúde. É, pois, de suma importância saber conter a ânsia e controlar a preocupação no momento em que se pretende realizar ou resolver alguma coisa.

O ser humano não deve se isolar ou simplesmente condenar o progresso do mundo moderno, mas pode adotar atitudes e comportamentos que lhe conduzam aos caminhos da felicidade e lhe restituam a tranquilidade e o bem-estar tão necessários ao equilíbrio da vida...

Para amenizar essa situação, deve-se valorizar quatro coisas que não se compram, mas que estão sempre ao alcance e à disposição de quem deseja ser feliz: saúde, paz, felicidade e meditação.

A saúde é adquirida ou preservada através da adoção de medidas simples, mas que têm um poder extraordinário na vida do ser humano; Uma alimentação balanceada, atividades físicas permanentes, principalmente caminhadas diárias, relaxamento, meditação e um sono adequado e reparador.

A paz de espírito é obtida quando o homem começa a conhecer-se melhor, a se libertar do egoísmo, da vaidade e enxergar a vida como uma oportunidade que lhe foi oferecida pelo Criador para caminhar pela trilha do progresso material e procurar, a cada instante, conhecer os caminhos da vida espiritual.

A felicidade é um estado de espírito. Para alcançá-lo, não é necessário que se tenha grandes riquezas, poder ou elevada posição social ou política; Basta saber  valorizar a vida, procurar conhecer os segredos da natureza e do universo, viver em paz com a consciência, amar ao próximo e conhecer os poderes de Deus, o supremo criador de todas as coisas.

A meditação é de suma importância na vida do homem. Aprender a refletir sobre os momentos vividos, sobre o seu comportamento na sociedade e diante da família, delinear as programações futuras, enfim; criar um fórum de debates íntimo onde sempre prevaleçam nas decisões, o bom senso, a simplicidade, a justiça e a verdade.

Devemos aprender a viver e a usufruir os momentos maravilhosos que a vida nos oferece, porque eles estão passando a cada instante e nunca mais voltarão. Procuremos, pois, viver intensamente este acontecimento grandioso que nos foi dado para o nosso progresso.

domingo, 24 de novembro de 2024

Prefácio do Livro "Terra Molhada" de Waldimir Maia Leite

Gilberto Freyre
Gilberto Freyre | Setembro de 1984

Em Waldimir Maia Leite o que particularmente me encanta é o seu a-vontade na expressão jornalística conciliado igual a-vontade na expressão criativamente literária. Conciliação nem sempre atingida por candidatos a se realizarem como anfíbios intelectuais dessa espécie. Dessa rara e difícil espécie.

Publicado em livro, o jornalista admirável que foi Costa Rego, não deu certo. O leitor não encontrou no livro do jornalista o calor, a vibração, o gosto imediato de atualidade, que  se acostumara a admirar nos seus artigos de jornal. Talvez pressentisse que lhe sucederia o mesmo, Assis Chateaubriand quando permitiu que os amigos, admiradores devotados, reunissem em livro seus artigos impressionantes como expressão jornalística. Já sucedera com seu livro, o de sua mocidade, Na Alemanha, não ter correspondido ao êxito dos seus  primeiros e sensacionais artigos de jornal.

Livro é livro e jornal é jornal. Raros os anfíbios que têm triunfado num e noutro.

Waldimir Maia Leite
É o caso de Waldimir. Domina as duas formas de expressão e tanto encanta quem o lê em livro como quem o saboreia matinalmente em jornal.

Em sua expressão jornalística deixa, por vezes, entrever que é ensaísta literário. Mas a sua afirmação como ensaísta literário é especificamente literária.

O caso como que clássico do inglês Gilbert K. Chesterton. Nenhum triunfo maior, no jornalismo do seu tempo. Mas a esse triunfo juntou o de ensaísta literário em temas, até,  de sabor filosófico. A sua biografia de Browning - o mais complexo, denso, filosófico, sem deixar de ser lírico, dos grandes poetas de língua inglesa - que o diga. O mesmo carisma do jornalista em expressão de modo algum jornalística: especificamente literária. Mas especificamente literária sem que o carismático Chesterton deixasse de ser o carismático Chesterton. O inconfundível Chesterton. O mestre de uma simplicidade de  palavra que não resvalava nunca em simplismo.

Anchieta Gueiros | História de Garanhuns e do Agreste
O caso atual de Jean d'Ormesson em língua francesa. O de Julián Marías em língua espanhola. Julián Marías, como continuador de uma tradição espanhola que teve em Miguel de Unamuno uma de suas expressões máximas de conciliador de expressão jornalística com expressão literária. Atualmente, no Brasil, o caso de Josué Montello, depois de ter sido, de modo inesquecível, o de João do Rio.

Waldimir Maia Leite vem se revelando anfíbio dessa rara espécie. Em livro é de palavra tão sugestiva como em jornal. Em jornal, entretanto, essa palavra é jornalística e nunca aliteratada. Em livro é literária: sem a mínima tendência para subordinar-se a um atualismo tal que a ditasse de todo.

O escritor literário precisa de não condescender com essa espécie de atualismo à procura de popularidade. A popularidade procurada é sempre precária. Tanto o jornalista como o escritor literário precisam de não resvalar no popularesco com o fim de se tornarem populares.

Em Waldimir Maia Leite, o gosto pela palavra magicamente simples é um gosto que não se confunde com vulgaridade. Há nele um quase instintivo repúdio à vulgaridade. Seu  gosto pela palavra magicamente simples é uma afirmação de  vocação artística. Superiormente artística. Sua arte está no  seu escrever anfíbio: tanto no jornalístico como no literário. A artista sempre a comandar a palavra.

Mais: Waldimir Mai Leite é anfíbio de uma outra espécie: em combinar, como brasileiro, duas perspectivas. A perspectiva urbana e a perspectiva rural. Deixou-se recifensizar sem repudiar sua origem de brasileiro do interior: da mesma Garanhuns de que é filho um dos maiores escritores literários do Brasil de hoje. Esse outro brasileiro de Garanhuns, Luís Jardim. Escritor e pintor. Luís Jardim e Waldimir Maia Leite, são afins. Um e outro, juntando no que neles é superiormente criativo, à inteligência, a sensibilidade.

Note-se de Waldimir que, ao recifensizar-se, adotou como filha uma das mais lindas praias do Recife. Filha pela qual vem revelando uma espécie de amor de pai incestuoso. Adotando e amando esse encantador pedaço do Recife, é como se encontrasse, nesse amor, uma ligação com o mar, que lhe faltara à meninice em Garanhuns. Uma ligação com o mar, hoje, tão sua, como tivesse nascido na própria praia de sua adoção.

Este um dos característicos da personalidade de Waldimir presente tanto no escritor literário como no jornalista: o seu raro poder empático. O de por empatia assimilar o que, estando fora dele, pode, e tem se tornado, parte de sua própria pessoa física. De sua sensibilidade vibrátil e de sua inteligência agudamente sintetizadora de assimilações.

O Brasil - e não apenas Pernambuco ou o Nordeste - tem, hoje, em Waldimir Maia Leite, um dos seus mais valorosos intelectuais, dos que, ainda jovens, já são afirmações daquele expressivo talento capaz de contribuir notavelmente para o crescente realce de uma cultura nacional. No seu caso, que através do que escreve em jornal, quer do que produz através de livro.

Fotos: (1) - Gilberto Freyre (2) Waldimir Maia Leite (3) - Capa do livro Terra Molhada.

A Pousada do Encantado

Celina Correia Ferro

Texto de Celina Ferro*

Dentro das estórias da nossa terra encontramos a escabrosa estória de Maria Dantas

Contam os mais antigos que no século XVIII nas proximidades do distrito de São José, principalmente na estrada de Rainha Izabel, Bom Conselho, PE uma rica senhora possuidora de muitos bens - terras, gado e muito ouro, vivia em sua bonita casa cercada pela família - esposo e dois filhos. Certo dia essa felicidade chega ao fim. Morre seu esposo e com tanta riqueza logo aparece um jovem vindo do Recife e falando bonito tenta conquistar a viúva. A principio Maria Dantas rejeitou a proposta, mas o jovem permaneceu firme na conquista até a fazendeira render-se aos seus encantos. Com a resposta positiva o jovem tratou de casar o mais rápido possível. E assim aconteceu. No dia do casamento, logo após a cerimônia viajaram para o Recife. O percurso era feito com muita dificuldade, foram até Garanhuns a cavalo e levaram a bagagem nos lombos dos burros; dois deles carregavam quatro baús de ouro.

Logo que chegaram ao destino - Recife - o jovem esposo deixou-a num determinado lugar, dizendo ele, que iria tomar umas providências e voltaria logo, mas não voltou. Maria Dantas ficou desesperada quando percebeu que além de abandonada, tinha sido roubada.

Restava-lhe a fazenda. Voltou e continuou sua vida. Nesse tempo os viajantes conhecidos como almocreves, passavam pela fazenda de Maria Dantas e pediam pouso. Gentilmente era acomodado, quando o viajante dormia, a fazendeira acompanhada de uma senhora velha, matavam o hóspede e se apropriavam de  seus bens. Pela frequência dos fatos, o local passou a ser chamado de "Encantado".

Um certo dia, um boiadeiro, que já havia tomado conhecimento dos encantamentos chegou à casa de Maria Dantas montado em um bonito burro conduzindo uma bolsa de couro com o dinheiro da venda de uma boiada.

Foi recebido cordialmente e quando todos já dormiam, lá ia a malvada senhora em direção ao quarto da visita. Acontece que ao chegar ao quarto o boiadeiro olhou para  a rede e não teve coragem de deitar-se, olhou para os cantos do quarto e deparou-se com um pilão e resolveu colocar o pilão na rede e ficou por trás da porta armado com a mão do pilão. Quando as duas mulheres entraram no quarto, uma segurando um lampião e a outra, com um afiado punhal, que sem nada perceber crava o pilão. É quando o hóspede se apresenta e diz: - Infelizes! É assim que desaparecem os viajantes que por aqui pernoitam. Vou avisar a polícia! E assim foi feito.

A partir desse dia Maria Dantas refugiou-se em uma toca de pedra existente na sua fazenda e espalhou "cabras" armados em diversos pontos da mesma. Perto da sua morte foi retirada para a casa da única fazenda que lhe restava, pois as demais foram invadidas e apossadas por muitas pessoas. O certo é que e localidade ficou definitivamente denominada: "Encantado". (Texto transcrito do jornal "A Gazeta" de Bom Conselho | Fevereiro de 2009).

sábado, 23 de novembro de 2024

Garanhuns moleque

Maurilo Campos Matos

Maurilo Campos Matos

Garanhuns moleque, 

Moleque feliz,

De calção verde e boina azul

Com flocos de nuvem.

Nas noites frias

Poreja estrelas.

Nas noites quentes

Goteja orvalho.

Gosto de ver teus braços

De rua com mangas de pedra,

Estendidos nos montes

Que ondulam as serras.


Moleque elegante

De roupa granfina:

Blusão de mosaico,

Botões de mercúrio,

Tem voz de "boate",

Olhar de piscina.


Moleque de rua

Da Rua da Foice,

De mangas arregaçadas.

Metido nas calças cáqui

Dos barrancos

Com duas listras

De ferro,

Por onde passa

Soprando, afobado,

Latindo, cansado,

Focinho no chão,

Cachorro danado,

Com o faro na pista

Da velha estação.


Moleque de recado

Pregoeiro sem rival

Que fala com a boca de quem toma

Água Mineral.


Moleque boêmio

Que bebe, e não cai,

Canadas de chuva

E não gasta um tostão.


Moleque menino

Que vive urinando

Nas fraldas dos montes

De inverno a verão.


Moleque traquina,

De noite anda à toa, 

Bebendo neblina,

Fumando garoa.

Garanhuns | 11 de Agosto de 1963.

Apresentação do livro 'Anatomia de uma Tragédia - A Hecatombe de Garanhuns' de Mário Márcio dos Santos

Joaquim Francisco

Iniciamos com a presente edição o programa editorial do Arquivo Público, em nosso governo. Assumimos compromissos com a Cultura, vamos resgatá-los. Será o arquivo um dos instrumentos desse esforço e dessa luta. Estamos, praticamente, duplicando o seu espaço útil para que volte a recolher documentação nova. Um Arquivo estagnado começa a morrer. Temos responsabilidades com a memória de Pernambuco. É preciso organizá-la para que o passado se una ao presente e os dois, sinfonicamente, construam o futuro. Um  povo sem História é tão patológico como um indivíduo amnésico. O Arquivo é o guardião desse tesouro, a segurança do  testemunho irrefutável, para edificação da posteridade.

livro "Anatomia de uma Tragédia - A Hecatombe de Garanhuns" de Mário Márcio dos Santos

O livro do professor Mário Márcio procura reconstituir um dos mais trágicos episódios da nossa vida política. É um esforço pioneiro, destinado a provocar outros estudos e esclarecimentos.  A "Hecatombe de Garanhuns" estava pedindo uma exegese alta. Aqui começa ela a ser feita.

Uma coisa nos gratifica, particularmente, nessa obra. Nasce da cooperação de duas Secretarias, a da Justiça e a  da Educação, Cultura e Esportes, juntando forças para o aproveitamento de recursos, vencendo a pobreza pela arte maior da administração.

O Arquivo com sua revista, sua divulgação documental, suas conferências, seus livros, sua vigilância, está de volta. Se queremos que Pernambuco cresça, a tradição, mais do que  nunca, se faz necessária. Não será uma afetação de esnobes: é uma pulsação vital.

Joaquim Francisco

Governador de Pernambuco

Janeiro/1992.

sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Frio da Serra


Luzinette Laporte de Carvalho*

O poeta cantou: "Frio de Serra, no mês do frio/envolto em  ondas de névoa, o luar"...

O frio queima a alma e a pele. Quem não pode tomar um chocolate vai de café com um pouco de conhaque. Luvas, mantôs, sapatos fechados, meias de lã. Mas também é bom (ótimo) ler, e ouvir Chopin (noturnos e estudos, prelúdios e valsas. Tudo vale em Chopin sem bem executado).  Bache e Paganini. Beethoven. Canto Gregoriano. Músicas que relaxam e aquecem o coração, a mente, a alma.

Tardes de sol. Vale a pena mergulhar nas tardes azuis e douradas. As flores transidas. Os eucaliptos e pinheiros assim como as casuarinas e os bruxos altivos, dizendo para todos: "Não sou dos trópicos, sou de áreas frias, sinto-me bem aqui, nesta terra do Nordeste". O violão dedilhado, tocando Villa-Lobos. Ou as Serenatas Imortais. Tudo fala melhor, no silêncio que o frio impõe. Afinal, a não ser durante o FIG quem é maluco de sair? As ruas estão desertas. (Como as ruas da Finlândia, quase em inverno, à tarde, à tarde. Raras pessoas e um guarda-de-trânsito, na rua sem trânsito, tomando, com delicadeza, o braço de uma brasileira, fazendo-a respeitar a faixa de  pedestres).

A música leva-nos a todas as áreas do mundo. (No coração e na mente, o espanto de ver lado-a-lado dois grandes (em cinismo e prepotência) chefes de estado querendo fazer crer que a mentira é a verdade. Cristãos. No entanto, Jesus disse: "O demônio é o pai de mentira." Cristãos. De quem são filhos?) Esgotaram-se os discos. Miscelânea. É hora de retornar as atividades.

*Escritora e professora / Jornal O Século.

Foto: Parque Euclides Dourado em Garanhuns / Guia Garanhuns.

Almira da Mota Valença

Almira da Mota Valença

Dr. José Francisco de Souza* | Garanhuns, 07/02/1987

Durante a longa faixa etária de seu magistério, a sua vida foi integral doação aos colégios. Coração sempre aberto para acatar e transmitir compreensão. Falava de alma receptiva, onde o seu universo intelectual era pontilhada de amor. A sabedoria do seu silêncio marginalizava qualquer conflito. As normas de sua vocação apontavam os caminhos seguros e retilíneos.

A modéstia caracterizava a fidalguia de seu trato. Jamais alterava a voz, quando o comportamento dos alunos, tentava alcançar o inesperado. Não perdia a calma, a tranquilidade era a sublimação de seu mundo interior. A vida para ela é um processo de renovação constante. Nesse sentido ninguém pode imaginar por  outrem.

Talvez, jamais tenha lido SARTRE, contudo se transfigurava, no sentido de que "Uma imagem pode ser sem ser percebida, pode estar presente sem estar representada". Essa imagem constatava a sublimação de seu entendimento. Sua imagem como educadora estava sempre presente. Era a plenitude em forma de pensar. Sentia que seus atos manifestavam consciência de alguma coisa, que pertencia ao seu mundo. Todo fato psíquico é síntese, é redução integral do conhecimento de sua natureza. É também forma e possui uma estrutura.

Essa imagem, forma estrutural, constitui o caráter irredutível de sua conduta profissional. Temática considerada pelo seu espírito como fundamental. Os alunos não estavam capazes de entender isso. Muitos de seus colegas também. Para estes ela dobrava a fidalguia com um sorriso enigmático. Era uma entidade humana que segundo o seu currículo profissional e pedagógico todo ser humano que se matricula num colégio, não é um estudante. É um necessitado.

Frequenta um curso para passar, e passa, não para saber. Na maioria dos casos, passa no sentido de assegurar um bom emprego. Daí a negação do valor, quando não conquista posição política, social. O valor é representativo, e não qualitativo.

Conviver com a fidalguia de seu espírito, era uma dádiva divina, que se  revelava através de maneira de opinar. Sempre o fazia a contento. Jamais lhe faltara senso de exatidão. Apercebida, nos momentos exatos, o exemplo para ela seria o maior e o mais importante dos argumentos. É como dizia o mestre Tobias Barreto, o estudante deve ser sempre um aluno, porque na prática a teoria é outra. Tudo isso se conjugava à personalidade de Almira Valença.

Na sua alma havia grande reserva de ternura. Viveu modestamente apoiada numa fortaleza moral. Certa de que a sua missão era esquecer as ingratidões. Nem todos podem ao mesmo tempo alcançar o seu valor.

É claro que ninguém pode imaginar por outro. Deve haver respeito a essa outorga psicológica. A eternidade começa aqui neste vale de lágrimas. Para o bom cristão a encarnação do verbo espiritualizou o mundo. O profano não existe no conceito dos espíritos em via de aperfeiçoamento. Possibilidades amplas de se preparar a humanidade na terra dos homens.

Compreendendo que o ensino é o caminho válido ao aprimoramento da sociedade, soube deixar às gerações futuras um maravilhoso legado, como exemplo, em favor do desenvolvimento da cultura didática para nossa Garanhuns, terra que amou com a intensidade telúrica de quem vivia de olhos fitos, no azul suspenso, do alcandorado céu. O Magano sempre virente a desafiar o infinito era musa inspiradora de seus momentos de contrição. Era um espírito Eleito.

ALMIRA DA MOTA VALENÇA

Fora reconhecida por todos nós como a maior autoridade orientada pela sabedoria do silêncio. Expressão marcante do ensino em Garanhuns, falava pouco e bom. Aliás, essa característica, é fundamental na conduta vocacional dos Valença, tendo como figura ímpar e nobre do Padre Adelmar da Mota Valença. Esse conceito é sobretudo óbvio.

Ensinou em vários colégios, no Santa Sofia, no Jerônimo Gueiros e fora também Instituto Escolar do Município. Era pedagógica e religiosamente Ecumênica.

Depois de largos anos de vida, terminara a sua missão aqui na Terra, desencarnara em data que os jornais da capital já noticiaram, hoje seu espírito se debruça livremente a descortinar as belezas do panorama, nova dimensão da vida, em que a sua alma sente com intensidade os efeitos contínuos da bondade e misericórdia de DEUS. O perfeito amor, contudo, compreende que o PAI CELESTE traçou caminhos infinitos para evolução e aprimoramento das almas, que a felicidade não é a mesma para todos e que amar significa entender e ajudar, abençoar e sustentar sempre os corações queridos, no degrau de luta que lhes é próprio.

Almira Valença, assim muitas vezes conduzia pela mão D. Maria José, (minha esposa) que é deficiente visual, pelos melhores recantos do jardim do Diocesano até a Capela, onde ia assistir à missa dos sábados. Não fora delírio de nossa imaginação quando aludimos que ela não fora mais sublime talvez por falta de espaço para percorrer todos os caminhos de seu universo de amor.

*Advogado, jornalista e historiador.

História de uma flor

Anchieta Gueiros - História de Garanhuns e do Agreste

A meus filhos Júnior, Mônica, Ísia e Emmanuel

João Marques* | Garanhuns

Colho-te, rosa

nas saliências do belo

e nos dedos da alma

surgida da velha roseira

que minha esposa deixou


tens, rosa, os olhos dela

olhando-me de perto

dizendo-me adeus

mas tão presente

nas formas das pétalas

que suspiro lembranças

com ares de antigamente

e seus olhos mirando

desabrocham o sonho

que nunca acabou

sonho-rosa, sonho

que não perde, jamais

a cor do amor.

*João Marques dos Santos, natural de Garanhuns, onde sempre residiu, é poeta, contista, cronista e compositor.  Teve diversas funções nas atividades culturais da cidade: foi Presidente da Academia de Letras de Garanhuns, durante 18 anos, Diretor de Cultura do Município e, atualmente, é presidente da Academia dos Amigos de Garanhuns - AMIGA. Compôs, letra e música, o Hino de Garanhuns. Mantém, desde 1995, o jornal de cultura O Século. Publicou quatro livros de poesia: Temas de Garanhuns, Partições do Silêncio, Messes do azul e Barro.

Uma canção para Garanhuns

Parque Ruber van der Linden (Pau Pombo). Créditos da foto: Anchieta Gueiros

Maurilo Campos Matos

Resplende na terra, num vale virente,

E o grito da seiva que explode na serra,

Atrai o Quilombo e o Cariri.

Do audaz sertanista dos passos ressoam

E alcançam o vale dos bravos Unhanhuns:

Os sangues se mesclam e os campos povoam

Então tu nasceste assim, Garanhuns.


Garanhuns,

Canta alegre a canção que tu és;

Que da paz sejas sempre o cenário,

E teus filhos, do amor os Lauréis.

Canta forte a canção da nascente,

Que fecunda teus vales, teus montes;

Esta mesma canção que da gente

Jorra como as águas das fontes.


Do herói bandeirante tu foste pousada,

Refúgio de negros nos teus alcantis.

Dançaste o toré e fizeste toada,

Promessas, macumbas e ouricuris.

Ó bela Simôa, teus filhos conclama

E lembra teus feitos desde o alvorecer.

A quem bem alto teu nome proclama,

Exulta no hino do teu florescer.

Foto: Parque Ruber van der Linden (Pau Pombo). Créditos da foto: Anchieta Gueiros.

segunda-feira, 18 de novembro de 2024

Waldimir Maia Leite e o ofício da busca


Manoel Neto Teixeira* | Garanhuns

Entre os valores que Garanhuns exportou para as várias regiões do Brasil, nos campos jornalismo e da literatura, ao longo do século XX, destaca-se o poeta e escritor Waldimir Maia Leite (1925-2010), autor de O Ofício da Busca (e outros ofícios), edição 1978, Companhia Editora de Pernambuco - CEPE.

Redator do Diário de Pernambuco e o primeiro Assessor de Imprensa da recém criada Sudene, início dos anos 60, Waldimir Maia Leite destacou-se no dia-a-dia do jornalismo e, logo mais, na literatura, como contista e poeta. Eleito para a Cadeira 38 de Academia Pernambucana de Letras, foi distinguido com o Prêmio Recife de Humanidades/75, de Contos, instituído por Francisco Matarazzo.

Compondo as "orelhas" de O Ofício da Busca, o também jornalista e poeta César Leal, então editor do Suplemento Literário do Diário de Pernambuco, salienta que, "dificilmente alguém poderá negar a força expressiva da poesia de Waldimir Maia Leite. O domínio técnico da expressão associa-se a uma sensibilidade singular que não pode passar despercebida aos melhores e mais competentes leitores da poesia moderna".


Fizemos - eu, com Descaminhos da Universidade, e ele, com O Ofício da Busca - o lançamento conjunto, em Garanhuns, das referidas obras, em concorrida e histórica sessão realizada no Centro Cultural Alfredo Leite Cavalcanti, sob a presidência do então prefeito Ivo Amaral, naquele dez de janeiro de 1981.

Trocamos abraços e dedicatórias, dele para mim: "Ao Manoel Neto, grande jornalista, amigo de Garanhuns, companheiro do Diário de Pernambuco e de letras, um abraço de Waldimir - 10.01.1981.

Na mesma página do autógrafo, ele diz:

Em mim, o escrever (poesia) é ato de tortura.

Duro ofício de busca".

Ainda com  a palavra o crítico César Leal, concluindo sua análise sobre O Ofício da Busca, salienta: "Referindo-se à poesia de William Blake, Eliott escreveu que nela havia nada de mórbido, anormal ou perverso. Podemos dizer o mesmo de Waldimir Maia Leite, um poeta consciente de suas próprias forças, um homem que sabe não haver superioridade de um poeta sobre outro, pois os verdadeiros nunca são iguais: são diferentes. Além disso, todos recordam a lição do maior crítico deste século - Ernest Robert Curtins - quando disse que "O jardim das formas poéticas possuem muitas flores".

O autor inicia sua obra com três poemas (I, II e III), sob o mesmo título: O Ofício da Busca:

(I): Carrego nos ombros meus instrumentos

De trabalho: a  palavra e a alma.

Todos os dias saio para a tarefa.


Sob sol ou chuva, o ofício.

De manhã e à tarde, o uso

Dos instrumentos fundamentais.


Mãos calejadas já tenho,

No árduo ofício, duro

Labor da alma e da palavra.


À noite, recolho-me com

Os instrumentos, tendo à mão

A obra sempre inacabada.

Iniciava eu a labuta como repórter do Diário de Pernambuco, 1967, ainda estudante do curso superior de Comunicação Social (Jornalismo) na Universidade Católica de Pernambuco, sob a coordenação do inesquecível Padre Mosca de Carvalho, que tinha como secretária a jovem Wânia Nóbrega, hoje, minha companheira, quando tive o privilégio de conhecer pessoalmente o também garanhuense Waldimir Maia Leite, que já estava no Recife há algum tempo. Ele, então editor da primeira página do DP, que se compõe basicamente de síntese das principais notícias e reportagens de cada edição, além das últimas notícias do dia remetidas pelas agências e correspondentes.

No livro Garanhuns - Álbum do Novo Milênio (1811-2016), incluímos um poema de Maia Leite, no capítulo sobre as praças, pgs. 168/169, com o seguinte registro:

"Praça João Pessoa: aqui foi construído um pedestal em homenagem à cidade, iniciativa do ceramista Francisco Brenand e participação dos restauradores Maurílio Matos e Ricardo Notaro, com um poema de Waldimir Maia Leite, que vivera parte de sua infância brincando neste local, sob o título O RESSURGENTE:

Ressurgente homem,

Para protege-la

Os cabelos brancos

Interpretam nela

Mineiro alumbramento

Com o tempo que 

Os braços do homem

Feito e instantes (feito)


À praça, a de nome

João Pessoa, 

Cidade de Garanhuns.

Agreste Pernambucano.


Mil crianças outras

Diferentes em imagem.

Dos braços fugitivos

Envolvendo o (vago)

O úmido corpo

Da estatuazinha nua.

Mineiro alumbramento

Do menino que foi.

Os separa em vales.

Dos caminhos do mundo.


O banco ao fundo.

À espera de duas pessoas

O menino e a menina,

(a estatuazinha nua)


Que a vida separou.

Famintas e carentes.

A perna direita

De agora homem.

Escondendo o sexo

Juvenil da estatuazinha

Que o tempo

Não desvirginou.


A perna direita

Do homem: a imagem

Redescoberta agora,

Da estatuazinha nua.

Ela, ainda menina.

Ele, entretanto, adulto.

Homem simples, conversas curtas, com ar  de quem estava sempre a meditar. Sua poesia reflete a própria visão de mundo (exterior e interior), o finito da condição humana, conforme se depreende com a leitura de O Abscôndito:

É no meu íntimo

Onde me escondo:

Enconchar para não

Me sentir; e não ser.

Minha face interna

(concha ou córneo?)


Terei espasmos, se me

Se partirem, o calcário

Que faz o invólucro?

Molusco fui antes

(de homem ser). Molusco

Quero ainda perdurar.


De madrepérola é.


Preciso urgente, eia!

De quem de mim faça

Trabalho artesanal:

que me torne botão

Adorno qualquer.

Molusco fui,

Concha sou.

Meu íntimo todo,

Botão de madrepérola é.

Seu livro compõe-se dos seguintes poemas: Ofício da Busca (I, II, III), ofício de renascer, ofício do semeador, ofício do artesão de sonhos, ofício da verticalidade, ofício do entardecer, hamletiana, por-de-sol em aquário, a drágea, a minha parte indivisível, quase epitáfio, do tempo (que desgasta), encontro com Jeanne, o rosto, balada do peixe morto, em giroscópio, a cremação do vivo, poema das (todas) horas estivais, mar, poema glacial, caminho, o abscôndito, canção de búzio, as batalhas (do ser), última epístola aos gálatas, os começos, afluente, balança, imagem, silêncio e sangue, vendavais, a perda, amanhecer.

Editado pela Companhia Editora de Pernambuco - CEPE, com ilustrações de M. Margot, obra que está a reclamar uma nova edição, posto que a boa poesia transcende o tempo.

(Manoel Neto Teixeira, autor, entre outros títulos, da série MULTIVISÃO, com dez volumes, é membro da Academia Olindense de Letras). Texto transcrito da Revista Cultural O Século de Maio de 2024 - Editada por João Marques dos Santos.

Sete Colinas

Marcílio Reinaux

Marcílio Reinaux

O sol dardeja sua luz

Sobre teus ombros lisos;

As flores te perfumam e

Te cobrem com halo perene;

As colinas te apertam em

Amplexo humano e amigo.


Descontraída te saúda a lua,

Por trás de espessas nuvens.

Modorrento chega o frio e

Te abraça por baixo dos

Teus agasalhos.


Gorjeiam os pássaros nas

Copas das tuas árvores;

Do néctar dos deuses os frutos

Da Natureza umedecem a tua boca.


Cantam teus filhos a tua

Canção. O teu canto é o

Nosso canto de vitória.


Rendemos a ti nossa homenagem.

A teus pés e a ti Garanhuns,

Terra das Sete Colinas,

Enevoada pérola fugidia.

domingo, 17 de novembro de 2024

Para não esquecer Alfredo Rocha

Alfredo Correia da Rocha, ao centro, por ocasião do lançamento de seu livro "Imagens e Ritmos no Tempo", em 20 de agosto de 1974. A sua direita Dr. Aurélio Muniz Freire e, à esquerda o advogado José Francisco de Souza

*Sebastião Jacobina | Garanhuns, 07/01/1995

Falar sobre o  intelectual, o escritor Alfredo Rocha, que me foi atribuído pelo Grêmio, entendo ser fácil, levando-se em conta a clareza de sua  atuação no encanto das coisas da Arte, durante o período que  o querido garanhuense esteve entre nós, no seio desta Casa de Cultura.

Nasceu Alfredo Correia da Rocha no dia 8 de agosto  de 1912 no lugar conhecido por Muniz, vizinho do povoado de Santa Quitéria de Freixeiras, então pertencente ao Município de Garanhuns. Filho de humildes agricultores de velha família de boa cepa garanhuense e honrada vivência desde o século passado, de suas raízes genealógicas brotaram descendentes que enriqueceram nossos bons costumes, de homens ligados umbilicalmente às atividades agrárias/comerciais.

Logo cedo emigrou para  São Paulo, onde radicou-se na cidade de Santos, consequência de ter para ali seguido na qualidade de militar, na Revolução Constitucionalista de 1932. Cessadas as hostilidades da sedição, passou a trabalhar nas Docas do porto de Santos, exercendo ainda misteres vários, inclusive o de contabilista.

Passou logo depois, a trabalhar no jornal "Tribuna de Santos" na época o maior jornal do interior brasileiro, inicialmente, como "copidesk" e em continuação, colaborou nas lides jornalísticas, escrevendo em apurado estilo e poder de síntese. O jornalismo, segundo assegurou Alceu Amoroso Lima, grande escritor e crítico nacional, é nesta seara Alfredo Rocha trouxe à luz o seu  pendor para as Letras. Era um autodidata. Não o autodidata definido por Olívio Montenegro, como aquele "que entende um pouco de tudo e tudo do nada" sua obra nega solarmente este conceito do notável crítico paraibano.

Foi naquela cidade paulista aflorando a veia artística de Alfredo Rocha, pari passu com a sua busca diuturna de  conhecimentos intelectuais que o aprimorasse na formação básica necessária para a expressão poética. Peregrinou na leitura de todas as obras-primas da literatura mundial e nacional. Abeberou-se nos grandes escritores dos movimentos literários representativos do País: Olavo Bilac e Olegário Mariano, no parnasianismo (movimento literário este de sua preferência); Cruz e Souza, no simbolismo, Machado de Assis, no realismo e outros autores, no romantismo. Conviveu com os clássicos do Pensamento universal, como o vocacionado, o sedento que busca a fonte.

Embora produzindo uma vasta e expressiva obra poética dispersa e variada, na forma de publicação, só editou ordenadamente, dois livros - "Peregrinação", uma compilação de belos sonetos, poemas e trovas, vindos e lume no ano de 1961, na cidade de Santos e o intitulado "Imagens e Ritmos no Tempo" editado no Recife, em 1974, com prefácio do escritor Mauro Mota, quando ele residia nesta cidade. Nessa  época preparava, com dedicação, a elaboração de outra obra, a qual daria o nome de  "O Porto da Expiação", vida romanceada dos trabalhadores portuários, classe que tão bem conheceu no seu cotidiano labor. Porém a morte interrompeu seu desiderando, privando os admiradores da boa  literatura da alegria de participarem da expressividade esperada de sua prosa romântica, que na poesia e no conto já se prenunciava.

Ao chegar em Garanhuns, no ano de 1972, Alfredo Rocha mostrou seu talento e sua atuação eficaz no ambiente da arte literária, promovendo o renascimento do  Grêmio e galvanizando as atividades inerentes desta agremiação. Cultuamos a memória  do poeta, gratos que somos.

Versos indicativos da intuição criadora de Alfredo Rocha, sentimos no poema sob o título ANTAGONISMO  - a seguir escrito:

Impossível, distante, minha vida 

Não consegue, jamais unir-se à tua...

Quando muito, o problema se atenua

Porém a solução nunca é sabida

Quando vagas em Marte, eu estou na Lua

Quando desces, me encontro na subida

Quando chegas, me encontro de partida,

Quando em casa te encontras, saio à rua

Gostas do dia, me conforta a noite

E talvez... e talvez, eu não me afoite

A resolver um dia esta questão

Entre a dúbia existência que levamos

São bem poucos os bens que  desfrutamos

Se quando digo SIM... tu dizes NÃO.

Ainda sobre o livro "Imagens e Ritmos no Tempos", lançado nesta cidade, sob o patrocínio deste Grêmio, observa-se que Alfredo Rocha, também incursionou com maestria no gênero da prosa, onde surgem crônicas de conteúdo satírico, tendo a ironia como tema recorrente.

Enfim, o garanhuense Alfredo Rocha, se destacou na literatura como verdadeiro poeta e prosador, sempre lembrado por todos que leram seus escritos primorosos e encantadores. Foi um grande de Garanhuns, nos meios em que predominam as coisas do Espírito, a beleza, o sofrimento humano, pois fazer poesia é  angustiar-se e sofrer.

Faleceu Alfredo Rocha no dia 23 de agosto de 1977, em plena reunião desta Associação, que se realizava na Sede do SESC desta cidade. Findou-se, como viveu a maior parte de sua vida, no convívio intelectual, fascinando naquele instante com a pulsão fecunda da poesia que lhe dominou a existência.

*Jornalista e historiador / Texto  lido na reunião do Grêmio Cultural Ruber van der Linden, de 7 de janeiro de 1995.

Foto: Alfredo Correia da Rocha, ao centro, por ocasião do lançamento de seu livro "Imagens e Ritmos no Tempo", em 20 de agosto de 1974. A sua direita Dr. Aurélio Muniz Freire e, à esquerda o advogado José Francisco de Souza.

Lembranças

José Hildeberto Martins

José Hildeberto Martins | Garanhuns | 2006

Olhinhos fitos, timbrados nos meus,

lindos, misteriosos,

multiplicam-se aos cântaros,

por toda parte mesmo,

até no mais profundo dos meus sonhos.


Estrelinhas cintilantes

botões vivos

azuis

pretos

castanhos

verdes

olhinhos alegres, chorosos, 

frívolos, expressivos...

todos eles me trazem lembranças 

de outros olhinhos perdidos.

Teu sorriso

José Inácio Rodrigues

José Inácio Rodrigues*

Teu sorriso, às vezes, é tão irreverente,

E tem horas, que, inexplicavelmente,

me seduz, levando-me à loucura.

Há momentos que é, também, alado,

Gentil, ansioso, fidalgo e educado.

Transmitindo-me alegria e ternura!


Teu sorriso é tão impetuoso,

Tão bonito, elegante, dengoso,

Nacarado, inócuo altissonante.

Tão eloquente e cheio de atrativo.

É penetrante, inefável e lascivo,

É sedutor, intenso, e insinuante!


Teu sorriso é, também, emulação,

Despertando-me estranha ilusão,

De viver inesquecíveis anseios,

De abraçar-te com ardentes desejos,

E, acariciar-te com sublimes beijos,

Na enseada dos meus devaneios.


Acho que isto que vem à cabeça,

São apelos, para que eu não esqueça,

A felicidade de me sentir no paraíso!

É, também, esta sensação louca,

De beijar tua sensual boca,

No momento do teu lindo sorriso!

*Professor, bacharel em direito, poeta, escritor, foi vereador e prefeito de Garanhuns.

Floresta agonizante

Genivaldo Almeida Pessoa Antes... Terra de índios valentes Que habitavam a mata virgem, Que amparavam, animais, árvores e rios, Guerreiros e...