terça-feira, 25 de julho de 2023

João Gonçalves de Melo

João Gonçalves de Melo (foto) nasceu no Sítio Maia, Lagoa do Ouro, Pernambuco, à época Vila de Iguatauá, no dia 5 de novembro de 1923. Era filho primogênito do casal José Gonçalves de Melo e Firma Maria do Espírito Santo. Depois nasceram Antônio, Arlindo, Francisco, Augusto, Eulália, Laura e José Gonçalves Filho.

A agricultura era à base de sobrevivência da família, e com muito trabalho e perseverança, José Gonçalves prosperou e resolveu mudar-se com a família para Lagoa do Ouro. Dotado de visão de empreendedorismo, abriu uma padaria e uma loja de tecidos, secos e molhados, na Praça da Conceição. Os negócios também incluíam a compra e venda de cereais e de algodão para os armazéns e fábricas de beneficiamentos de Garanhuns.

Nessa época, João Gonçalves juntamente com os irmãos ajudava nos negócios da família. Não havendo em Lagoa do Ouro escolas de curso ginasial, ele foi matriculado no internato do Colégio Diocesano de Garanhuns, onde fez o curso de 2º Grau Propedêutico, um ensino profissionalizante. Não chegou a concluir, pois num final de semana ao retornar para casa, descendo do ônibus se deparou com a jovem Conselhense Maria das Dores Dias Farias, depois de cortejá-la, iniciaram o namoro e se casaram em 28 de agosto de 1944. Foram 56 anos de casamento, quando no ano de 2000 sua esposa faleceu.

Do matrimônio de João Gonçalves de Melo e Maria Dias Gonçalves nasceram nove filhos: Nelma Dias Gonçalves, Gelva Dias Gonçalves, Cléa Gonçalves Dias, Genilda Dias Gonçalves, Maria de Fátima Dias Gonçalves, Genilza Dias Gonçalves, Juciene Dias Gonçalves, José Espedito Dias Gonçalves e Ana Lúcia Gonçalves Dias.

João Gonçalves seguiu as lições dos pais de honestidade, retidão e determinação para o trabalho. Para não faltar nada para a família, trabalhou incansavelmente, colocando carrossel, onda e canoas nas festas natalinas, arrendou terras para o plantio de cereais, legumes e algodão. Em sua residência na Rua do Progresso, fabricou doces de tabuleiro e algodão doce, que eram vendidos nos dias de feira. Passado o tempo montou uma sortida barraca de produtos de alimentação e de fogos de artifícios nas festas juninas. Com mais recursos, alugou um depósito e iniciou uma pipoqueira, passando a vender com a ajuda das filhas nas festas dos sítios e povoados. Mesmo com toda essa rotina não deixava de ajudar o pai na loja e na tolda de tecido na feira de Igapó aos domingos.

Em 1958, migrou para São Paulo com esposa e sete filhos no ônibus da Real Norte Sul. Chegando a capital paulista, comprou uma carroça para vender frutas, porém, precisava de autorização para negociar. Tendo dificuldade com os fiscais, resolveu procurar o prefeito Ademar de Barros, indo até sua residência. A primeira-dama Leonor Mendes de Barros o recebeu e após ouvir sua história ficou compadecida, e disse-lhe que falaria com o esposo, pedindo-lhe que retornasse no dia seguinte. A resposta foi positiva, o prefeito entregou uma carteirinha autorizando-o a negociar.

Não completou um ano morando em São Paulo, resolveu embarcar a família de volta para Lagoa do Ouro e permaneceu mais um tempo em São Paulo. Algumas semanas depois decidiu retornar a cidade natal. No seu regresso, abriu uma banca de jogo de bicho, voltou a ajudar o pai na loja, e um tempo depois, recomeçou a trabalhar na agricultura.

No final de 1961, conseguiu com suas economias financiar pelo Banco do Povo de Garanhuns parte do valor da compra de seu primeiro caminhão. A partir deste momento, passou a exercer a profissão de caminhoneiro realizando varias viagens para São Paulo.

Um ano depois, decidiu morar em Garanhuns. Cidade que passou a amar e que viveria até os últimos dias de sua vida. Trabalhava na entrega de fretes e posteriormente passou a comprar mandioca para revender as fábricas de farinha, e abacaxis, administrando uma equipe de vendas das frutas na feira de Garanhuns.

Apaixonado pela política, não ocupou cargos eletivos, mas foi um eleitor e cidadão devotado pela justiça e melhoria das condições sociais, defendendo com afinco aqueles que erguiam a bandeira desses ideais. Conhecido pela sua posição politica contrária aos partidos conservadores, não se intimidava e não escondia sua cor partidária, tendo até mesmo a estima dos adversários políticos, pela sua sinceridade e senso de humor.

Criados os partidos políticos, ARENA (Aliança Renovadora Nacional), partido que agregava os aliados do Regime Militar, e o MDB (Movimento Democrático Brasileiro), partido que lutava pela redemocratização do país, João Gonçalves manteve-se firme em seus princípios e se filiou ao MDB, passando a apoiar seus candidatos. Durante as campanhas reunia na carroceira de seu caminhão filhos e vizinhos para participarem dos comícios e cedia a importantes nomes da politica garanhuense o caminhão para palanque. Uma dessas campanhas foi à histórica vitória de Luís Souto Dourado (MDB) sobre Aloísio Souto Pinto (ARENA), acontecendo em seu caminhão discursos memoráveis de Souto Dourado e Humberto de Moraes.

Renomados representantes da política pernambucana e garanhuense, que lutaram pela redemocratização do país, tinham enorme respeito e carinho por João Gonçalves, sempre visitando sua residência e debatendo os rumos da política municipal, regional, estadual e nacional, entre eles: Miguel Arraes, Jarbas Vasconcelos, Marcos Freire, João Lira, Ivan Rodrigues, Cristina Tavares, José Cardoso, Pedro Leite Cavalcanti e José Hilton Paixão. Seu caminhão se tornou porta voz dos que lutaram pela anistia, Diretas Já e a volta da democracia.

Outra grande paixão de sua vida era o Sete de Setembro Esporte Clube. Nos anos que o time ainda disputava o futebol amador em Garanhuns, era ele quem transportava os jogadores para os amistosos. Era constante sua presença nos estádios da AGA e do Gigante do Agreste, fazendo ouvir sua voz para além das quatro linhas e das arquibancadas.

Durante a construção do estádio Gigante do Agreste, novamente ajudou no transporte dos materiais, carregando para as obras: Pedra, barro, poste e grama.

Depois de deixar a profissão de caminhoneiro, continuou negociando a venda de frutas na CEAGA, concomitante fabricando formas e pintinhos, atividade que se dedicou até os últimos momentos de sua vida.

João Gonçalves de Melo viveu seus últimos dias de vida em sua residência na Rua Agostinho Branco 246, em Heliópolis. Faleceu no dia 29 de maio de 2015, às 17 horas no Hospital Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, deixando para todos os que o conheceram seu exemplo de dedicação ao trabalho, de honestidade, responsabilidade, honradez, cidadania e de amor aos filhos, netos, bisnetos e amigos.

HOMENAGEM

Através do Projeto de Lei nº 094/2020, do  vereador Audálio Ramos Machado Filho, ficou denominada de Rua João Gonçalves de Melo, umas das ruas no Loteamento Serra Branca II, Etapa I, no Bairro do Magano. 

*Cláudio Gonçalves de Lima é professor, escritor, historiador, ex-presidente da Instituto Histórico de Garanhuns e membro da Academia de Letras de Garanhuns.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Ritual da farinhada nordestina

Por Manoel Neto Teixeira* | Garanhuns Um dos legados mais expressivos dos nossos indígenas, primeiros habitantes do território brasileiro, é...