sexta-feira, 26 de abril de 2024

Demonstração de Fé

Garanhuns Antiga/Avenida Santo Antônio

Texto de Valdemir Barbosa 

Como cristãos sabemos que a oração tem sido o veículo e a única força que dispomos para alcançar as graças que invocamos ao Senhor Deus dos exércitos. Podemos contar com a interseção de um Santo, por ser devoto do mesmo, junto ao nosso Senhor, para se obter uma graça, tão almejada. Além da força de uma oração, também se torna necessário uma demonstração de fé. "Não precisamos ter fé para orar. Precisamos orar para ter fé" (François Mauriac). Formulado o pedido e ao persistir, temos que ter paciência. O binômio formado pela caridade e paciência, tem sido considerado como os principais. Pois o atendimento não acontece incontinenti. Temos que esperar até sentir o acontecido que se aguardava, a qualquer momento e de forma inusitada, inexplicável, como se realizou. Fala-se que Deus escreve certo em linhas tortas. Na minha maneira de pensar, acho que não se deve formular pedidos para si, somente em raras ocasiões emergenciais, sendo realmente válido em benefício direcionado ao próximo, à família, aos necessitados, em prol de uma coletividade ou mesmo da população mundial em determinados pontos do nosso planeta terra, sempre conturbado, que vive a sofrer com os fantasmas da fome e da guerra. Pois, o Senhor sabe o que merecemos e não tardará a premiar os seus filhos amados. O nosso pedido nunca deixará de ser aceito. Para ser atendido, serão outros quinhentos. Já ouvi dizer que diante de certos pedidos, como exemplo ganhar uma fortuna em determinada loteria, diz-se que "o Senhor não dará asas a quem quer voar". Trata-se de uma tentativa que se considera fantasiosa. Sabemos que  dentre milhões, acontece um favorecido e sempre mau preparado para suportar tal acontecido em sua vida. Certamente não saberá administrar e muitas vezes, reinará tumulto no meio familiar. Pensando bem, passa a ser uma situação até ameaçadora e perigosa para seus familiares, diante da falta de segurança que reina em nosso meio, assim que a notícia for propagada. Bom mesmo é ser pobre sem orgulho, sendo remediado. Seu sono será mais bem tranquilo.

Poderia narrar um fato real que ocorreu em família. Minha saudosa genitora surge com uma ideia, confiante em sua crença pelo Padre Cícero Romão Batista, após ter plantado dois pés de abacates, utilizando-se de latas vazias de querosene "Jacaré", tamanho grande, para cada pé, alegando que acompanharia o crescimento daquelas plantas até o ponto de muda, quando então o meu pai compraria uma casa própria, nas especificações que ela sempre sonhara. Uma vez sendo atendida, apresentou uma imposição. Seria a primeira a entrar na futura casa, conduzindo um quadro de moldura, contendo a fotografia do referido padre milagroso, para ser colocado na parede da sala de visitas e as duas latas com as respectivas mudas, para em seguida serem transplantadas no quintal. Foi um espanto para o meu pai diante daquela ideia ao julgar impossível, pelo tamanho da coisa ao comprar com as suas posses.

Meu pai continuava na sua luta diária como feirante de miudezas e logo as coisas começaram a mudar. Nas quartas-feiras era normal recebermos um amigo da família, idoso de nome Tuffi, de origem árabe e durante o almoço gostava de beber Zinebra (ou Genebra, Cinebra ou ainda Sinebra), bebida com a composição de Zimbro, planta que nasce e cresce no deserto, de sua preferência. Meu pai não gostava de beber, com raras exceções um pouco de cerveja, socialmente. Naqueles momentos o visitante usava e abusava ao beber o líquido de sua predileção, meu apenas o acompanhava no almoço sem ingerir líquidos. Surge o momento em que ele se voltou para o meu pai e disse-lhe: que iria ensinar-lhe uma técnica oriental para o fabrico de doces de vários tipos e modalidades. Alertou que meu pai não ficaria rico, entretanto, daria o suficiente para manter a família e educar os seus filhos. As coisas no início não foram nada fáceis. Ao longo do tempo a produção aumentou, tendo em vista a melhoria da qualidade dos diferentes tipos fabricados e a procura por parte dos fregueses cresceu de forma satisfatória,  com resultados positivos. Devo destacar o grande esforço de minha mãe, com suas habilidades em costurar calças para homens, ao longo de certo tempo, que eram traçadas e cortadas em diferentes moldes, pelo alfaiate muito conhecido na praça, Sr.  Milton - alfaiate. No centro comercial da cidade, existia uma sapataria pertencente ao Sr. Paulo Miranda & Companhia, conhecida como Sapataria Moderna, atual Iza Calçados, aqui em Garanhuns. Meu pai por ser freguês daquele estabelecimento comercial, num rápido encontro com o proprietário, foi abordado para comprar uma casa pertencente ao Sr. Moisés Valadares, residente na cidade de Canhotinho, cujo imóvel localizado bem próximo de sua residência e que o valor para negociação seria de Cr$ 20.000,00 (Vinte mil cruzeiros), naquela época. Em casa a notícia chegou logo se contou o dinheiro em poupança, sendo boa parte da minha mãe, graças as suas economias, produto do seu trabalho em prol do seu objetivo. Em seguida saia meu pai com um volume apreciável de dinheiro em cédulas formando um pacote, sob o braço (assaltos naquela época, nem pensar) e rumou até aquela cidade, utilizando-se da linha férrea. Seguiu pela manhã e na parte da tarde regressou com a boa notícia, negócio fechado. Como a casa se achava precisando de uma recuperação, logo após os documentos assinados em Cartório Cível, as obras começaram e logo tudo ficou pronto, em condições de habite-se.

Passamos a ser vizinhos do Sr. Paulo Miranda e família, que o considero como tendo sido o nosso anjo da guarda, que apareceu e nos trouxe a feliz mensagem que resultou na compra da tão sonhada casa. Finalmente o dia tão esperado de minha mãe chegou e, assim sendo ela sentiu que sua fé a conduziu ao sucesso, tinha realmente alcançado o seu objetivo, graças à interseção do Padre Cícero Romão Batista. Foi a primeira a entrar na casa com as plantas e fotografia, que foi fixada na parede da sala de visitas até o presente. Desde 1949 somos proprietários, onde nos foi proporcionado tranquilidade, paz, felicidades e sucesso para toda a família e boas safras de café, abacates, carambolas, acerolas, laranjas tipo bahia, limão, pitanga, bananas, seriguela e até pinha, etc. Sempre agradecidos pela graça alcançada ao nosso Senhor Deus dos exércitos e ao Padre Cícero Romão Batista. (Garanhuns, 29 de maio de 2013).

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