Não falamos todavia da sólida amizade que Amílcar Valença e Deusdedit Maia nutriram particularmente, enquanto na Câmara defendessem posições político-partidárias antagônicas!
Não sei se hoje em dia existe esse tipo de comportamento humano entre eventuais adversários, como, por exemplo, a reunião de próceres da UDN e PSD nas célebres vaquejadas que Lula Branco empreendia no parque do Arraial, denominado Euclides Dourado em homenagem muito justa que a municipalidade presta ao antigo prefeito e cunhado de Souto Filho.
Em passado recente, quando ainda estava entre nós a figura bondosa de Ivonita Guerra, ela escreveu-me uma carta na qual constou um recado de Amílcar: "Eu que sempre fui amigo do seu pai, além de correligionários no PSD, nunca vi nenhum artigo seu sobre mim e as duas administrações que como prefeito realizei em Garanhuns!"
À época estava escrevendo para este jornal, então dirigido pela competência de Lúcio Mário Pereira dos Santos, a série Garanhuns de antigamente e, tinha razão Amílcar, não o incluíra entre as personalidades enfocadas em mais de uma dezena de artigos. Não porque ele não fosse e tivesse sido um homem público dos mais importantes da nossa terra, mas simplesmente porque num lapso de memória houvera esquecido de inclui-lo. Posteriormente, não lembro-me se para o Diário de Pernambuco e/ou Jornal do Commercio, do Recife, do Recife, escrevi um ensaio sobre o Ciclo Amilcareano de Poder, com alguns elogios e algumas críticas ao "leiteiro" de São Pedro.
Esse cognome "leiteiro" lhe foi de grande valia quando com Petrônio Fernandes disputou a Prefeitura nos anos 60. Recordo-me que estava em visita aos meus pais em Garanhuns, e fui a um comício no bairro de São José, precisamente detrás da Cadeia Pública, prédio do PDV e a casa de Elias de Barros, onde, com Antônio Fininho (a última vez que o vi), Everardo Gueiros, e Vicente Cavalcanti, em derredor de Amílcar, conversamos sobre a disposição de Arraes fazer de tudo para ganhar a eleição municipal com Petrônio Fernandes!
Também fui a um comício da UDN defronte à Vila Maria e igualmente conversei com Álvaro Rocha, Zé Cardoso, Manoel Joaquim, o então estudante de medicina José Carlos Fernandes, irmão de Pedro Hugo, ambos sobrinhos de Petrônio, que naquele memorável pleito teve o apoio de Aloísio Pinto, Miguel Arraes e do PTB.
Naquela ano Ivo adentrava na carreira política como candidato a vereador e Antônio Fininho, mais tarde seu compadre, era um dos mais destacados colaboradores. Zé Inácio também pleiteava a vereança e Rogério Souto Maior, meu irmão, organizava uma bancada estudantil na UEG para apoiá-lo!
As campanhas políticas em Garanhuns sempre foram acirradas, uma briga de foice no escuro, porém, passada a eleição, a normalidade voltava à terrinha na mais santa paz do Senhor. O vencido cumprimentava o vencedor e vice-versa esqueciam os ataques da campanha, e o trabalho abençoado de cada dia seguia abençoando a saúde física quando espiritual de ambos! Mesmo porque aqueles ataques não envolviam a honra e a dignidade de quem quer que fosse, ferinas farpas, isso sim, mas sem maiores consequências futuras - ao contrário dos tempos de Júlio Brasileiro e da Hecatombe, tão bem retratados em Anatomia de uma Tragédia, livro já consagrado do professor Mário Marcio.
"Doutor Guerra já ganhou
Essa grande eleição
Porque o povo que vota nele
Dá o seu voto de coração!"
"Eu não sei se vou pra Guerra
Ou se fique com Figueira
Se for pra Guerra sou baleado
E com Figueira morro enforcado!"
Essas duas quadrinhas dentre outras tantas do "hino" cantado numa paródia do baião de Luiz Gonzaga, os garanhuenses da minha geração ouviram cantar e/ou cantaram na disputa Doutor Guerra versus Coronel Figueira. Tal qual a anedota contada no botequim da esquina, ninguém viu e ninguém sabe quem foi o autor!
*Rinaldo Souto Maior / Jornalista e historiador / São Paulo, 25 de Julho de 1992.
Foto: Dr. Petrônio Fernandes.
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