O mundo já existia

João Marques* | Garanhuns

Quando nasci e começava a pensar, vi que o mundo já existia. E, possivelmente, não tinha sido meus pais que fizeram o sol. Os vizinhos, no sítio, não fizeram a água, o ar. O mundo estava ali, real, com flores e tudo. Comecei a entender que ninguém fez o mundo, como se faz uma casa. E tudo o que o homem faz, tem uma utilidade única. O mundo, não, é de tudo, serve para tudo. E quem teria feito o mundo, com tudo o que existe nele? Um poder, certo, muito grande e maior que tudo. Isso, o que fez o mundo, faz sempre. Se não se desgastaria logo, e se acabaria. Pensei, ora, se já existia antes de mim, eu provalmente já existia, também, de alguma forma diferente. Porque o mundo é uma unidade. Não se quebra, não acaba. E comecei a compreender, menino, que esse mundo que via perto está dentro de outro, chamado de universo. E, ainda, que existe perto de mim, para que eu exista, outro universo invisível, de tamanho incalculável. E fiquei pensando: Só pode ser assim!

*João Marques dos Santos, natural de Garanhuns, onde sempre residiu, é poeta, contista, cronista e compositor.  Teve diversas funções nas atividades culturais da cidade: foi Presidente da Academia de Letras de Garanhuns, durante 18 anos, Diretor de Cultura do Município e, atualmente, é presidente da Academia dos Amigos de Garanhuns - AMIGA. Compôs, letra e música, o Hino de Garanhuns. Mantém, desde 1995, o jornal de cultura O Século. Publicou quatro livros de poesia: Temas de Garanhuns, Partições do Silêncio, Messes do azul e Barro.