Marcílio Reinaux*
Garanhuns também viveu dias de prosperidades, em meio às naturais dificuldades de uma cidade encravada entre colinas no Agreste Meridional do Estado. As décadas de 1930, 1940, foram aquelas que entremearam a minha infância, posto que nasci em 1934. Assim, no meu tempo de menino, é óbvio que visse tudo "as mil maravilhas", sem conhecer os problemas da luta pela sobrevivência. Estes estavam a cargo, é claro do meu pai, que administrava uma grande família, e ele como comerciante, a mim me dava a impressão de ser homem rico. Tinha casa, tinha automóvel, tinha a loja e gozava de grande conceito no meio empresarial e na sociedade.
Olhando para essa visão - de certa forma telúrica - do comércio, das lojas, do povo e do grande movimento da Avenida Santo Antônio, principalmente nos dias de sábado com a grande feira espalhada, recordamo-nos das muitas casas comerciais daquele tempo, a maioria dela - como é de se esperar - já desaparecidas e por outras substituídas. Mas há momentos inesquecíveis como aqueles em que algumas tardes, descia com alguém da casa e ia até a Agência Reinaux, a loja do meu pai. Lá ele me dava 100 réis, ou 200, conforme a disponibilidade, com os quais eu ia diretamente à Padaria de Zé de Souza (chamava-se Padaria e Mercearia Royal) e ali comprava pão doce, degustado com excelente caldo de cana ali das proximidades.
Nas idas e vindas ao comércio e às ruas, muitas imagens se fixavam, das lojas, dos prédios, das pessoas e de tudo mais que fazia a vida e Garanhuns. Afortunadamente guardei recortes de anúncios de comerciantes, dentre aqueles mais conhecidos e considerados mais importantes. Esses anúncios estão a seguir, aqui representados. Nos levam à uma visão retrospectiva dessa passado agradável, retido na memória dos sexagenários (ainda vivos de hoje), dentre os que nasceram ou viveram alguns dias em Garanhuns. Sem maiores comentários, os anúncios representam uma espécie de "viagem" ao passado, tanto na forma, na grafia, nas letras, nas ilustrações, que evocam costumes e atividades da época. Os anúncios aqui apresentados foram tirados de "Prospectos", jornais, folhetins e outros tipos de publicações daquele período.
Alguns desses são memoráveis e nos tocam mais perto, como o anúncio da Sapataria Moderna (do Seu Pereira, amigo do meu pai), casa Paraguassu (do marido da prima Chiquita, filha da tia Satú), da Farmácia dos Pobres (de M. G. Barros), a Farmácia Osvaldo Cruz (de Hermano Freire, que duas filhas lindas), do Hotel Garanhuns (na Avenida Santo Antônio, 531) e, o fantástico CAFÉ GLÓRIA, mais completa sorveteira, confeitaria, restaurante e completo serviço de frio. Ponto de Encontro dos homens, empresários, comerciantes para "um dedo de prosa", falação da vida alheia, "solucionar" os problemas do País, e sobretudo tomar um cafezinho. Havia alguns habituês que no final da tarde lá se encontrava. Meu pai com eles: Desdedith Maia, Pereira, Othoniel Gueiros. Dr. Godofredo, Manoel Gouveia, João Tude de Melo, Manoel Paulo, Abdias Branco, Seu Câmara e por algumas vezes o Juiz doutor Lito. E como não poderia deixar de capitanear as reuniões do cafezinho o seu proprietário: Arnóbio Pinto. Assim o Café Glória, ficou agregado à História de Garanhuns, por mais de três décadas. Outros anúncios destacados: Manoel Pedro da Cunha (exportadores de algodão, café, mamona, couros). Livraria Helena (viúva de Féliz Pereira), Mercearia Vitória, Loja do Povo (das mais antigas), Café Central, também muito destacado com o proprietário Sandoval, Concessionária Ford, de Abdias Branco, A Radiante (de João Anselmo), A Sultana (de Elias C. Alliz).
O Bando do Povo, também anunciava, colocando os nomes da Diretoria do Banco e do Gerente, bem como um resumo dos valores. Lavraria Escolar de Manoel Gouveia, a nossa livraria onde lá íamos comprar os livros escolares, a cada ano, na Avenida Santo Antônio, 249. Israel Pereira Lopes, tinha duas lojas: Casa Marlene e Agência Marli, nomes de duas filhas, também anunciava muito. Ainda a Popular, Alfaiataria Koury de Jorge Koury, irmão do Jaime Koury, casado com minha prima Celina Moura, filha de Sebastião Moura, outro grande comerciante de Garanhuns. Ferreira Costa, foi e tem sido a mais importante e tradicional firma de ferragens de Garanhuns. Foi fundada em 1884, tem portanto, 116 anos de existência passando de geração a geração e por tradição de família os negócios da grande empresa. Agora, já no Recife, marca sua presença, com arrojo e competência fruto da capacidade de trabalho do pai de Ciro Ferreira Costa, o que iniciou a grande jornada. Sem legendas específicas, até porque os anúncios são autoexplicativos, o leitor terá um devaneio saudosista ao rever este aspecto de Garanhuns do período relatado.
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