terça-feira, 1 de agosto de 2023

Senhor Alfredo Leite Cavalcanti


Dr. José Francisco de Souza* (foto) | Garanhuns, 23 de dezembro de 1978 

Vultos das Ruas - O homem muitas vezes aparece no campo político e social, por coincidência de certas  perspectivas. Exerce mandato popular por  circunstâncias alheias à sua própria vontade. Encontra-se por atitude no meio populista, sem entretanto, merecer a simpatia do povo. Representa o que não o é, por natureza. E por mera atitude faz muitas coisas que não quer. É sempre sujeito aos movimentos circulares da roda viva. A sua presença é simplesmente um ato físico do trabalho humano. Ainda não é uma figura autônoma. Um ser só deve se  considerar independe - quando é senhor de si mesmo. Ou seja quando deve a si mesmo o seu modo de existir. Nesse estado é capaz de criar no Eterno. Em seu campo de atividades surgem muitas opções. Pela escolha inteligente de algumas delas o homem conquista o direito de se afirmar. Começa a se projetar no cenário da vida comum. Torna-se um elemento polêmico e intransigente no que tange a sua pontura política. No curso natural das coisas o seu comportamento psicológico começa a mudar. E sugere a si mesmo a possibilidade de melhor servir ao seu grupo. É uma  espécie de evocação inconsciente do passado. É uma regressão de memória que não bem compreendida conduz a falsa interpretação. E o homem transforma-se em passadista ortodoxo. Daí a versão por tudo que se renova pelos impulsos naturais da vida. Voltando para o passado que é o não-ser. Nem sempre se projeta para o futuro (o vira-ser) e foge constantemente à realidade presente. Nestas circunstâncias pode fazer a sua própria história - mas não a faz sob o domínio de sua escolha e sim sob o domínio das que se defronta diretamente, legados e transmitidas pelo passado. A força do determinismo histórico postula que: "A tradição de todas as gerações mortas oprime como um pesadelo o cérebro dos vivos". Pertencente a historiografia, a arte de escrever a história, ou seja descrever os acontecimentos que se desenrolaram no longo do tempo. Já a filosofia da história é a maneira de analisar e interpretar os acontecimentos. O historiador ou historiográfico não deve imaginar fatos inexistentes e nem justificar predileções. O direito de informar as coisas sérias é conquista do espírito de alta indagação. A liberdade de informar corresponde ao dever de informar todos os acontecimentos sem parcialidade. Mesmo no campo da história o imperialismo pode dominar. Há imperialismo no momento em que somos obrigados e constrangidos a escolher não o que queremos -  mas o que nos dão. Deve existir oportunidade ao leitor da história, no sentido de transformar os seus conhecimentos em cerimônia festiva.

Alfredo Leite Cavalcanti

Alfredo Leite Cavalcanti não era filho da cidade das flores, dos cravos e das boninas.

Surgiu por aqui, no período de sua infância. Foi elemento de destaque da numerosa família Leite Cavalcanti. Todos se estabeleceram no altaneiro Bairro da Boa Vista. E ali viveram muitos anos e construíram considerável patrimônio econômico. As suas atividades foram muitas e várias. Foi empregado da firma Sátiro Ivo até a famigerada hecatombe. Depois serviu como auxiliar de escrita no Escritório da Fábrica "Trajano de Medeiros". 

Fundador da Banda Musical Independente, onde tocava trombone. Gostava de teatro e foi um dos componentes do Grêmio Polimático de Garanhuns. Fora  contemporâneo de José Elesbão, Arthur Maia, João José de Carvalho e o nosso dileto amigo Manoel da Cruz Gouveia. Nas horas vagas matava as saudades dedilhando com certa habilidade o instrumento de Tárrega. Foi o pioneiro dos transportes coletivos e manteve por muito tempo um  bem organizado serviço de ônibus. Gostava do velho poeta Catulo da Paixão Cearense e sabia de memória quase todos os poemas do "Marroeiro". Quando esteve no Rio de Janeiro, visitou o velho poeta e pousaram juntos para a posteridade. Vereador pela legenda da UDN cumpriu bem o seu mandato como político e levou muito a sério o partido do Brigadeiro Eduardo Gomes. Depois de seu mandato a Câmara de Vereadores agraciou-o   com o título honorífico de "Cidadão de Garanhuns".

Alfredo Leite Cavalcanti escreveu a História de Garanhuns (dois volumes). A doação de sua postura intelectual foi mais um exaustivo trabalho de  pesquisa. sem diversificar esse tipo de pesquisa através de Bibliotecas. Limitou-se a consultar os Arquivos Cartorários. Convidado pelo Professor Uzzae Canuto, ao lado da nossa querida amiga Professora Ivonita Guerra, fizemos na Faculdade de Garanhuns, a sua apresentação. A sua palestra sobre História de Garanhuns correspondeu à confiança dos dirigentes da nossa Faculdade.

Não era orador propriamente. Sabia, contudo, transmitir o seu pensamento. O Prefácio da História de Garanhuns é do professor João de Deus de Oliveira Dias. Trabalho de  alto porte intelectual em que o mestre teve a oportunidade de revelar os seus profundos conhecimentos de nossa formação geográfica, ecológica e histórica. É um trabalho de mestre. Sobretudo pelo gabarito intelectual do seu autor.

Alfredo Leite Cavalcanti faleceu aqui na terra onde viveu e amou com todas as forças de  seu espírito. Os seus  olhos se fecharam para  este mundo de lágrimas, já em idade avançada. Foi vereador, músico, trabalhou em teatro, historiador, é portanto, mais um dos vultos da nossa terra, da cidade centenária.

*Advogado, jornalista, cronista, poeta e historiador.

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