José Hildeberto Martins | Garanhuns, 2006
Aos poucos, tudo vai cessando.
Processo indomável, físico,
Que atinge também o espírito,
É a velhice aportando.
Devagar, só debilitando,
A fala e a vista se apagam,
O viço e o ímpeto se acabam,
De barco vamos nós passando.
E não resolve lamentar.
Marcha à ré conduz o tempo,
Sem distinguir cara ou talento.
Coisa nenhuma a faz parar.
Reconheçamos esse dom, porém.
Vivamos a velhice bem atentos
À magia dos seus ensinamentos.
Às rugas e às cãs, diga-se amém.
Aqui, a morte esfomeada infesta.
Da vida e da beleza é parasita.
A vaidade é a trama que suscita
O orgulho que, na terra, também seca.
A Deus pertence a vida afinal.
E mesmo que, em jatos de segundos,
Provamos só um pouco deste mundo,
Seria ainda a bênção sem igual.
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