domingo, 4 de fevereiro de 2024

Souto Filho e Guimarães Rosa

Souto Filho

Gerusa Souto Malheiros

SOUTO FILHO

Nos vários aspectos humanos, foram homens completamente diferentes. Um político de grande visão, o outro intelectual do mais alto nível. Um autêntico líder da sua geração, outro um jornalista, um escritor e um diplomata que soube representar o nosso país com a maior competência no exterior. Um, o exemplo personificado do homem público digno e probo, o outro de um literato pouco compreendido no início da sua carreira. Mas ambos, tiveram um ponto convergentes, um ponto idêntico em comum: amaram profundamente suas terras, suas gentes e suas raízes. Recentemente, conheci Belo Horizonte, a grande metrópole brasileira. Ouro Preto com a história dos inconfidentes. Mariana com as suas belezas arquitetônicas de construções barrocas e para terminar Cordisburgo, terra natal de Guimarães Rosa, situado no sertão mineiro.

GUIMARÃES ROSA

O sertão mineiro diverge totalmente do sertão pernambucano pela sua paisagem pela sua vegetação verde, que nos deixaram curiosas e perplexas, diante um sertão viçoso, com vales plantados de  deslumbrante beleza. Aquele sertão de Minas, lembrou-nos o Agreste Meridional de Pernambuco na sua topografia e no seu clima.

Ao entrarmos na casa, onde nasceu Guimarães Rosa, hoje tombada pelo Patrimônio Histórico e Artístico de Minas  Gerais, li algumas das suas mensagens literárias, dependuradas nas paredes em formas de 'posters'. Naquele exato momento, não contive as lágrimas, que vieram inesperadamente. Aquelas palavras do grande escritor de amor a sua terra, nos lembraram o mesmo sentimento que nosso pai dedicou enquanto viveu à sua amada Garanhuns. Um amor integral e absoluto.

REPRESENTAVAM A ESTRELA MAIOR DE SUA TERRA

No nosso modesto agradecimento, por ocasião do centenário de Souto Filho, numa homenagem que a Câmara Municipal de Garanhuns prestou à sua memória, dissemos: "que por todas as trajetórias que a política conduzira Souto Filho, por todas as posições que alcançara, ele parara no tempo e nunca deixara de ser o menino das ruas e ladeiras de Garanhuns, o menino do Alto do Magano."

Foi toda uma curta existência de 51 anos, voltada para seu povo e para os interesses do seu município.

Líder do seu partido, quer no governo quer na oposição, soube direcionar todos os seus projetos para o bem comum da sua terra.

Um verdadeiro líder político de tempo do nosso pai, era uma espécie de cartão de apresentação do partido. Materializava os seus  valores éticos morais, políticos e culturais. Eram homens de sólidos caráteres que não transigiam em questões de honra. Personalidades de antigas e honestas formações, para os quais, os princípios de dignidade e as palavras empenhadas, eram coisas sagradas. A família e Garanhuns sempre representaram para nosso pai, fontes de força e de emoção.

Guimarães Rosa, chegou ao pináculo da sua carreira intelectual, eleito para Academia Brasileira de Letras, falecendo poucos dias depois do acontecimento glorioso.

Por mais afastados que estivessem dos seus rincões natais, Garanhuns e Cordisburgo, representavam para Souto Filho e Guimarães Rosa a estrela maior, a terra de Canaã.

Tão opostos nas suas vocações nas caminhadas, nas suas idades cronológicas, um nascido em 1886, o outro em 1908, mas, tão idênticos, tão iguais nos  seus sentimentos telúricos. (Recife, 8 de abril de 1989).

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