terça-feira, 25 de julho de 2023

Joacir Soares da Costa

Por Osman Holanda*

A sua voz ecoava pelos verdejantes morros e se alongava Lontra afora, indo se abeirar nos altos do Sítio Mendes. Em seguida, os aboios e as toadas se confundiam com a melodia das correntezas do rio Correntes, onde ali, aos meus nove anos, mergulhava completamente nu. À época, vivíamos a efervescência dos anos 60. Era dia  de vaquejada. O Parque, localizado logo após o rio, completamente lotado, estendia-se à margem da estrada que dava acesso ao  Sítio Lontra. Vaqueiros premiados, entre outros em  busca de prêmios, desfilavam em seus possantes cavalos puro-sangue. A voz que ecoava era a aveludada, voz de J. Soares, famoso locutor de vaquejada. Os seguidos aboios e toadas, dos pulmões, sonantes, de Chico Tampa (natural de Viçosa, vizinha cidade do interior alagoano, que inspirou o  escritor Graciliano Ramos escrever o livro São Bernardo, tema de filme do mesmo nome) repercutiam, sem distorção, aos  ouvidos dos circunstantes. Meu pai, que a tudo assistia e aplaudia, juntamente com a  minha mãe Zefinha, dizia como que ensimesmando: que locutor de voz bonita!

A voz a que meu pai aludia era  e é ainda a voz de Joacir Soares da Costa, conhecido em todo quadrante brasileiro por J. Soares, o exímio locutor e apresentador de Vaquejada.

J. Soares é filho do agricultor José Soares e de Maria José Lopes, de  prendas do lar, residentes no Sítio Sapucaia, encravado  neste município. O casal possui uma prole de 18 filhos.

Nasceu, J. Soares, em 1938. Aos nove anos, veio do Sítio Sapucaia residir em Garanhuns e, aos 12 anos, estudou no Gigante da Praça da Bandeira, hoje Praça Adelmar da Mota Valença, onde conclui o então curso ginasial.

Este notável locutor de Vaquejada iniciou sua carreira artística, ainda adolescente, na empresa de publicidade denominada Antena, cujo proprietário era o saudoso Humberto de Melo Granja, também apresentador de vaquejada, com quem J. Soares muito aprendeu.

O Estúdio instalado no antigo cinema Jardim tinha como cronista o ex-vereador Humberto de  Moraes, exímio jornalista.

Inspirado no comunicador Humberto Granja, J. Soares tornou-se um dos melhores locutores de vaquejada de todo o Norte e Nordeste e, porque não dizer, de quase todo o Brasil. Iniciou-se no município de São Joaquim do Monte e, posteriormente, sua  exuberante voz de vate, estendeu-se pelo Sul e  Sudeste do Brasil, compondo, na pegada do boi (dos cem metros do mourão aos 10 finais da pegada), a coreografia dos calorosos e múltiplos aplausos dirigidos a ele e aos vaqueiros premiados. Além de narrar o que ocorria na pista (do mourão a derrubada), J. Soares brincava com o público, elogiava autoridades e declamava poesia de preferência sertaneja e matutas, seguido de repentes e  aboios nos improvisos de Vavá Machado e Marcolino.

Sua última apresentação foi no município de Bom Conselho. Em toda sua trajetória recebeu cerca de 320 troféus, 1 medalha de ouro e outra de prata. Os prêmios dados aos vencedores consistiam em dinheiro, troféus e automóveis.

Foi ele quem introduziu nas rádios da região Vavá Machado e Marcolino, que se  tornaram, posteriormente, famosos repentistas aboiadores.

Foto: Joacir Soares da Costa

*Advogado, juiz de direito aposentado, professor universitário, poeta e escritor. (Texto transcrito do Jornal O Monitor).

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Rafael Calumby

Rafael Calumby João Marques* | Garanhuns, Janeiro de 2017 Quando tive a notícia, Rafael estava enterrado já fazia dias. Morreu repentinament...