terça-feira, 22 de agosto de 2023

A velhice


José Hildeberto Martins | Garanhuns, 2006

Aos poucos, tudo vai cessando.

Processo indomável, físico,

Que atinge também o espírito,

É a velhice aportando.


Devagar, só debilitando,

A fala e a vista se apagam,

O viço e o ímpeto se acabam,

De barco vamos nós passando.


E não resolve lamentar.

Marcha à ré conduz o tempo,

Sem distinguir cara ou talento.

Coisa nenhuma a faz parar.


Reconheçamos esse dom, porém.

Vivamos a velhice bem atentos

À magia dos seus ensinamentos.

Às rugas e às cãs, diga-se amém.


Aqui, a morte esfomeada infesta.

Da vida e da beleza é parasita.

A vaidade é a trama que suscita

O orgulho que, na terra, também seca.


A Deus pertence a vida afinal.

E mesmo que, em jatos de segundos,

Provamos só um pouco deste mundo,

Seria ainda a bênção sem igual.

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