quinta-feira, 30 de maio de 2024

Lembrança de uma Natal

José Francisco de Souza

Dr. José Francisco de Souza* | 31/12/1987

O nosso universo mental é pontilhado de muitas lembranças. O dealbar de muitas madrugadas se conjugam. Concentram-se num recolhimento, onde as recordações revivem a sabedoria do silêncio. Não se poderia viver um só momento sem essa tranquilidade. É uma questão de constante apercebimento. De vigília psicológica em que o nosso mundo interior reflete as suas mensagens de sublimação.

Nem sempre o reflexo das luzes que iluminam o ambiente exterior apontam o nosso despertar. Somos, em maioria, carentes. Sentimos necessidade de algo que nasceu e vive conosco. A busca do nosso interior nos leva à integração. O natal não ocupa apenas o espaço de calendários convencionais. Não é simplesmente uma  data festiva. É um acontecimento de infinita significação. O mundo material e povoado pelo maior Espírito que habitou a terra onde nasceu Jesus Cristo.

Nos dias de NATAL todos têm um pedido a fazer. Um desejo a ser realizado. Uma lágrima secreta a derramar. Uma alegria passageira de um encontro. A verdade é que cada um de nós busca em CRISTO uma mensagem de uma graça inefável. Somos únicos em Espírito e verdade, somos imagem e semelhança consoante a Promessa. O nosso estado mental nos indica a maneira de falarmos abertamente com Cristo.

"Escreva uma a Jesus, contando-lhe tudo, e assim está fazendo uma oração, ou melhor a sua oração. Olhe aqui está o papel e o lápis". Maravilhado fiquei diante da transformação daquele semblante. Parecia que uma onda de luz lhe invadiu todo o ser. Ela sorria com lágrima nos olhos, enquanto recebia papel e lápis. Sentando-se ao meu lado, começou a escrever:

"Meu Jesus Querido"

"Aqui estou escrevendo, para fazer-lhe um pedido. Desde que meu paizinho me deixou neste mundo, sozinha, estou como perdida no bosque, daquela estória que ele me contava, quando pequenina. Que saudades eu tenho daqueles passeios, correndo pelas campinas. Que saudades. Quando lhe entregava as flores do campo ele tecia uma coroa, colocava-a sobre minha cabeça e dizia beijando-me "É filha dileta de um poeta"...

"Por que o Senhor deixou que ele fosse para o céu, deixando-me sozinha a colher e separar as flores? Nem os passarinhos sabem tecer para mim aquela coroa silvestre. Até hoje guardo a última que recebi e está se desfazendo de tanto me ouvir chorar, e eu quisera guardá-la para levar-lhe um dia! Oh Jesus, diga a meu paizinho que não sei mais caminhar neste mundo. Falta-me o amparo de sua  mão firme e carinhosa. Sinto falta dos  poemas que fazia para mim e que pagava com tantos beijos. JESUS! Vou pedir-lhe um favor:

"O Natal se aproxima, todos pedem presentes e brinquedos, e só quero que, neste dia, o meu paizinho venha me buscar para um passeio longo pelo céu".  "Peço que abençoe o meu paizinho e a mim também. Envio muitos beijos."

De sua filhinha,

Nice".

Nessa cartinha afetuosa em que se  conjugam vibrações entre dois mundos. Aponta a necessidade de um reencontro espiritual entre pai e filha. O pai já desencarnado, no mundo da espiritualidade maior, receberá pelo bom ordenamento do seu estágio de conscientização, a graça de contentar e satisfazer o pedido de sua  filha querida que ainda permanece sob o domínio do somático aqui na Terra. "Quem sabe Jesus não recebeu a singela mensagem e hoje, ela, colhe flores junto de seu paizinho e ouve versos acompanhados pelo coral dos anjos?

Nem todos pedem brinquedos, numa noite de Natal!? Poderíamos complementar: há muitos necessitando de brinquedos diferentes dos que "Papai Noel" oferece. No mundo da espiritualidade também existem oferendas e a maior de toda do seu universo foi o nascimento de Cristo neste mundo. O mistério de sua natividade ainda é a redenção.

"Lendas Orientais" é um livro de contos mediúnicos, cuja leitura nos transmitiu contos e mensagens de conteúdo espirituais, onde se consubstancia ensinamentos do mundo dos Espíritos em que o intercâmbio de vibrações harmônicas retrataram painéis humanos cheios de dramas e conflitos, vividos por pessoas como qualquer um de nós. As entidades da pátria espiritual convivem com milhares de heróis anônimos que existem no mundo do espírito encarnado.

O amor é uma essência de forma e conteúdo anímicos. O mandamentos divino em que se conjuga a caricia de uma criança, a suave ternura, de um olhar de eterna paz, e de luz eterna que ilumina todos os corações bem formados pelos sentimentos da doutrina dos Espíritos. O Espírito do Natal deve ser a mensagem de fé e vida de todos no dealbar das madrugadas de todos os dias. O natal é o eterno presente. Seu mundo não tem idade, é um sorriso de criança. (*Advogado, jornalista e historiador).

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