sábado, 26 de agosto de 2023

Garanhuns tem Petróleo?

José Rodrigues da Silva*

Lendo uma artigo do Tenente Nelson Paes de Macedo, há algum tempo publicado no jornal O Monitor, constatei que o jornalista em apreço é da mesma opinião do engenheiro eletricista de saudosa memória, Ruber van der Linden, a respeito da existência de petróleo em Garanhuns.

Nelson Paes diz que a revista Cidade, ano I - número 2 - de junho de 1940, páginas 12 e 13 publicou um trabalho de Ruber van der Linden, um dos maiores vultos de nossa terra no século XX, no qual se reporta a um fato acontecido aqui,  referente a possibilidade da existência de petróleo no município de Garanhuns, cujo artigo, achamos por bem escrever.

"Naquele ano calamitoso de 1911, impiedosa canícula monções escassas e sóes abrazantes, secaram o solo, estiolando as searas e resumindo as colheitas. O ano de fome e peste, sem méses e prenche de flagelos; de celeiros vasios, pastagens ressequidas, assinalou, para nossa gente, o advento de uma promessa de melhores dias, com o estabelecimento de dry farming, a lavoura seca, na serra dos guaráanhuns. Garanhuns recebeu jubilosa naquele ano de desgraça, a caravana Yankee, que  vinha no solo ressequido e sáforo, levantar colheitas ótimas, sem inverno, sem chuvas, em terra seca, em rigoroso estio. Encheram-se as ruas de gente estranha, e de linguajar atravessado, algibeiras transbordando dólares, semeando dinheiro de ganho fácil e arrebanhando os "chomeurs" da seca para o trabalho leve e salários altos.

Duzentos contos fôra a dotação do Governo da República, para que a comissão americana ensinasse aos descendentes de Simôa Gomes como lavrar e colher sem chuvas, e como semear no verão e fazer brotar sem orvalho, altear caules virentes sem inverno e arrancar dessa "lavoura seca",  ilógica, e incrível e desconcertantes colheitas ótimas e mésses compensadores.

Naquele setembro escaldante, sob um sol equatorial, abrazante, o arado sulcou o solo, esborroando-o em torrões. A Síliva esteril foi enrrequecida com fertilizantes; saciaram a fome secular da terra com um reposto copioso de mumus. A semente foi lançada, germinando sem vigor, a custa da humidade escassa do subsolo que as alvecas trouxeram à superfície; surgiram plantinhas anémicas, sedentas e cristadas pela canícula, prometendo colheita melhor do que a semeadura. Era  mister irrigá-las. Era preciso molhar a lavoura seca. Na ausência de rios, nestes cumes altaneiros, apelaram-se para poços freáticos e águas subterrâneas. No abundante material da dotação havia uma PERFURATRIZ".

Aí está, portanto, um depoimento de um dos grandes pesquisadores de riquezas do solo. Vemos, assim que, em 1911, o Governo da República doava duzentos contos de réis a uma companhia americana para procurar petróleo em terras de Pernambuco. Há quem diga que essa companhia constatou a presença do ouro negro, nas imediações do local onde foi construída a nossa Estação Rodoviária, porém, não sabemos o porquê do silêncio que  a referida companhia adotou sobre o assunto da descoberta.

Uma pressão, não sabemos de quem, fez calar a boca de muita gente, e anos depois, Monteiro Lobato foi trancafiado por afirmar que o Brasil tem o maior lençol de petróleo do mundo. É claro que a previsão do homem do Sítio do Pica-Pau Amarelo foi um tanto exagerada, todavia não se pode negar que o Brasil tem petróleo, e muito.

A opinião de Ruber van der Linden e de Nelson Paes de Macedo, sou do parecer de que, neste momento em que todas as vistas das autoridades estão voltadas para busca de petróleo, seria de bom alvitre meter as sondas da Petrobras no solo bendito da terra onde o "Nordeste Garoa" para que seja retirado daqui de Garanhuns, o petróleo necessário ao abastecimento da região nordestina. Foi mantida a grafia original da época. (Mantida a grafia da época).

*Jornalista, professor e historiador / Garanhuns, ano 1979.

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