Sebastião Jacobina | Garanhuns, 27 de dezembro de 1994
Nos nossas cidades interioranas de pequeno porte, os da minha geração, coexistiram na sua pré-adolescência com o viver das andorinhas. Habitavam elas, a torre da igreja local e nos beirais dos telhados das casas mais altas, numa imitação do que caracteriza os costumes dos faisões e outras aves de altanaria, grimpando os pontos elevados, à altura dos seus voos...
Nesses lugares altivos, eram caçadas pelos meninos, que subiam até as torres, capturando-as com o uso das garras humanas. Quanto as que moravam nos beirais, a caça se dava com o arremesso de pequenas pedras impelidas através de petecas e atiradeiras.
ANDORINHA SÓ NÃO FAZ VERÃO
Não me lembro que tivessem a carne comestível e de bom sabor. Os "caçadores" apenas exercitavam o esporte insano de matar e destruir inerente ao homem. Essas crianças não fugiam à regra da natureza humana ao cumprirem a afirmação filosófica de que: o menino é o pai do homem.
O que eu disse até agora, é o cenário que retenho nas minhas reminiscências. Estão na enternecida visão do que sou agora.
Atualmente, as andorinhas se tornaram conhecidas em consequências das suas migrações de revoadas imensas que obscurecem os céus de cidades paulistas, sujando as praças urbanas com seus dejetos. Nada agradáveis portanto para os que as conhecem nesta dispersão alucinante do seu nomadismo.
MAURO MOTA
Porém, abstraindo esta visão lisonjeira, as andorinhas, de modo afetivo e marcante, vivem no folclore do nosso povo. Uma canção muito ouvida na televisão, como tema de programa, numa das suas estrofes, tem dois versos, o primeiro ancorado no segundo, que expressa velho ditado: "andorinha só, só faz tristeza - andorinha só não faz verão".
Sobre as andorinhas, o poeta Mauro Mota, acadêmico em dobro, há poucos dias do seu desaparecimento físico (o Imortal perdura nas suas obras), escreveu poema antológico, constituindo o cerne deste texto e que levou-me a estas divagações iniciais:
AS ANDORINHAS
Torre feita de cantos e de plumas
ou feitas de argamassa as andorinhas?
A simbiose do pouso nos litúrgicos
beirais e a migração da alvenaria
Era a torre da igreja ornitológica
onde a cor da manhã se suspendia
Era uma ave de bronze na gaiola
era a língua do sino presa à corda
Mas quando, no intervalo dessa pena,
no seu repique matinal batia,
era a coletivíssima revoada;
asas de cal e músicas de penas
caindo todas pelo chão da praça
como se a torre se despedaçasse.
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