segunda-feira, 23 de setembro de 2024

João Marques nos deixa com todas as letras

João Marques dos Santos

Gerson Lima* | Garanhuns

Quem lhe deu ouvidos, ouviu, de um corpo literário ambulante, poemas agudos da solidão de um homem culto. Por trás dos óculos de grau forte, a prontidão do verbo esculpido em palavras, sentenças poéticas, estilhaços explodidos em tantas publicações, no rigor de um poeta vasto de poesias.

Um dia, suas palavras nos fizeram cantar para Garanhuns:

“Filhos da Terra, oh! gente,

Ergam a voz, brilhem as frontes,

cantando com a alma que sente

e que vai nas brisas dos montes.

Salve Garanhuns!”

“O que achou do hino de Garanhuns, Gerson?” Me perguntou nos idos de oitenta, atento a resposta. João, o hino de Garanhuns “é muito bonito!” Respondi convicto. A matéria prima dos escritores é o vocabulário, e esse “bonito” foi tamanho para João que deu de espalhar para muitos essa minha opinião como se fosse mesmo algo importante.

Importante foi João. Que soube dar importância a terrinha numa ode sem precedentes:

“Os jardins, as palmeiras e alguns

pedaços do céu… mão divinas!

Salve as sete colinas!”

Seu O Século pôde se confundir com ele. Porque as palavras não morrem, fecundam, caminham por dentro de nós. Os poetas são falsos. Em vida nos dizem verdades, em morte não nos avisam.  Por isso João Marques partiu no primeiro dia da Primavera. Tinha pressa em catar as flores que enfeitam Garanhuns em seus versos de hino:

“Nos anais, “Florescente e garbosa

Garanhuns”, fostes sempre assim.

A elegância, a beleza da rosa,

as paisagens, estesias sem fim.

Os teus vales bravios outrora

esconderam fugitivos de cor…

A liberdade da Terra arvora

Estes homens de novo pendor.

E o lema “Ad Altiora Tendere

é o mais fervoroso ideal.

O Guardião da Academia de Letras de Garanhuns, se foi, nos deixando com todas as letras um certo vazio de intelecto.

Mas flameja hastada a bandeira de sua ode por Garanhuns, pelas poesias, pelos contos, pela conversa amena nos cafés da cidade.

“A bandeira, sagrada e serena,

e Simôa da história fanal.

Tuas belezas – cidade das flores

e os ares – poema acolhedor…

Ai! Suspiros!

Que vida, que amores neste hino, que fulge esplendor!”

Vá, mas não leve o chapéu, João!

Deixe para sabermos se era nele que morava a sapiência que te fez um gigantesco homem comum.

 É...João Marques nos deixa com todas as letras.

*Jornalista, publicitário e cronista.

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