Revista Globo Rural | Fevereiro de 1994
Entre Águas Belas e Iati, no agreste de Pernambuco, o Rio Serrote secou junto com outros tantos anônimos afluentes. Jonas Bezerra conduz a junta de boi Retrato e Retrós para apanhar um tambor de água num barreiro feito há 40 anos pelo avô. Quatro décadas e duas gerações depois, nada mudou por aqui.
O mesmo barreiro aberto a picareta e pólvora continua a ser última salvação de quem aceita beber um líquido esverdeado e fétido, que é o que mais se aproxima da ideia de água por esses lados do Garanhunzinho. "As consequências são grandes, seu moço", contabiliza o pai de Jonas, José Bezerra, que resume 57 anos de vida num balanço de perdas e danos: "Me casei aos 21 anos. Levei 36 anos para juntar 50 cabeças de gado. Perdi 33 nessa seca". Ele olha para um céu "exclamado de nuvens" e desabafa: "O que o Nordeste precisa é ser picotado por açudes de uma ponta a outra, para reservar a água quando ela chega. O resto, o trabalho faz".
Nenhum comentário:
Postar um comentário