sábado, 19 de agosto de 2023

Prefácio do Livro 'Partições do Silêncio'

Luzinette Laporte de Carvalho

Luzinette Laporte de Carvalho*

A poesia de João Marques é rica e nova. Houve um salto qualitativo. Uma nova dimensão que impressiona. Há poesia de  verdade naqueles versos pequeninos, maiores em valor e sentido. Humor, alegria, dor, sátira. E  o que mais o universo da alma humana conheça, estão presentes. Desde o primeiro poema "Confissão":

Como poeta

vejo com a alma

mas fora disso

envelhecendo e míope

eu vejo mesmo

é com os óculos.

Humor e certa nostalgia, saudade de um passado (juventude) que afinal, não é tão remoto. Na mesma linha (quase) o segundo. Em outros a  observação do entorno e das pessoas. É difícil destacar. O "Ofício do Silêncio", "Noites",  "Moça do Recife". Desisti. Uma atrás das  outras, as poesias de João Marques encantam. Porque advertem, descobrem e dizem de  maneira absolutamente única a vida. Sua visão é  bem mais profunda que ampla. E retoma o humor, pois:

Coisa pior

pagar imposto de renda

como aposentado

pior ainda

quando eu morrer

o governo que conheço 

não me conhece

uma só lágrima

não sairá por mim.

Livro "Partições do Silêncio" de João Marques dos Santos
Há também a dor da perda do amigo: "eu nem sabia do sol posto / dez horas da manhã" ("Réquiem a um amigo"). A beleza da gravidez ("Esferas") da mulher. É muita beleza distribuídas aos que sabem percebê-la. A visão do  poeta sobre o (s) poeta (s). Canta a saudade  e o voo das borboletas. Mãos que se tocam, montes,  chuva, manhãs, encontros e desencontros. A extrema delicadeza de sentir cada coisa, cada mínimo detalhe ("Compartilhamento" "Fases" "Dia dos anos"). Passar pela poesia de João Marques é caminhar de encantamento em encantamento. Somos alguém a quem ele vai abrindo portas e janelas (Mais portas do que janelas). E vamos desvendando quadros e  quadros novos, espelhos, atos, realidades, sonhos. Tudo o que este poeta viu/vê é  condensado em uma poesia sem possíveis adjetivos comuns. Melhor ler e sentir. E descobrir que nasceu no poeta João Marques um  poeta novo. Seu olhar não ficou diferente. Diferentes é a tradução do que vê. Nem tão pouco sente diferente. Diferente é a expressão poética ("Clarividência", "História do Cinema", "Abandono"). Torna-se, de repente, impossível falar em prosa, sobre a poesia de João Marques. ("Profecia"). Ele sabe e nos diz como é o caminhar por trilhas, veredas, caminhos, passando por pessoas, árvores, tempo, exposições de arte. O escoar, o fugir, o permanecer do tempo. Tudo está ali, na poesia de João Marques. Ele não (re) nega a alegria nem as lágrimas. Observa tudo e, vê "com a alma". Canta o que é. E o que foi. Seus últimos poemas são sonetos partidos ao meio, isto é, sete versos em vez dos catorze do soneto tradicional. É uma poesia-poesia. Deixa na alma da gente um raio de alegria, um travo de saudade, um sorriso provocado por um inesperado humor. Garanhuns ganhou mais um poeta cheio de vida e força, realidade e sonho. João Marques, o Poeta.

*Professora e escritora / Garanhuns, PE - 2005.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Casas comerciais: 10 Portas, atrativa e Brasil Chic

Estes nomes pitorescos de algumas casas comerciais do meu tempo, todas elas situadas na Rua Santo Antônio, a principal de nossa cidade, e on...