sábado, 12 de agosto de 2023

Manoel Neto: Um homem apaixonado por Garanhuns

Manoel Neto Teixeira
Um homem apaixonado por Garanhuns, é assim que se define Manoel Neto Teixeira (foto), nascido em Itaíba 02 de novembro de 1943, à época, distrito de Águas Belas, mas que logo aos oito anos de idade veio morar junto com os pais em Garanhuns, terra que aprendeu a amar com toda a intensidade de um eterno apaixonado, e que busca nas lembranças de um passado hoje, distante, as melhores recordações de sua vida, a infância, época pura e marcante. Filho de Seu Henrique Jacinto e de Dona Alzira Alves Teixeira, casado com Vânia Nóbrega. Teve consigo desde muito cedo a consciência de que com uma educação de alto nível conseguiria alcançar todos os seus objetivos. Estudou durante toda a juventude no Colégio Diocesano de Garanhuns, onde  fez os cursos Primário, Admissão ao Ginásio e o Clássico, concluindo-os em 1965, ano do Jubileu do Diocesano. Viveu momentos inesquecíveis e obteve uma educação que lhe serviu de base para toda a vida. Logo aos vinte anos mudou-se para Recife, cidade  onde bacharelou-se em Comunicação Social  (Jornalismo), concluindo em 1968 e Direito em 1973 pela Universidade Católica de Pernambuco; no ano de 1986 concluiu seu Mestrado em Ciência Política pela Universidade de Pernambuco.

Logo que adentrou à Faculdade de Jornalismo, Manoel Neto foi contratado para trabalhar no Diário de Pernambuco, empresa séria e  consolidada em todo Estado, que o teve em seus quadros por vinte anos, de 1967 a 1987, escrevendo sobre assuntos relacionados à educação, ciência e pesquisa. Período esse em que desenvolveu todas as qualidades de um bom jornalista, tornando-se um profissional reconhecido e respeitado por todos. Foi redator especializado da antiga Agência Nacional, Sucursal-Recife; fundador e diretor do Jornal O Judiciário, com sede no Recife; fundador e diretor da Polys Editora, Recife; produtor e apresentador de programas no Núcleo de Rádio e TV Universitária (UFPE), 1984/94.

Professor Manoel Neto, como é mais conhecido, lecionou nos cursos de Direito e Administração da Faculdade de Ciências Humanas de Pernambuco e da Autarquia do Ensino Superior de Garanhuns - AESGA. Faz parte da Academia Pernambucana de Letras Jurídicas (Cadeira 44), da Academia Olindense de Letras (Cadeira 23); da Academia de Letras de Garanhuns (Cadeira 19) e Instituto Histórico e Geográfico de Olinda.

Sua carreira como escritor teve início na década de oitenta, lançando o livro "Descaminhos da Universidade",  pela Editora Universitária da Universidade Federal de Pernambuco. Com um título considerado ousado para a época, a obra é composta basicamente por dois elementos, o analítico que aborda a decadência do ensino superior e também sobre questões políticas, e o segundo momento é o objetivo, que trata do levantamento da pesquisa que ocorreu ao longo de vários anos sobre o ensino superior no Estado de Pernambuco, desde 1827 com a fundação do primeiro curso jurídico do Brasil em Olinda, até o ano de 1980. Logo em seguida foi coautor do livro "Retórica", como encerramento do seu Mestrado em Ciências Jurídicas da Universidade Federal de Pernambuco e autor da série Multivisão - volumes I,II, III, IV e V.

Em 1994 escreveu uma obra que foi muito gratificante e que lhe trouxe lembranças de sua doce juventude em nossa cidade. Foi o livro "O Diocesano de Garanhuns e Monsenhor Adelmar - De Corpo e Alma", uma obra que narra toda história do Colégio Diocesano de Garanhuns, uma espécie de retribuição pelo alicerce cultural que o colégio lhe deu ao longo de sua juventude; esse livro teve sua segunda edição publicada em 2000. No ano de 2003 foi lançado "Olinda, das Colinas a Planície", livro que foi considerado pelo Instituto Histórico de Olinda como "O Livro do Século", e além disso uma obra que foi apoiada e abraçada por todos os olindenses. Em seguida lança a obra "Pinto Ferreira Vida e Obra", uma síntese da vida desse grande filósofo brasileiro, uma pessoa que conseguiu alinhar perfeitamente sua genialidade com uma  vida simples, humilde e digna.

Em 2016 Manoel Neto lança o livro "Garanhuns - Álbum do Novo Milênio (1811-2016)". A obra versa sobre múltiplos aspectos e fatos relacionados com a história de Garanhuns, desde os tempos de sua formação inicial como Vila, a formação dos poderes, Legislativo, Executivo e religiosos; o desdobramento urbanístico com suas avenidas, ruas e bairros, suas instituições civis e educacionais até manifestações artístico-culturais. 

Manoel Neto Teixeira, um exemplo de batalhador, jornalista, educador e acima de tudo um cidadão que honra a todos.

CIDADANIA GARANHUENSE


Manoel Neto Teixeira
Texto de Manoel Neto Teixeira*

Quando Duarte Coelho Pereira, Donatário da Capitania de Pernambuco, escreveu para o Rei de Portugal, em 1548, informando sobre a criação da Câmara da Vila de Olinda e os primeiros atos aprovados pelos vereadores da época, estava registrando para a história  dois Fatos relevantes: o pioneirismo do solo pernambucano na instalação da primeira casa legislativa do Brasil colônia e, ao mesmo tempo, confirmando a sua participação na discussão, aprovação e consequentemente legitimação dos atos  e ações político-administrativos na vida das comunidades.

Faço este registro, de natureza histórica, para realçar a importância do Poder Legislativo, que tem a corresponsabilidade, ao lado do Poder Executivo, na condução do processo político-administrativo de cada uma das três unidades que formam a nossa Federação. As Câmaras de Vereadores surgiram assim desde os primórdios - Brasil Colônia, Brasil República - e se  consolidam até hoje como casas de ressonância das expectativas e aspirações de povo.

D. Alzira Alves Teixeira
Em nenhum momento, até mesmo nos períodos mais obscuros, conhecidos como regimes de exceção, autocráticos - e foram os mais longos da nossa história -, o município jamais  perdeu sua força e importância para o conjunto da sociedade. Constitui geografia sentimental, dimensão espaço/tempo onde exercitamos os sentidos da natureza humana, desde os primeiros anos de vida, nas relações familiares, sociais, culturais, políticas e profissionais de cada cidadão.

O território brasileiro, esse continente, está dividido em cerca de cinco mil e quinhentos municípios, os quais formam os vinte e sete Estados, além do Distrito Federal, sede do Governo Central. O município é uma das três unidades que formam a Federação brasileira, gozando de autonomia político-administrativa, conforme  o mandamento constitucional.

Sr. Henrique Jacinto da Silva
Para o homem, ideal seria muito ter necessidade de sair da terra natal para assegurar, não raro a própria sobrevivência, como foi o caso do nosso presidente recém-eleito Luiz Inácio Lula da Silva, impelido pelas circunstâncias socioeconômicas, ele  e sua família, tendo que deixar, anos 50, para sobreviver nas terras do sul, fenômeno político assimilado nos versos "A Triste Partida", de Patativa do Assaré, com música e interpretação do genial Gonzagão; outros migram, em condições menos traumáticas, como é  o nosso caso, graças ao apoio e às condições familiares, em busca de oportunidade para desenvolver suas potencialidade profissionais, levados, quase sempre, por fatores alheios à própria vontade.

Nessa dimensão, o migrar e emigrar são fenômenos que se projetam na vida humana, desde a pré-história, quando ainda, sem a delimitação geofísica, política e econômica do planeta terra, o homem circulava de forma nômade, sem a cultura da fixação definitiva em dado espaço, O que só veio concretizar-se milênio depois, com a conquista do território e, este por sua  vez, dividido em unidades, onde o município, no caso brasileiro, foi a primeira célula, numa histórica antecipação ao próprio surgimento do Estado nacional.

Tive, contudo, a felicidade de migrar, aos sete anos de idade, de Itaíba, sertão pernambucano, para Garanhuns, cidade polo do Agreste Meridional, tangido pela visão dos meus queridos pais, Alzira Alves Teixeira e Henrique Jacinto da Silva, e  de outros familiares, minhas queridas tias Luiza Moreira e Ercide Barros, estas, já residindo aqui, nesta maravilhosa terra, era início dos anos 50. A todas elas, minha eterna gratidão.

Aqui, depois de alguns meses de instrução informal com a professora Nair Moreira, da saudosa memória, e a quem rendo minhas homenagens, subi a ladeira a matriculei-me no Colégio Diocesano, onde conclui o curso Clássico em 1965, ano do Cinquentenário dessa querida e amada instituição. Garanhuns, à época, não tinha ensino de terceiro grau, o que levou-me a migrar novamente, desta feita, para a capital pernambucana, onde  fiz minha carreira acadêmico-profissional, inicialmente como repórter do Diario de Pernambuco, onde laborei e aprendi nessa grande escola, durante 20 anos ininterruptos, ao lado de outros garanhuenses, amigos e contemporâneos, Marcílio Viana Luna, Gladistone Vieira Belo, Zenaide Barbosa, Ronildo e Waldimir Maia Leite. Mas foi daqui que levei a bagagem que me  credenciou a palmilhar esses caminhos, bagagem colhida sobretudo no Gigante da Praça da Bandeira, com eminentes mestres, Luzinette Laporte, Isaura Medeiros, Lenice Falcão, Levino Epaminondas de França, Manoel Lustosa, Maria José Miranda, Maria José Ferreira, Erasmo Bernardino Vilela, Hilton Rodrigues, Almira e Arlinda Valença, Elzira Pernambuco, Lourdinha Moraes, entre outros, sob a liderança do mestre de sempre, Mons. Adelmar da Mota Valença, muitos dos quais, já em outra dimensão, e aos quais, minha eterna gratidão.

Senhor Presidente, senhores vereadores, senhor Prefeito: migrei para o Recife, naquele ano, de muitas dificuldades  políticas, pois estávamos no limiar do golpe de 64, para o qual, a imprensa e a universidade eram dois segmentos perigosos e ameaçadores, posto que são canais de reflexão, assimilação e transmissão de informações e conhecimentos. Parti mas  não deixei Garanhuns, levei-a comigo, no meu coração, no consciente e inconsciente, ela, palco insubstituível e inesquecível da minha infância e adolescência, onde sonhei os sonhos próprios dessa idade, de um jovem que desde cedo incutira a ideia do  dever ser, assumindo posição cívica-profissionais capazes de  contribuir para a sociedade, carregando em mim, simultaneamente, a consciência individual e a coletiva, condição inerente à natureza humana, conforme aprendemos com os eminentes mestres Cláudio Souto, Pinto Ferreira e Durkheim. Garanhuns continua sendo, para mim, município, pátrio e universo, pois sempre me considerei e autoproclamei, orgulhosa e sentimentalmente, cidadão desta terra.

Pedro Leite Cavalcanti
Se já era fato, agora, com esta formalização, passo a ser Cidadão Honorário, portanto de direito, o que me desvanece. Menos por méritos próprios e muito mais pela delicadeza e  bondade dos senhores vereadores, entre os quais destaco o autor do Projeto de Resolução 896/2000, o ex-vereador Pedro Leite Cavalcanti, homem simples e atualizado, de braços com a cultura desta terra, ex-aluno que honra o Colégio Diocesano de Garanhuns, pela sua conduta ilibada e exemplar de cidadão e homem público.

Foi com esse sentimento que, trinta anos depois de haver migrado, voltei com um projeto elaborado e, após despachar com o Mons. Adelmar e o Professor Albérico Fernandes, atual diretor, numa manhã de abril de 1994, juntamente com minha querida companheira e amiga, Wânia Nóbrega, tive a felicidade de produzir O Diocesano de Garanhuns e Mons. Adelmar, de Corpo e Alma, agora na segunda edição. Durante três meses, hospedado no Hotel Petrópolis, despachei diariamente com o Mons. Adelmar, colhendo dele orientação, documentos e tendo acesso ao seu arquivo particular, para elaboração do livro. Foram  momentos de muita felicidade, inesquecíveis, para mim, sem o que, não teríamos elaborado a pesquisa. Momentos compartilhados com a eminente mestra Maria José Ferreira, assessora de todas as horas do Mons. Adelmar, principalmente nos  últimos anos de sua profícua existência entre nós, bem como de  outros professores e funcionários do Colégio. Sabia do meu  compromisso e responsabilidade, pois estava a pesquisar e escrever não apenas a história da mais importante instituição de ensino do interior de Pernambuco, mas ao mesmo tempo, parte significativa da própria história deste município, pois esta não estará completa se não reservar páginas de ouro à vida e obra do Mons. Adelmar, à frente do Colégio Diocesano, na maior parte do século XX.

Monsenhores José de Anchieta Callou e Adelmar da Mota Valença
Agradeço, por fim, a todos, poderes constituídos, aos amigos e contemporâneos, com os quais tenho a felicidade de conviver e aprender, todas as vezes que volto a esta terra, Humberto Alves de Moraes, Ulisses Pinto, Almir Alves, Roberto Almeida, Paulo Gervais, João Marques, Osman Holanda, Nivaldo Tenório, Luzinette Laporte, Rossini Mouta, Ivo Tinô do Amaral, Marcio Quirino, para citar apenas os mais próximos. Com esta formalização sinto-me desafiado a redobrar esforços para retribuir um pouco do muito que de Garanhuns recebi. Faço minhas, aqui, as palavras do Mestre de sempre e de  todos nós, o inexcedível Mons. Adelmar, quando recebia, ao lado também do Mons. Anchieta Callou, os dois primeiros títulos de Cidadãos Honoríficos de Garanhuns, em sessão solene e memorável desta mesma Câmara de Vereadores, sempre atenta e vigilante como a casa do povo,  numa noite fria e invernosa de 19 de  de março de 1958: "Garanhuns nada me deve; ao contrário, devo tudo a Garanhuns".

Muito obrigado.

Discurso de agradecimento ao título de "Cidadão Honorário de Garanhuns", concedido pela Câmara de Vereadores, sessão de 29 de novembro de 2002.

Fotos: (1) - Manoel Neto Teixeira; (2) - D. Alzira Alves Teixeira, mãe de Manoel Neto Teixeira; (3) - Sr. Henrique Jacinto da Silva, pai de Manoel Neto Teixeira; (4) - Ex-vereador Pedro Leite Cavalcanti, autor do Projeto que concedeu a o Título de Cidadão; (5) - Monsenhores José de Anchieta Callou e Adelmar da Mota Valença recebem Título de Cidadão  de Garanhuns em 19 de março de 1958; (6) - Resolução e o Projeto de Resolução.

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