A fauna fóssil de vertebrados superiores, mamíferos e desdentados, encontrados nas lagoas ou em caldeirões, caracteriza em Pernambuco o Quatenário mais antigo - o Pleistocênio.
Os jazigos das ossadas, conforme Morais Rêgo, são depósitos de espessura reduzida que assentam sôbre o calcáreo da Série Bambuí, em suas cavidades. A fauna compara-se, perfeitamente, à do Andar Pampeano do Quarternário Argentino.
Peter Wilhelm Lund chegou, identicamente, à conclusão de que a fauna das cavernas de Lagoa Santa corresponde, também, à do Pampeano Superior.
Na faixa proterozoica algonquiana de Pernambuco, nas fossas tetônicas (caldeirões), ocorrem sedimentos de argila pleistocênica, nos quais se encontram em decomposição restos de esqueletos de vertebrados de grande porte, como os Megatérios, Mastodontes, Toxodontes, etc.
Estas depressões ou pequenas bacias, também chamadas cacimbas, foram justamente com as lagoas os únicos bebedouros da região sertaneja, durante a estação sêca, nas longas e periódicas estiagens do passado, nas quais os referidos animais pré-históricos, indo em busca do precioso líquido se atolaram no limo e pereceram de sêde.
Em Garanhuns, no distrito dos Caetés, na Serra do Tará, na Fazenda "Pau Ferro" de Luiz Noronha Branco, foi encontrada pelo mesmo, numa destas depressões nos lagedos, uma ossada fóssil de vertebrado antediluviano, provavelmente do gênero Mastodon.
Semelhantes espécimes, cujos esqueletos foram encontrados à superfície, migraram à procura da água, desde os primórdios da Era Quarternária, provável época da ruptura da formidável represa de arenito, constituída pelas serras de Tacaratu, Negra e várias outras fragmentadas e erodidas, que formavam a formidável bacia hidráulica do extenso mar mediterrâneo brasileiro, que deu origem ao rio São Francisco, segundo hipótese de Emmanuel Liais.
Suas ossadas encontram-se esparsas em toda esta vasta faixa descrita, que se estende a Chapada do Araripe até as serras Tacaratu, Negra, do Comunati, do Buíque, etc.
Na planície de Icó (jatobá), ao lado dos restos destes vertebrados gigantes, também são encontrados pedaços de troncos de árvores descomunais, silicificadas e carbonizadas.
Em Jatobá, na margem do São Francisco, existem depósitos de lignito (lenhito), em delgados folhedos.
Na Serra Negra, em Floresta do Navio, encontram-se, ainda, no cimo da serra, a mil metros de altitude, remanescentes destas árvores seculares, em mata luxuriante.
No calcáreo da Chapada do Araripe, existem com mais frequência fósseis de peixes ganoides (pequenos tubarões), ancestrais dos atuais seláquios, os quais infestavam aquelas regiões pelágicas, submarinas, e que pela sua voracidade, quase dominaram a fauna ictiológica local.
A ocorrência dos fósseis de vertebrados superiores, em Garanhuns, tem sido em pequenos caldeirões, nos lagedos, ou em terrenos sedimentares, argilosos ou limosos, de pequenas bacias (cacimbas, barreiros), do Período Pleistocênio, caracterizado pelas espécies Megatherium cuvieri Lund, Cuvieronius brasiliensis Lund, Panochthus oliveira-roxo Castellanos, Toxodon expansidens Agassiz, Mastodon humboldtii Cuvier, etc.
Os restos de mamíferos extintos, diz Luciano Jacques de Morais, têm aparecido em diversos lugares do Estado e são encontrados, frequentemente, ao proceder-se a escavação de tanques, denominação dada aos poços destinados ao armazenamento dágua. Êstes poços são abertos, tanto nos pontos altos como elevados da superfície, mas quase sempre em cadeirões ou fossas entulhadas por depósitos de aluvião.
Os ossos dêsses animais também costumam aparecer na estação sêca nos fundos das lagoas e nos vales.
Jonh Casper Branner encontrou restos de mamíferos quaternários nos lugares Lagoa da Lágea, Lageiro e Lagoa Cavada, entre Águas Belas e Garanhuns. Na lagoa da Lágea, Branner colheu, segundo Luciano Jacques, dois pedaços de presas, diversas vértebras e vários dentes partidos de Mastodon, a mandíbula e dentes de outra espécie de vertebrados gigantescos.
Os restos da ossada encontrada no caldeirão da Serra do Tará, da Fazenda "Pau Ferro" de Lula Branco, em Garanhuns, a julgar pelo achado de Branner e pela descrição dos ossos, devem pertencer, provavelmente, à espécie Mastodon humboldtii Cuvier.
Nas barreiras cretáceas da Serra dos Garanhuns, a não ser algumas resinas fósseis (âmbar), encontradas por Ruber van der Linder, na Amélia, ainda não foram descobertos fósseis de animais ou vegetais.
Não tendo, ainda sendo constatada a exigência de calcáreo cretáceo que deve existir em áreas restritas, não se poude verificar a ocorrência de peixe das espécies: Lepidotus temnurus Agassiz e Lepidotus piaahyensis Roxo e Lofgren, muito comuns naquele período.
Fonte: A Terra dos Garanhuns / Professor João de Deus de Oliveira Dias / Ano 1954. (Mantida a grafia da época).
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