terça-feira, 15 de agosto de 2023

Professor Arthur Brasiliense Maia

Arthur Brasiliense Maia

Lembro-me bem dele. Quando morreu em maio de 1933, eu não passava de uma criança de 13 anos. Contudo, tenho-o ainda na memória, como se estivesse fotografado. Era de estatura mediana e de olhos fundos. Possuía pomo-de-adão saliente e nariz adunco. Usava roupa escura e gravata borboleta. Era de uma austeridade que impunha respeito. Não era de visão atraente, por dentro, era aquele encantamento! Grande mestre, grande poeta, grande orador. Pouco antes de sua morte, ouvi-o fascinado na Loja Maçônica Mensageiros  do Bem, na comemoração da Independência do Brasil. A sessão solene começou às 20 horas, mas logo cedo o salão ficara superlotado. Falaram sobre o evento diversos oradores. Filhos de maçons declararam poesias patrióticas. Quando o Professor Arthur Maia (foto) se levantou para falar, foi recebido com extraordinária salva de palmas. Era assim: aplaudido antes e depois do discurso. E ele agradecia modestamente, como se envergonhasse de ser estimado. Não lembro do tema do discurso. Deve ter elogiado muito Dom Pedro I. O que sei é que foi, ao término de sua oração, muito aplaudido e abraçado.

Como filólogo, Arthur Maia era um defensor intransigente da etimologia. Não admitia a reforma ortográfica. Dizia que farmácia deveria ser escrita com PH, porque vinha do grego "pharmacon", que significava remédio. O seu radicalismo chegava ao extremo de se recusar a receber carta, em cujo envelope fosse escrito Arthur sem TH. "Não se trata de minha pessoa", costumava dizer.

Arthur Maia não era natural de Garanhuns; veio de Gameleira, neste Estado, com apenas 9 anos de idade. Mas ninguém foi mais garanhuense que ele. Casou-se em Garanhuns com dona Maria Brasil Maia, mulher bonita e de notável valor intelectual.

Arthur Maia deixou um livro de poesias, publicado postumamente. Morreu pobre como viveu, mas sempre digno, respeitado e estimado. O seu sepultamento foi custeado pela Prefeitura de Garanhuns. Conforme ato nº 129 de 31 de maio de 1933, baixado pelo então prefeito Mário Pereira de Lira.

*Dumuriê Vasconcelos / Jornalista e historiador / Garanhuns, 20 de Março de 1976.

Foto: Arthur Maia.

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