terça-feira, 28 de maio de 2024

Memórias de Amor

Antônio da Silva Souto Filho

Dr. José Francisco de Souza* | Garanhuns, 31/01/1987

Domingo transato partimos com destino a João Pessoa. Cinco horas de viagem alcançamos à capital da Paraíba, onde fomos recebidos por quem nos esperava. Lá passamos quase metade da semana. Contactamos com muitos recantos  programados inclusive: Cabedelo, praias, Penha e a imponente Tambaú. Segunda-feira, comércio relativamente movimentado. Dando a impressão de que, as lojas, as casas de negócios são apenas pretextos. Buscava algo mais premente conforme a psicologia de cada um. Os traços fisionômicos indicavam o vazio de seu mundo interior.

O ornamento de beleza natural não era impressionante. Os lugares, onde se buscava respirar mais livre e profundamente (o calor intenso) as pessoas não pareciam tranquilas. Não havia franca jovialidade, pelo contrário havia muita preocupação. Cada um procurava encontrar-se com seu próprio Eu. Essa foi a nossa impressão informal. Retornamos a Garanhuns e a viagem foi mais rápida e o tempo mais suave. Quatro horas de viagem estávamos em casa à rua 15 de Novembro. Aqui vai o conceito de José Américo: "ninguém se perde no caminho da volta". E nós lembramos: sempre se ganha quando voltamos para casa. Lar, doce lar...

Com um bilhete de Ulisses Pinto chegou às nossas mãos um livro: "MEMÓRIAS DE AMOR" com uma dedicatória muito carinhosa da autora: GERUSA SOUTO MALHEIROS. O título do livro nos despertou a atenção. Logo percebemos que o "MEMÓRIAS DE AMOR" foi inspirado no ambiente consagrado do lar e nos brincos da meninice... Foi inspirado na intimidade do templo doméstico a exemplificação dos princípios que a esposa com sinceridade e firmeza, uniformizando o próprio procedimento, dentro e fora dele. A fé cristã do clima da família, fonte da verdadeira religião em todos os segmentos da vida. Calar todo impulso de cólera ou violência, amoldando-se ao Evangelho de modo a estabelecer a harmonia em si mesmo perante os outros. A humildade constrói para a eternidade.

Proporcionar às crianças os fundamentos de uma educação sólida e bem orientada, sem infundir-lhes medo ou fantasias, começando por dar-lhes nomes simples e naturais, evitando a pompa dos nomes famosos suscetíveis de lhes criar embaraçados futuros. O lar é a escola primeira. Sempre que possível converter o santuário familiar em dispensário à manutenção doméstica.  A SEARA DO CRISTO NÃO TEM FRONTEIRA". O meu pai tinha a virtude de se apiedar dos ingratos, de esquecer a fraqueza dos pérfidos e de perdoar os frustrados e desleais". Tudo nele, nos gestos, na postura, no falar manso, retratava um espírito desarmado, face às muitas decepções e desencantos que um homem público enfrenta. Embora muita criança, nunca descobri no semblante de Papai, um vestígio sequer de mágoa recalcada".

Seu mundo infantil ainda em miniatura guardou as formas de suas imagens não como simples retrato de memória, mas, sobretudo, para ser vividas com intensidade maior, na idade adulta. Foi um momento diferente em forma, mas rico em conteúdo de renovação no eterno presente. Esta é a mensagem de seu universo intelectual que antes pertencia a seu universo de sonho e de imagens, que não foram repetidas na idade adulta. A vida lhe transformou em jornalista, escritora, memorialista, de linguagem suave, encantadora, rica de imaginação, como revela a superioridade de seu espírito.

Sente-se no seu livro a ideia síntese. A ideia fisiológica: o homem é um organismo vivo no seio do mundo e o pensamento é um órgão que certas necessidades desenvolveram, da mesma forma como não há pensamentos sem imagens, ou seja materiais provenientes do exterior. A temática do livro revela o humanismo genial do político superior ao seu tempo. SOUTO FILHO foi inconfundível para tanto basta se identificar o seu CURRÍCULO DE HOMEM PÚBLICO: POSICIONAMENTO DE UM DEMOCRATA.

No capítulo 4 a liderança política de SOUTO FILHO: "Político e alto funcionário do Estado se projetaram no mapa de Garanhuns". No capítulo 5 "A REVOLUÇÃO DE 1930 PERCPECTIVA DE EXÍLIO"; "Com a revolução triunfante, fizeram uma verdadeira devassa na vida dos políticos do regime passado. Nada, absolutamente nada, se encontrou de corrupção ou ilegalidade, naqueles que perderam suas posições, nunca, porém, a dignidade e o respeito público". Diz GERUSA SOUTO MALHEIROS:

"A eleição de SOUTO FILHO à Constituinte de 1933, representou para meu pai, o maior triunfo de sua carreira. Único representante da oposição que conseguira se eleger representante de Pernambuco". "A sua correção, a sua dignidade e a sua postura, foram sobejamente reconhecidas". "A vitória maior dessa eleição para constituinte, foi comemorada em GARANHUNS".

Ainda não terminamos a leitura do "MEMÓRIAS DE AMOR". A sua autora GERUSA  SOUTO MALHEIROS nos tocou profundamente, não só pelo estilo, e sublimação do pensamento, o seu mundo intelectual é de uma memorialista de escol. Muitos episódios da vida política de seu Pai, SOUTO FILHO, contou com a nossa presença. Sem querermos estávamos sendo imagem da história. (*Advogado, jornalista e historiador).

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