Lampião costurando em uma de suas máquinas Singer, em 1936 Foto: https://www.gazetadopovo.com.br |
Dr. Celso Galvão foi prefeito de Caruaru e Garanhuns por dois mandatos |
Em Recife, apenas as guarnições suficientes para garantir um eventual levante de apoio a São Paulo. O interior praticamente desguarnecido. Nestas condições se achava Caruaru. O ministro José Américo falhara nas promessas de enviar víveres solicitados pelas autoridades municipais caruaruenses. Cidade ultimamente sacudida pelas ameaças de Lampião, que tinha umas contas a ajustar com certos elementos, de lá, que o enganaram; e por ser a maior e a de mais recursos do interior do Estado, era a mais visada pelos famintos.
É quando imensa turbamulta de flagelados, ajustando-se ou tomando posição pelas cercas de avelós que contornavam as pequenas propriedades dos arredores, invadiu o centro da cidade e arrebentou e saqueou o Mercado de Farinha.
E é aí que, coincidente ou planejadamente, entrou em cena Lampião enviando um ultimato ao professor José Florêncio Leão, primeiro prefeito revolucionário de Caruaru: - ou lhe remeteria tanto (não se sabe quanto) dentro do mínimo prazo, - ou atacaria a cidade. Para isto, daria todo o seu apoio aos flagelados que, lá dentro, agiriam, através de grupos de entremeio, disfarçadamente enviados, como Cavalo de Troia ou quinta-colunas.
É importante notar que a data precisa deste acontecimento se situa na primeira quinzena do mês de setembro, quando Lampião, de modo invisível, perlustrando, com vários de seus grupos bem adestrados e equipados, pela ribeira do Ipanema, levou total sumiço. Talvez já pelas ribeiras do Una e do Ipojuca armando o seu dispositivo de ataque...
Em se considerando bem, a Lampião pouco se lhe importava Caruaru ser grande cidade de quatro ou mais torres de igreja. O fracasso de Mossoró não se repetiria. Ele conhecia muito bem a região desde os longos tempos de almocreva, quando ia ver ancoretas de cana em Vitória de Santo Antão. Também, de melhor experiência, sabia como e por onde eficientemente atacar.
A situação era gravíssima!
Que fez o prefeito?
Em companhia de políticos de influência, adversários entre si, mas então unidos para salvação da cidade - Dr. Adolfo Silva Filho (médico), Sebastião Cardim (comerciante) e Dr. Celso Galvão (dentista) - tomou um automóvel e, com toda urgência, tocou para predeterminado ponto do município de Belo Jardim, onde entregou ao emissário de Lampião (ou a ele próprio, talvez) a quantia estipulada (que devia ser avultada), arrecadada sigilosamente entre os ricaços da terra.
Assim Caruaru se livrou de um dos maiores feitos do Rei do Cangaço...
Alguém, entretanto, acha "impossível" e até "ridículo" Lampião querer atacar uma cidade tão importante como Caruaru. Ora! E não atacou Mossoró muito mais importante na época?
Fonte: Livro Lampião, Seu Tempo e Seu Reinado do escritor Frederico Bezerra Maciel.
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