terça-feira, 1 de agosto de 2023

Reencarnação (V)

Créditos da foto: Anchieta Gueiros

Dr. Aurélio Muniz Freire*

A reencarnação, apresentada pelo Codificador da Doutrina Espírita como um dogma, envolve a cadeia enorme de períodos em que estacionamos neste ou em outros planos, na extensão de nossas necessidades. Retornamos aos ambientes terrestres oi a outros, na imensidão dos espaços de Deus, sempre carregando em nós a bagagem acumulada ao longo de nossas caminhadas.

Somos o arquivo de nós mesmos, guardando no  cofre espiritual todas as tramas que escreveram o nosso passado. Daí sermos um depósito vivo de todas as  existências vividas. Em nossa individualidade, acumulamos as personalidades que vestiram o nosso ser, quais máscaras ou marcas a inscreveram a soma ou a síntese do nosso eu profundo.

O homem imortal sempre é a representação viva, como retrato de si mesmo, visto ser herdeiro permanente de suas próprias experiências. Diante de nossa romagem pelos mundos, colhemos bons ou maus frutos, na conformidade das sementes por nós lançadas ao solo fértil ou agreste de nossa espiritualidade.

Somos livres na semeadura de nossos campos. No entanto, já não podemos vivenciar a mesma liberdade com relação ao quanto houvermos de colher. Essa cultura pelos canteiros do nosso chão, terra de nosso espírito, finca o nosso destino dentro de um semeio que não para, pois, se o Pai trabalha até hoje, devemos igualmente lutar e trabalhar nas searas por onde pervaguemos, buscando entesourar em nossos celeiros o trigo da vida  e queimar a palha amontoada por nossas jornadas.

Ademais, em nós inscrevemos uma etiologia de profundidade com relação ao quanto houvermos de vivenciar em termos de saúde ou de enfermidades ao longo de nossas andanças pelas estradas dos mundos. E a nossa destinação é prosseguirmos engajados em meio aos embates e às dificuldades de senda, sempre pedindo, buscando, batendo às portas Daquele que é caminho, verdade e vida para todos nós.

Assim, escrevendo as tragédias e os dramas do nosso destino, nada mais fazemos senão colher o bom ou o mau grão que houvermos jogado ao canteiro de nossas vidas. Nessas razões é que não podemos nos afastar das trilhas por nós mesmos lançadas em nossa sementeira, visto constituírem as teias por onde devemos avançar.

Aqui relembramos a peça Nas Teias do Passado a exibir o quadro de nossos engajamentos pelas encarnações na estrada dos séculos. Como teatro vivo, a mesma peça, adentrando-se em princípios de uma psicologia de profundidade, mostra-nos as sementes que somos e os frutos por nós produzidos pelos idos afora, sempre cultivando na terra dos nossos corações as árvores boas ou más de nossas próprias plantações, porquanto somos a mensagem viva e permanente do nosso passado e, exercitando o nosso presente, estamos a construir o nosso futuro.

Como jornadeadores do tempo e dos espaços, já recebemos incontáveis rótulos pelos personagens que  vestiram a individualidade de nossos Espíritos. Agora, o teatro demonstra ao vivo para todos nós que mudam as nossas máscaras, trajando-nos como homens ou mulheres, pelas Clarices, pelos Silvérios, pelos Marcelos, Cristinnes, Pierres, Felipes, Miguéis e tantos outros, porém sempre guardando na profundidade do nosso ser a  caracterização individual com que nos identificamos na  esteira dos séculos, segundo tão bem nos mostra aquela pela teatral.

Sincera e fraternalmente, nosso abraço ao amigo e irmão Julierme Galindo, autor de Nas Teias do Passado, enfocando o grande tema das vidas sucessivas. E agora, numa súplica ao Senhor da Vida, pedimos que ilumine para todo o sempre a inteligência desse autor para que,  não somente como o fez por ocasião do grande evento da cultura local que foi o XI Encontro Garanhuense de  Jornada Espírita (Engaje), possa brindar-nos com trabalhos outros, acendendo faróis ou candeias no topo ou  monte de nossas consciências.

Também nossa solidariedade a quantos levaram e levarão em cena a linguagem personalizada dos figurantes pela representação teatral.

Guardamos a certeza de que outro palco sempre se fará paralelo ao cenário do espetáculo. Este, porém, formado pelas embaixadores da Espiritualidade Maior, portageiros que são, a todas as horas, de uma linguagem superior, quais representantes também maiores Daquele que é a Luz do Mundo.

Que Jesus, o divino Mestre e Senhor de todos nós, proteja-nos, forrando de luzes as estradas do mundo.

*Jurista e escritor / Garanhuns, PE - 2011.

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