domingo, 20 de agosto de 2023

Sensibilidade

Anchieta Gueiros - História de Garanhuns e do Agreste

Dr. José Francisco de Souza*

Faculdade de experimentar sensações psíquicas. Percepção de conteúdo e forma. Ordenamento específico que todo ser humano é portador. O seu desenvolver requer apercebimento. É uma qualidade do processamento de suas atividades intelectuais. Da mente que se renova em cada momento, inspirada pelo desfilar do  pensamento criador.

Essa harmonia se sintoniza simplesmente as vibrações do agora. Não se deve perder nenhum instante de nossas atividades. Tudo se renova de acordo com o processo vital da existência. Na ocasião em que as coisas se revelam, é uma complementação à vida de cada um de nós. É uma espécie de élan que nos levará, sem esperar mais nada, à visão da realidade. Chega-se assim a uma mestria da linguagem, que nos permita meditar em voz alta. A base da meditação é o autoconhecimento.

Penetrando nas renovações do silêncio do nosso mundo interior, alcançaremos a tranquilidade que todo ser humano deseja. Percebendo esta oportunidade de agir devemos fazê-lo nesse tempo exato. É o tempo de agir, de deixar as palavras mortas para aqueles que se alimentam delas. Os julgamentos, as apreciações infundidas de pessoas de mentalidade conflitaria, são vias de fugas que se perdem no  espaço.

Os que vivem sob o domínio da sabedoria do silêncio, entendem que o julgamento dos filisteus da cultura, não merecer a audição, bem como a presença dos qualificados pelo entendimento. O homem sofre e goza conforme o uso de sua liberdade. A liberdade depende de certa modalidade do entendimento. Ninguém é obrigado a entender. Contudo, é óbvio que os  que não entendem são sempre repelidos pela razão.

A vida fechada na algazarra de sons, é um instante de poluição sonora. Paralisa-nos fisicamente. E os nossos atos não passam de pálidas imagens das nossas ideias. Especificamente das ideias  portadoras de desequilíbrio mental, ocasionado  pela repetição de opiniões sistemáticas e ofensivas. O cheiro da morte paira sobre o telhado do cubículo do homem escravizado. Do homem que fala de tudo e de todos porque em tudo sente a imagem de seu próprio ser.

É um símbolo de destruição - porque sente o desejo de ser célebre, porque interiormente não é nada. Vazio, sozinho, pobre criatura que se reveste de pumas da celebridade e não tem uma técnica, um talento, e muito mal sabe manejar as palavras. Se nesse processo de exame ou observação se faz uso do método negativo, há então, separação entre o pensador e o pensamento. Entre o homem mentalmente corrompido e a corrução do meio, em que age como figura central.

O fio do nosso raciocínio encontra o patamar de sua tecelagem nesses conceitos aprimorados: "Um recipiente só é utilizável quando está vazio, e um espírito cheio de crença, dogmas, afirmações e citações, é na verdade um espírito estéril, uma máquina de repetição. Deste estado de vazio é que tentamos sempre fugir por todos os meios. É por isso que a solidão é perigosa" Esses tipos vivem na busca constante de outros, ou seja de seus  iguais em pensamentos e palavras.

A solidão coloca o homem apercebido e desejoso e francamente interessado na  sua libertação, num autêntico estado de  receptividade. É um recolhimento, onde  todas as forças vivas do ser humano se concentram num deslumbramento de  seu próprio universo... Neste estado procuramos, então, aquilo que chamamos de  divertimentos, encher o silêncio por barulho que, transportando-nos ao passado ou o futuro, nos afasta do vazio. 

Um notável pregador, cujos sermões se constituíam verdadeira obra de arte sacra. Subiu ao púlpito e abriu a Bíblia para o tema do Sermão, o templo estava literalmente cheio, quando um pássaro penetrou, e voando pelo salão e pousando no púlpito começou a cantar... Quando a ave terminou de cantar, o grande pregador fechou o livro santo e disse: por hoje dou por encerrado a minha palavra.

O canto desse pássaro foi mais uma  revelação que Deus é Perfeito em todas as Suas Obras. Foi um verdadeiro ato puro da natureza. Superior ao esplendor da natureza do verbo humano, onde a sabedoria do silêncio é mais sublime.

*Advogado, jornalista e historiador / Garanhuns, 18 de Julho de 1987.

Créditos da foto: Anchieta Gueiros.

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