sábado, 19 de agosto de 2023

Estrelas do céu

João Marques dos Santos

João Marques* | Garanhuns

Atrás de casa, era onde havia o céu com nuvens durante o dia, e estrelas à noite. Na frente, a ladeira e toda minha existência de menino. E a vida a subir  a ladeira, crescendo e conhecendo de lá outras pairagens. Isso é outro conto, das escaladas da vida pelos planaltos e caminhos da frente de casa. Atrás, o céu. E, de menino, comecei a observar e pensar estrelas. Pensar, porque vi que não era passarinho para alcançá-las voando.

Mas se voa também pela poesia. Os meus primeiros pensamentos foram  odes  às estrelas. Compreendia, como todo o poeta escreve. Descobri, depois, contudo, que havia outros pensamentos. Os astrônomos, meninos de ver as estrelas, como eu, mas já crescidos. Vida e morte das estrelas, distâncias, quantidades, em visões não poéticas. Matemáticas. Diferentes da poesia. Assim, foi necessário que pensasse mais, aproximado o possível dessas lâmpadas do espaço. E, sem me afastar da poesia, faço a minha fala detrás de casa. As estrelas são tantas... são tantas, mas tantas, que não tem conta nem imaginação que diga. Povoam o universo infindo. E se alguma explicação aproximada pode ser dada, é a dos poetas, que transcendem as coisas. Uma linha não é linha para tocar do outro lado algum extremo. É aqui, atrás de casa, o outro lado possível. Tão grande, que qualquer linha se perde, e se enrola, voltando ao ponto de partida. Ah cadê Galileu Galilei para  dizer que a terra e todos os astros são redondos. E que giram em elipses perfeitas, uns em redor dos  outros. E tudo, pela existência, tende à forma esférica. E que tudo é relatividade e energia. E é a inspiração pura do poeta. Duvide-se do indispensável retorno das coisas, pela manutenção da existência, e não se negue a possibilidade de tudo se renovar no universo, e que o movimento não é continuamente em linha reta. A poesia, por tudo, excursiona pelo espaço, e vai e volta na curvatura de todos os azuis e abóbadas. É poesia. É igual aos contornos do fruto e da rosa.

As estrelas são lindas e são sempre vistas e estudadas, também, pelos poetas. E em redor do mundo, que é grande, há sempre poetas olhando para cima. Os astrônomos com suas lentes de alcance longo; os poetas, reverentes, com suas ideias subjetivas e de alcance infinito. As luzes do mundo imenso, tantas, mas que se  permitem espalhar por cima da cabeça dos homens. E os que são  poetas entendem que todas elas são pedaços do grande poema universal. E o que se pode compreender sem o espírito da poesia? Estrelas do céu, que me dão a certeza da  existência e da vida infinita, com elas. Luzeiros da vida.

Adélia Maria Woellner, poeta em Curitiba, olha as estrelas e pensa poesia de sua janela de prata. Vê, se encanta e guarda-as entre os braços.

No espaço da noite,

projeto meu ser:


cavalgo cometas 

e me transformo

em caçador de estrelas...


Algumas vezes, meio encabuladas,

elas se escondem e nem posso vê-las.

São, todas, como fadas encantadas:

fazem-se as nuvens, só para escondê-las.

As minhas mãos se mexem agitadas, 

na ânsia de uma vez mais voltar e tê-las;

quero-as bailando e lá do céu soltadas,

para que possam meus braços contê-las.

*João Marques dos Santos, natural de Garanhuns, onde sempre residiu, é poeta, contista, cronista e compositor.  Teve diversas funções nas atividades culturais da cidade: foi Presidente da Academia de Letras de Garanhuns, durante 18 anos, Diretor de Cultura do Município e, atualmente, é presidente da Academia dos Amigos de Garanhuns - AMIGA. Compôs, letra e música, o Hino de Garanhuns. Mantém, desde 1995, o jornal de cultura O Século. Publicou quatro livros de poesia: Temas de Garanhuns, Partições do Silêncio, Messes do azul e Barro.

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