segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024

Uma Cidade por Inteiro

Maria de Lourdes Caldas Gouveia

Manoel Neto Teixeira* | Garanhuns

A filósofa e escritora Maria de Lourdes Caldas Gouveia, nascida em Garanhuns, mas radicada há mais de 50 anos em Belo Horizonte, onde projetou sua vitoriosa carreira profissional como professora universitária e pesquisadora, está de volta. E, com o que, para agradecer a dádiva de haver nascido na antiga Rua do Cajueiro, estudado no Colégio Santa Sofia, vivendo a infância e parte de sua juventude nesta terra, ela traz na bagagem o melhor e mais significativo presente para a cidade e o seu  povo: Garanhuns - a Cidade e Seus  Símbolos!

A CIDADE E SEUS SÍMBOLOS

Livro trabalhado com técnica e certa dose de telurismo, ao longo dos últimos anos - compõe-se de cinco capítulos: I - A cidade, seus documentos, valores e origem; II - A cidade e suas casas; III - A cidade, sua compreensão e interpretação; IV - A cidade e o seu território; V - A cidade e seus símbolos.

A autora elege a palavra como ferramenta de trabalho e não apenas sobre elementos concretos, palpáveis, mas também acerca da interioridade, as construções simbólicas.

O que é uma cidade? Esta indagação e suas respostas perseguem os passos e o tempo cronológico da Dra. Maria Gouveia, que põe em pauta na sua rotina de pesquisadora e docente universitária, compartilhando as buscas com os seus alunos (as). Ela própria esclarece na Apresentação: "Ao determinar as questões para qualificação ao Doutorado em Filosofia na Universidade Complutense de Madri, decido e, com ênfase e rigor, volto a buscar essa antiga pergunta como possibilidade de estudo - o que é uma cidade?"

Trabalhar apenas um item dos inúmeros que integram uma cidade já seria bastante para defesa de Tese de Doutorado em qualquer  universidade do mundo. Mas Dra. Maria Gouveia trabalha todos os elementos de sua encantadora Garanhuns.

A cidade é o lugar do encontro, do louvor ao outro que me é semelhante, havendo parentesco, laço de sangue ou não. "Lugar onde se viu o mundo pela primeira vez e para onde se volta a encontrar os amigos, os irmãos de sangue e de sonho. Lugar para rememorar. Reviver o vivido e o  sonhado", sublinha a autora.

O filósofo Aristóteles sentenciou que o homem é um animal político e social. Para o  exercício desses desideratos, surge o palco ideal, propício, onde as pessoas estivessem próximas umas das outras. daí foi um passo, na Grécia Antiga, para criação da polis. Não paramos mais de criar cidades em todas as partes do planeta, com o emprego da arquitetura, das engenharias, da física e tantas ciências mais, principalmente do imaginário coletivo, do simbolismo de que nos fala Jung.

Maria Gouveia planejou e pôs em prática a sua teoria sobre a cidade, elegendo como palco a própria Belo Horizonte, onde vive há mais de 50 anos. Encarando-a como um conjunto de símbolos, alegorias, conduziu a sua tese dividindo/somando a cidade em quatro elementos simbólicos: o Cemitério, o Palácio, o Mercado e a Praça. Seu trabalho acadêmico resultou em quatro volumes. E justifica: "Mas, a cidade é intensa e pulsante. Os seus mapas dialogam com a consciência coletiva e a sua alma vive não somente nas pedras mas em carne e sangue. As suas histórias se afirmam em símbolos, alegorias, marcos urbanos e se fazem matéria para a memória coletiva".

CINCO CAPÍTULOS

Apesar do sucesso e repercussão do seu trabalho sobre Belo Horizonte, faltava-lhe algo mais: "Agora, pressionada pelo tempo em suas exigentes metáforas, retorno a questão da origem e volto a estuar a cidade de Garanhuns".

A autora divide/soma o seu trabalho em cinco capítulos abarcando todos os elementos - visíveis e invisíveis, simbólicos. Relaciona fotos de prédios e casario, pertencentes a famílias importantes, muitas já não existem mais, principalmente na Avenida Santo Antônio, onde o casario foi transformado em prédios/caixão para instalações comerciais. Registra a chegada do  trem, em 1887, e do Banco do Brasil, em 1923, como determinantes para o  desenvolvimento da cidade.

A parte final do capítulo IV chama sobremaneira a atenção, pois descreve a rua  onde a autora nasceu, a antiga Rua do Cajueiro, agora, Rua Dr. Severiano Peixoto. Nomina famílias do seu tempo, pais e irmãos. A autora confessa: "As memórias ancestrais da Rua do Cajueiro estão guardadas em suas pedras, em sua fundas valas que deixam passar água e histórias das vidas vividas aqui, algumas em fundas cicatrizes".

O Capítulo V completa a obra da Maria Gouveia, "A Cidade e Seus Símbolos". Certamente a parte mais emblemática, onde  estão relacionadas as principais instituições de ensino, o Colégio 15 de Novembro (1900), o Santa Sofia (1912) e o Diocesano (1915). Ainda o Templo, os Seminários, o Cemitério, o Mercado, o Palácio, a Praça. Trabalhou os elementos visíveis e invisíveis, e agradece aos colaboradores. E conclui: "O trabalho, então, se fez como um  voo de pássaro sobre a cidade onde nasci". É obra que repõe cada peça em seu lugar, a cidade de ontem, hoje e do amanhã. Leitura indispensável para todos os gostos e  idades. (*Manoel Neto Teixeira é autor, entre outras obras, da série MULTIVISÃO, com dez volumes, membro da Academia Pernambucana de Letras Jurídicas, cadeira 44).

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