segunda-feira, 27 de maio de 2024

Leite no Recife, terra do já teve...


Pedro Jorge Valença* | Garanhuns, 10/11/2007

A pecuária entrou no Brasil, através da Capitania de Pernambuco em 1535 e aqui também chegaram os bovinos melhorados, quando da invasão Holandesa. A palma foi trazida para a cidade de Paulista pelo comerciante de peles Hermann Lundgren, como planta ornamental e levada para o Vale do Ipanema, como comida dos bovinos. 

Pernambuco também importou as primeiras raças leiteiras e instalou Fazendas Experimentais, ajudando a formar todas as Bacias Leiteiras do Nordeste. Em Recife foi instalada a primeira Usina Higienizadora de Leite, que devido à qualidade do produto, atendia as tropas dos EEUU, acantonadas no Rio Grande do Norte. Em Garanhuns foi implantada a primeira fábricas de leite em pó e em Bom Conselho, José de Galdino fabricava os primeiros Queijos do Reino, fora do Centro Leste do País. É bom que também sejam relembrados.

Como nosso objetivo é mostrar que chegou a hora de serem tomadas providencias para aumentar as vendas do Leite Pasteurizado no Grande Recife. Como o futuro deve ser planejado olhando para o passado, continuaremos a relatar a relatar a evolução do mercado do leite Tipo C na Região Metropolitana do Recife.

O Governador Cid Sampaio em 1960 fundou a Companhia de Industrialização do Leite de Pernambuco - Cilpe, que vendia o Leite C engarrafado e proibia o comércio de leite cru produzido nas vacarias. Paralelamente foram criados "feudos" onde comerciantes detinham o monopólio de áreas no Grande Recife e o consumo girava entorno de 25 mil litros por dia. Com a entrada da Garanhuns Industrial S. A. - Gisa, vendendo o leite já em saquinhos e não respeitando os "feudos"  o consumo foi acrescido em mais 15 mil litros por dia. Nessa ocasião o Governo Federal criou um programa para distribuir 120 mil litros de leite, através da doação de "tickets" trocados por ocasião da compra. Rapidamente se transformou em "moeda" trocada por pão, cigarros e no jogo do bicho.

Como produtor de leite, fiz um estudo e demonstrei que nos dias em que eram mudadas as datas mensais, a compra era reduzida para apenas 30 mil litros dia e pedia para que o "ticket" fosse substituído pelo saquinho de leite. Nessa ocasião o Programa já estava combalido e o Governo Federal, aproveitou e em vez de endireitar paralisou totalmente.

O Governador Eraldo Gueiros, adquiriu todo complexo industrial de laticínios e unificou criando o sistema Cilpe/Gisa, que rapidamente chegou a vender mais de 160 mil litros de leite por dia, com um consumo per capita de 90 litros de leite por ano.

As vendas de leite Tipo C no Grande Recife atingiram média de 230 mil litros por dia.

Pernambuco na segunda metade do Século XX viveu épocas de grandes sucessos e pequenos desencontros, mas se destacando como o líder do Nordeste.

Até quando em 1995, o Complexo Industrial Estatal, foi entregue intempestivamente a Parmalat, que de princípio não teve interesse em manter a venda do Leite Pasteurizado e logo depois entrou numa crise que trouxe prejuízos para os produtores.

O monopólio da Parmalat foi minimizado quando criado o Programa do Leite e os Laticínios de médios e pequenos portes foram instalados.

A Parmalat depois de recuperada destinou praticamente toda sua  comercialização para o Leite UHT e os Laticínios que atendem aos Programas Governamentais, se contentam em ficar "atrelados" nas compras Estatais, numa prova de empatia.

Com o aumento dos preços do Leite em Pó, quando o produto passou de US$ 2 mil por tonelada para US$ 5 mil, havendo uma procura desenfreada, repercutindo os valores pagos para o produtor, que tinha prejuízos acumulados durante mais de 5 anos.

Mas os Laticínios com uma ganância exagerada passaram a vender os produtos finais por preços exorbitantes, principalmente o Leite em Pó e os UHT (Longa Vida).

Como alegria de pobre dura pouco, veio o escândalo da adição de conservantes por Laticínios desonestos, e os preços pagos aos produtores foram reduzidos sem critério. Os industriais que  desprezaram o mercado do Leite Pasteurizado no Grande Recife que já possuiu um consumo per capita de 90 litros/ano e hoje atinge a uns ridículos 4,5 litros.

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