José Custódio das Neves

José Custódio das Neves

Texto de Ivone Custódio*

José Custódio das Neves nasceu em 6 de agosto de 1890. Rapaz lá das bandas de Salobro, lugarejo do Município de Pesqueira aqui chegou em 1907. Órfão com a idade de 17 anos e 6 irmãos menores, tocou à vida e encaminhou todos eles que se tornaram pessoas de bem.

Tivemos você por 81 anos. Na sua passagem entre nós, deixou-nos um legado de honra e um caráter firme; daqueles que um fio do cabelo do bigode era testemunho de palavra empenhada. Dignidade e honradez foram o seu lema. Nunca admitia erros nem deslizes. Eu e minhas duas irmãs sofremos muito pela rigidez patriarcal. Hoje compreendemos o rigor. Valeu a pena...

Apesar de pouca instrução ocupou vários cargos, desde Juiz de Paz, Presidente da Cooperativa dos Cafeicultores, Suplente de Vereador, Fiscal de vários Bancos até Delegado de Polícia Civil, nos Governos de Agamenon Magalhães, Etelvino Lins, Barbosa Lima Sobrinho que lhe devotaram afeição e  respeito pelo cidadão de bem que era você.

Quanta grandeza de espírito!... Nunca se prevaleceu do cargo de Delegado para cometer arbitrariedades. Procurava a verdade aonde ela estivesse.

Trabalhou muito com Mamãe para colocar os 7 filhos nos melhores colégios daqui de Garanhuns, daquela época: Santa Sofia, Diocesano, XV de Novembro. No rosto a felicidade pela formatura dos 6 filhos; um para médico outro para engenheiro agrônomo, professora e contabilistas. Uma vitória para um homem simples e de mãos calejadas.

As relações de amizade foram muitas do meu Pai. Os Figueiras, Moreiras, Inácios, Leais, Dourados, Soares, Macêdos, Barros e tantos outros todos de tradição e bem conceituados. Os Soutos eram mochileiros como ele e acrescentava: - "Todo mochileiro é homem de bem e de vergonha".

Recordo da posse do cargo como 1º Prefeito de Brejão, ele estava de terno branco e o jeito engraçado de colocar os  óculos na ponta do nariz.

Gostava de ouvir mamãe contar como se conheceram... Era um rapaz cheio de vida, bonito e já com 32 anos. Um belo dia uma moça daqui de Garanhuns foi passar uns dias na Vila de Brejão, na casa de velhos amigos. Ela filha do Major Firmo José de Sant'Anna, isso em meados de 1922. A moça linda logo chamou a sua atenção e num piscar de olhos ele apaixonou-se por ela.  O namoro era só de longe, até que mamãe teve que retornar ao lar paterno. Na saída um mensageiro entregou-lhe uma carta onde ele pedia a sua mão em casamento. Entre namoro, noivado e núpcias foram só 3 meses. As bodas celebradas na Catedral pelo Cônego Benigno Lira. O casamento durou 3 dias de festa ao som de uma sanfona de 8 oito baixos entremeados de comidas e bebidas típicas.  Os convidados, a maioria daqui da cidade, viajaram a cavalo, único transporte da época. E lá nasceram os seus 10 filhos.

Trabalhou de sol a sol na fazenda de café, depois que largou o ramo de cereais. Em 27 de abril de 1971 tudo terminou; o coração não aguentou tanta luta e você foi partiu.

*José Custódio das Neves é padrinho de Ulisses Viana de Barros, pai de Anchieta Gueiros.