sexta-feira, 17 de janeiro de 2025

A nostalgia de Portinari

O jovem Candido Portinari

Sebastião Jacobina | Garanhuns, 09/12/1994

Entendo que na arte literária - em prosa e verso - como "leitmotiv", nas ocasiões que me são dadas nesta página de Letras e Artes, a infância é tema constante na obra dos mais variados gêneros e movimentos literários, não se esgotando na iteração do assunto.

A nostalgia, apesar da existência de certa restrição à sua significação na conduta humana - considerando-a alguns como qualidade negativa do pensamento, alegando-se-lhe o conceito de possuir nuance sentimentalista. Atribuem, os que assim pensam, ser o cotidiano de medíocres escritores. Tese esta contraditada ostensivamente por muitos escritores.

Octávio Paz, poeta mexicano, prêmio Nobel de Literatura, perguntando sobre o culto ao passado, à memória, objetivada em Proust, na sua Em Busca do Tempo Perdido, se ele fez poesia naquela obra, esclareceu com precisão: Sim, pois a poesia recupera o passado, a poesia é a imaginação e a memória. Torna presente o passado.

Este meu fascínio pela recorrência dos bons autores à idade pueril, cada vez se consolida mais, quando a encontro inserida, transcendente, num escrito de natureza poética.

Antonio Calado, de grande atuação na inteligência brasileira, em trabalho crítico perfilando a vida artística do pinto Candido Portinari, traz a público, uma faceta deste imenso criador de beleza plástica nos seus painéis e murais disseminados nos ditos meios culturais civilizados deste velho mundo. Desvela para todos nós, a poesia de Portinari, ressumando de ternura, tendo como protagonista a evocação do seu viver de menino e a melancolia sentida quando ele entra no viver do mundo adulto da sociedade.

Não têm títulos os versos. Leiam o poetar de Portinari no seu sentido as mutações da vida:

Na infância lidava mais com os 

pássaros, os animais, as árvores,

as águas, as nuvens, o céu estrelado e o vento.

Mais tarde comecei


a tratar com os homens a 

diferença deixou-me tão triste,

 nunca mais me alegrei

Na infância amei a brisa.


Palavra nas esquinas esperando-a

ou a sentia de longe e a lua

de São Jorge lá de cima a acompanhava

clareando-lhe o caminho.


No firmamento vi nossos sonhos.

Créditos da foto: https://brasilescola.uol.com.br/artes/candido-portinari.htm

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