Nasceu em um lar abençoado, onde a nobreza de sentimentos do casal Abílio Camilo Valença e Emília da Mota Valença se perpetuou através de seus descendentes, que continuam testemunhando o amor, a integridade, a fé, a cultura, enriquecendo assim o patrimônio cultural de Garanhuns. Uma família cujo lema foi sempre servir.
Foi desta grande estirpe que surgiu o nosso inesquecível Mons. Adelmar da Mota Valença. Sacerdote íntegro, vigoroso e destemido, gloriosamente respeitado por todos. Homem de fé, humilde, justo, acolhedor, grande servidor dos irmãos.
Nasceu na Fazenda Beira Mar, perto de Pesqueira, no dia quatro de julho de 1908, em um sábado às 15 horas. Foi o oitavo filho do casal Abílio e Emília.
Deram-lhe o nome de Adelmar, como homenagem ao poeta pernambucano Adelmar Tavares, cujas poesias seus pais gostavam de ler.
Esse homem singular a quem Garanhuns tanto deve, sempre disse à sua população que ele é que devia a Garanhuns, e assim se expressava: "Garanhuns nada me deve; ao contrário, devo tudo a Garanhuns, sobretudo o maior tesouro que me deste - a graça da vocação sacerdotal. Tu fazes Garanhuns, parte da minha vida, desde aquela tarde chuvosa e fria de maio de 1913, quando aqui cheguei."
Adelmar passou por uma adolescência comum, igual a todas as outras.
No dia 24 de janeiro de 1921 Adelmar sofreu muito com a partida de Agobar, seu irmão, para o seminário de Olinda, onde no dia seguinte vestiu a batina. Eles eram muito unidos. No fim deste mesmo ano Adelmar viajou sozinho para o Recife, para prestar exame no Ginásio de Pernambuco. Passou vinte dias em Olinda e sempre que podia ia visitar seu irmão de peito.
Passou por muitas experiências e provações de fé, conseguindo sempre levar sua mensagem de amor e esperança a todos que o cercavam.
Aos 10 anos de idade foi crismado, e desde então começou a se interessar cada vez mais pelo que a vida religiosa poderia oferecer. Era um ótimo aluno, gostava de religião e sabia todas as obras de misericórdia.
Seu primeiro contato com a Igreja em si foi realizado após um convite recebido por Dom Moura, um amigo que o ajudou na escolha de sua carreira, mas por timidez, acabou recusando o convite.
Desde então Adelmar passou a imaginar como seria viver no seminário, quando finalmente, ainda menor, mas decidido, foi em busca do seu destino. Recebeu empregos e seguiu em frente.
Sua mãe ficava preocupada e dizia que era melhor se trabalhasse mais por perto.
Um dia, numa viagem de volta da Bahia, onde trabalhava, e pensando na morte do irmão padre, Agobar, pela primeira vez, sentiu-se chamado ao sacerdócio. Era um primeiro de novembro, e ele pensava na morte santa que seu irmão tivera, e pensava fazer-se sacerdote para ter também uma morte santa.
Mesmo em casa com sua família, vivendo o luto pela morte de Agobar ele continuava pensando na possibilidade de entrar para o seminário.
Queria muito, mas não sabia com quem falar.
Até que um dia Padre Godoy o viu estudando latim e o encorajou para a decisão que ele estava prestes a tomar.
Dias depois, um automóvel chega a sua casa a fim de levá-lo para trabalhar no Recife numa mercearia, como contador, e viu ai desmoronar seus sonhos de ser padre.
Lá, adoeceu e achou até que iria morrer, mas Deus o ajudou, e cinco dias depois o dono da mercearia vendeu o estabelecimento e assim ele poderia voltar para Garanhuns. Não sem antes passar pelo seminário, onde havia encontrado pela última vez, seu irmão Agobar. La chegando, falou ao bispo Dom Hildebrando, de sua vontade de entrar para o seminário sendo por ele desencorajado, por achar que ele não suportaria os estudos, pois estava muito abatido.
Voltando para casa teve muitas desilusões por ter o Padre Godoy quer o estimulava sempre, ter sido designado vigário da paróquia de Barreiros. Entretanto dias depois, chega um bilhete de sua irmã Arlinda, dizendo que o Padre Godoy estava de volta e que havia nomeado reitor do seminário. E não só isso, mas que tinha conversado com Dom Paiva, e precisava falar com Adelmar.
Quanta alegria e ansiedade! No dia seguinte foi logo conversar com o bispo, agora dependia apenas dele. Pensava nas duas vidas: a que ele tivera até aquele dia e a que teria se optasse por realmente seguir a religiosa.
Dia seguinte, naquele inesquecível 24 de fevereiro de 1931, ele entrou para o seminário. Ali terminava sua primeira vida e começava aquela que mais tarde seria lembrada por todos.
O Grande dia de sua ordenação sacerdotal 30 de novembro de 1937, foi em uma celebração simples na Catedral de João Pessoa, na Paraíba.
Sua ascensão religiosa deixa explícita a vocação que ele tinha para o serviço à Igreja de Jesus Cristo. Sua simplicidade e disposição para o serviço a Deus fizeram com que sua vida fosse repleta de fatos que demonstram sua grandeza enquanto pessoa. Desempenhou, com muito amor, a missão de sacerdote que lhe foi confiada.
Passou sua vida dedicada à causa de Deus, a caridade com seu próximo, a esta casa, seu querido DIOCESANO, e ao Filho estimado, o GINÁSIO DO ARRAIAL, (hoje, Colégio Mons. Adelmar), do qual dizia: "Nas agruras da minha vida, o Ginásio do Arraial é o meu alento."
Em oito de agosto de 2002, aos 94 anos de idade, em sua residência e cercado do amor de seus familiares, Padre Adelmar se despede, com a certeza do dever cumprido.
O monsenhor Adelmar foi e sempre será um exemplo de integridade, lealdade e bondade. Um verdadeiro baluarte da educação e da fé, que ascendeu para junto do Criador, deixando saudade a todos que compartilharam dos seus ensinamentos e de sua história.
Fonte: Monsenhor Adelmar da Mota Valença - Vida e Obra - Centenário de Nascimento 1908 - 2008 / Irmãs Cândida Araújo Corrêa e Maria Mirtes de Araújo Corrêa. Acervo: Memorial Ulisses Viana de Barros Neto.
Foto: Mons. Adelmar com seus familiares: Dr. José Henrique de Barros Neto, Pedro Gerson Lima Silvestre, Maria Cristina Valença Silvestre, Evaldo Vieira César, Amílcar da Mota Valença e Asnar da Mota Valença, no dia dos 60 anos de Ordenação Sacerdotal de Mons. Adelmar (30.11.1997).