terça-feira, 1 de agosto de 2023

Garanhuns na década de 1940


Marcílio Lins Reinaux*

O trem vindo do Recife, apito, fumaça

"Seu Reinaux", na porta da loja.

Rapazes em gritaria vendo o 

Bêbado" "Maria Bacharé", cambaleando

cheio de cachaça.

Meninas alegres, saindo do

Colégio Santa Sofia.


O bardo, o carrinho de madeira,

Brinquedos de criança, com o pião

e a "chimbre". Nas festas de rua

o trivulim; andanças em burricos.

No mês de maio o terço.

Botijas, nas noites de Medo,

Cadê o luar? No mundo da gente,

A criança no berço, no chôro

No riso, a esperança de amar...


Garanhuns, leite fresco pela manhã,

entre o chocalho e o chifre de gado.

Nas noites, a vida sob céu estrelado

Amigos fraternos, companheiros do Diocesano

Flávio Matos, Angelo Gouveia, Edelson Dourado

O comércio, com Duda Diletiére,

A "Atrativa" de seu matos; sapataria moderna;


Phamácia Osvaldo Cruz, Livraria Escolar,

Ferreira Costa, Lojas Paulistas. O bilhar,

o caldo de cana, seu Belarmino barbeiro.

Loja Koury, Esperidião fotógrafo;

O médico Godofredo, seu "Xixi da Banda".

"Pola", e o mudo carregador da estação.

O café Glória do Senhor Anísio Pinto.


Na rua do Recife, (a minha rua)

A madrinha Beatriz, todo sábado

Seguindo pra feira, lá tomando a bênção

e recebendo uma pratinha.

Lembro ainda o grito de "Lôro", o

sorveteiro, no cinema, na tarde domingueira.


Do amor à terra o acalento primeiro,

saudade modorrenta, do frio de Garanhuns.


Colégio Quinze, austeros missionários;

O arraial, "O Pau Pombo", Vila Maria

Rua Pôrto da Fôlha, Rua da Areia, a

Cadeia e o matadouro. A Boa Vista

com a igrejinha dominando a colina.

Padre Adelmar, Padre Godoy, Mister Thompson;

O Bispo Dom Mário Vilas Bôas; Monsenhor Callou.

Pipe Dourado; Dona Dulcina.


"Gente", a senhora que catava piolho;

Seu Augusto, o carregador da Loja,

A bomba de gasolina de meu pai (manual).

O pão doce da padaria Zé de Souza,

e sonhos de criança, feitos, desfeitos.


Garanhuns querida, quanta lembrança

dos tempos, do meu passado, meu tempo de criança.

*O professor Marcílio Lins Reinaux é cerimonialista, mestre de cerimônias, fundador e Presidente da Academia Brasileira de Cerimonial e protocolo – ABCP. Professor de história da Arte (aposentado) da Universidade Federal de Pernambuco. Historiador, pesquisador e escritor, tendo 32 livros publicados, dos quais seis são prêmios literários de diversas instituições culturais de Pernambuco e cinco tratam dos assuntos de cerimonial. É relações públicas, fundador do Conselho Federal de Relações Públicas, advogado e jornalista.

Foto: Rua Dr. José Mariano (antiga Rua do Recife) na década de 1940.

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