quarta-feira, 2 de agosto de 2023

Universalidade da Doutrina Espírita

Dr. Aurélio Muniz Freire (foto)*

Uma doutrina, para ser tida e recebida como centralizadora do pensamento humano em sentido universalista, deve primar em apresentar-se isenta de sectarismos, sem facções. Essa afirmação abrange os diversos aspectos de sua orientação, em quaisquer de sua feições: científica, filosófica ou religiosa. Se este ou aquele ensino, ainda quando não se adentre em determinado campo de alguma doutrina, mas que pretendia mostrar-se universal, terá de ser, por esta mesma razão, distante de partidarismos. Do  contrário, torna-se um ensinamento tendencioso.

A Doutrina Espírita, como sabemos, tem caráter de  universalidade. É a terceira revelação. Veio para todo o mundo, como as duas outras que a precederam. Ela não apostou à Terra para ficar resumida à França, ao Brasil ou a alguns outros países. Portadora de verdades universais, deverá, por seus princípios, no futuro, acender luzes em  todos os continentes do nosso globo. Já o fez por sua  divulgação, por sua literatura, pelo esforço e trabalho de encarnados e desencarnados. Sua vivência real, efetiva, entre os povos, por seus fundamentos, constituirá obra do tempo, à medida do crescimento espiritual dos homens.

Queremos enfatizar um dos aspectos da nossa doutrina, ou seja, o Espiritismo como religião. Da mesma forma como encontramos aquela universalidade, embasando suas outras faces (científica, filosófica), também jamais poderíamos  particularizar ou minimizar a sua feição religiosa. Essa tríplice forma caminha unida, inseparável, em visão de síntese do saber humano, oferecendo-se seu verdadeiro caráter integral de filosofia, religião e ciência. Tudo isso tomado numa cosmovisão espiritual ou espírita, propriamente falando. Por vezes, diante ainda de nossa pequenez de entendimento e para melhor compreensão dentro de nossa estreiteza mental, separamos e analisamos este ou aquele ângulo doutrinário, julgando até mesmo que seja real essa  separação. Lembremo-nos de que, quando nos atemos ao tripé sustentador da Doutrina, ele assume características espirituais, divinas. Não fosse assim, seria doutrina de  homens, e não de Espíritos.

A religião espírita acha-se na natureza e está em tudo quanto existe, visto sermos (tudo e todos) obra de Deus. Antes de sua codificação, ela já existia em toda parte, se bem que ainda destituída de uma coordenação que lhe emprestasse sentido ordenado, disciplinado. Seus princípios, suas normas, anteriormente dispersas e não metodizadas, receberam cuidado necessário à formação de um corpo doutrinário, segundo hoje se  expressa. Ademais, Kardec não criou as condições naturais já existentes quando do lançamento codificado de sua  estrutura, que faz a beleza de seu conteúdo.

Essa religião universal radica-se na totalidade, qual pulsação natural da própria Criação. Entretanto, do mesmo modo como não a entendemos já acabada ou terminada, nossa doutrina é progressiva. Sua religião já existia no início dos tempos, regendo, influindo no pensamento do homem, impulsionando seu espírito aos voos da evolução. Daí encontrar-se o Espiritismo em sua integralidade, ainda que não codificado, em todas as épocas da nossa história. Por isso mesmo, não é "uma religião da acepção normal do vocábulo", conforme nos  ensina o Codificador.

Por força de seu universalismo, firmando-se como terceira revelação dada ao homem, seus postulados não se acham separados, sectarizados, de  forma que lhe possam emprestar o distintivo de seita, de mais uma religião. É, sim, religião, porém de caráter total. Nessa visão de totalidade da religião espírita, ela  se situa como esteio das religiões e, à proporção que todas estas progridem, sua marcha será inevitável em direção do  quanto apregoa a nossa doutrina. Não seria lógico pensarmos de modo diversos, porquanto "a Doutrina Espírita existiu por toda a Antiguidade, e isso é muito natural, pois ela repousa nas leis da natureza, tão antigas quanto o  mundo...".

Diante dessas colocações, ainda quando carentes de melhores esclarecimentos, já podemos posicionar o vero caráter religioso do Espiritismo. Difere ele  de todas as demais organizações humanas que se fundaram como religiões ou seitas, visto assentar-se, sua gênese, na Espiritualidade Maior. Sua origem, portanto, derivou da vontade firme do Alto.

Já pontificava a lição do meigo Rabi: "Se quiseres ser grande, torna-te servo do teu irmão".  Desse modo, nosso dever de espíritas não reside somente na obrigação de respeitarmos todos quantos, em posições diversas, ainda destoem do que aceitamos, mas, na medida do possível, prestarmos o nosso auxílio sem a pretensão de interferir na seara alheia.

Emmanuel, prefaciando Nosso Lar, obra de André Luiz psicografada por Francisco Cândido Xavier, assenta "[...] que, em nosso campo doutrinário, precisamos, em verdade, do Espiritismo e do Espiritualismo, mas, muito mais, de Espiritualidade". Destarte, ele nos chama a atenção para buscarmos o real alcance de nossas palavras quando nos  confessarmos espíritas. Devemos introduzir essa orientação em nosso espírito com o objetivo de sermos sinceros, ainda quanto em meio à extensão de nossas imperfeições, para que não sejamos, tão apenas, criaturas rotuladas, envernizadas.

*Jurista e escritor / Garanhuns, PE - 2011

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