Meu amado Colégio Evangélico Quinze de Novembro, quão abençoados que foram aqueles dias passados sob teu teto acolhedor! Que horas abençoadas as que passávamos ouvindo as belas histórias bíblicas que nos contavam como se fossem contos de Fadas! No entanto com aqueles "contos" Hauríamos as belas lições do Amor de Deus, sobre todas as coisas, de patriotismo, de obediência aos pais e aos metres, respeito e reverência para com os dirigentes do País e tantas outras virtudes que valorizaram nossa vida, tanto moral quanto espiritualmente.
Em quase todas as aulas os mestres achavam ensejo para nos inculcar hábitos de ordem, asseio, amor à verdade e à honestidade, respeito à vida humana, horror aos vícios em qualquer de suas formas, perseverança, ideal de perfeição em tudo em que fizemos na vida. "Tudo o que te vier às mãos para fazer, fazei-o conforme as tuas forças (Eclesiastes: 9.10). Quase certo ainda está errado". "Não deixes para amanhã, o que podes fazer hoje". "O trabalho bem feito por humilde que seja, valoriza o homem". Quantos saíram das suas bancas para vencerem na vida, inspirados por estes lemas tão repetidos!
Que dias alegres, que horas felizes quando corríamos (esquipávamos", dizia minha avó) para o Colégio ainda em tempo de desfrutarmos das brincadeiras dos que chegavam ainda mais cedo do que nós". Tentando rever aqueles dias venturosos, passa-me diante dos olhos, como uma fita cinematográfica, aquela plêiade de mestres que faziam do ensino um sacerdócio. Cada um deles serviu-me de modelo, dada um impressionou-me com uma peculiaridade de seu caráter. Vejamos alguns que moldaram à nossa personalidade, assim como à todos que usufruíram o privilégio da convivência e receberam a influência do seu caráter adamantino.
Em primeiro lugar coloco o meu inesquecível mestre, orientador e amigo Reverendo Doutor William McCrow Thompson. Caráter impoluto, fiel cumpridor da lei, sempre pontual, a ponto dos vizinhos guiarem-se e até acertarem seus relógios pela passagem de ida ao colégio, ou de sua invariável ida ao Correio e ao Comércio às 4 da tarde. Era amável, paciente, muito cortês. Tratava as crianças com a mesma cortesia que tratava os adultos. E como isso nos orgulhava. Sentíamo-nos gente. Quem pode esquecer aqueles belos olhos azuis que nos olhavam com o carinho de pai, mas que, vez por outra tornavam-se duros e severos. Não precisava falar: às chispas daquele olhar, até os mais rebeldes, de pronto se aquietavam.
Era cumpridor da lei a tal ponto que um colega chegou a comentar: "Ele cumpre até o "i" e o "til" da lei". "É tão retilíneo que chega a envergar para trás". De qualquer maneira gracejando ou não, foi um belo testemunho dado àquela faceta do seu caráter. Era um latinista como poucos. Creio que, por conhecer tão profundamente, o Latim, podia falar um português impecável. As aulas de português que ministrava, nada deixavam a desejar. Até o purista, o exigente Jerônimo Gueiros chegou a dizer que raramente se encontraria mestre de português: "tal qual o Dr. Thompson".
Quem passou pelo Colégio Quinze e pôde esquecer as histórias do Gênesis, do Êxodo contadas por ele, na hora dos cultos no salão nobre? Quem pode esquecer o seu versículo predileto" "De Deus não se zomba". Sem que percebêssemos íamos admirando aqueles heróis que nos eram apresentados, valorizando e querendo imitar suas virtudes, procurando evitar seus erros. Quantas bênçãos nos advieram daqueles rápidos 15 minutos, Dr. Thompson foi diretor durante muitos anos, até que solicitou da Missão que lhe enviasse um substituto. Depois de aposentado, ainda continuou a contar as histórias bíblicas para o Curso Primário.
Quando o Dr. Thompson estava com mais de 90 anos começou a esquecer nomes de alunos estimados, o que lamentou profundamente. Certa vez, contou-me que um dos seus alunos mais achegados havia posto o seu nome em um dos filhos como uma reconhecida homenagem. Dizia sentir-se muito honrado e feliz com o gesto, mas estava contrariado porque havia esquecido o nome do ex-aluno. Então lembrei-lhe o nome: Epitácio Pedrosa, o PITA. Disse mais ao professor Thompson que o gesto de Pita havia acontecido como prova de amor e gratidão de tantos ex-alunos. Achávamos merecida a homenagem de gratidão. "Sim..., sim..., de gratidão... de gratidão" repetiu ele comovido.
Não me lembro de ter visto em qualquer ocasião o velho Thompson triste ou nervoso. Era a serenidade personificada. Com 90 anos tinha ainda guardado um quadro com uma inscrição que dizia: "Cheer Up. (Alegra-te). Ao passar por ele, apontava-o e sempre nos dizia: "Cheer Up". Amava tanto o Brasil, ao qual chamava: "minha segunda pátria", que se recusava a voltar aos Estados Unidos, quando se aposentou. Queria ser sepultado nesta terra que amava e à qual dedicara os melhores anos de sua vida. E de fato. Ao falecer foi sepultado no Cemitério daqui de Garanhuns, onde jaz junto de sua esposa.
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