terça-feira, 15 de agosto de 2023

Arthur Maia, o parnasiano

Marcílio Reinaux*

Amadeu Aguiar escrevendo em 1933 sobre Arthur Brasiliense Maia, o "Príncipe dos Poetas de Garanhuns", no dizer de Wladimir Maia Leite, afirma que ele era um parnasiano e que em versos "ressaltava, menos a beleza da forma, do que o sentimentalismo, neles predominantes". (In Prefácio do livro "Versos" de Arthur Maia, pg. 9). Com efeito pela obra desse grande poeta  e intelectual da nossa Terra de Simôa Gomes, vê-se o quanto de Parnasiano ele tinha. Não procurava inspiração, nem à catava miudamente. Aguardava-se de certa forma espontânea. Foi assim que ele, Arthur Maia, em um das suas muitas andanças para a "Gruta D'água", no Magano, um dos seus passeios preferidos, viu, vindo pela estrada um casal de noivos, embevecidos com a beleza da natureza. Os noivos tão absortos entre si, nos revoltei-os de carinhos trocados, nem perceberam a passagem do mestre. De repente um Juriti, canta não muito longe, no cair da tarde. Por traz das colinas verdejantes, os últimos raios do sol poente, dardejava a sua tênue luz, logo mais cedendo lugar à noite. E ali mesmo escreve o seu poema "Noivos" de belíssima expressão, colhidas naquele momento de inspiração.

O versejar para Arthur Maia era  um espécie de comoção nascida intempestivamente e nunca preparada, esperada ou arranjada. A inspiração deveria vir, fosse provocada por uma flor, pelos noivos da estrada, por uma estrela, por um sapo, ou vendo em pensamento a Cidade que lhe recebera, Garanhuns escrevendo sobre ela a poesia é Saudade. Saudade / Brejo das Flores, / Quilombo, Várzea, Jardim, / Magano dos meus amores, / De olhar fito em mim!". Assim é o primeiro verso da poesia, que mais identifica Garanhuns.

Arthur Maia tinha mesmo, talvez até sem intencionalidade, uma conotação poética voltada para a linhagem do  Parnasianismo. Todos lembram que este foi o movimento literário correspondente em poesia ao Realismo-Naturalismo da prosa. Surgiu na França, ali agasalhando os mais famosos nomes desse segmento da Literatura, dentre eles: Gautier, Baudelaire, Leconee de Lisle e Banville. O Parnasianismo preconiza a pintura de incidentes históricos e fenômenos naturais em versos impecáveis, com forma rigorosamente clássica e motivos também clássicos. Por isso mesmo, a chamada escola moderna da poesia não o impressionou. Foi-lhe indiferente.

É ainda o biógrafo de Arthur Maia, que sem querer o ser, torna sendo, por ter com ele convivido e desfrutado alguns momentos da vida do poeta, que nos diz que possivelmente o que levou também o grande poeta a ser um Parnasiano, teria sido o fato de que ele, em sua mocidade amou à muitas mulheres. Lindas garanhuenses, casadoiras, poucos não foram suas pretendentes tais como Arabella, Sonia, Hebe, Ophelia "foram rosas de um mesmo ramalhete e cada qual portadora, para nosso vate, de uma ilusão a mais..." segundo nos conta Amadeu Aguiar. Mulheres, quantas, quantas não têm sido Musas inspiradoras dos poetas de todos os  tempos?

O Parnaso, monte da Antiga Grécia, teria sido a origem da expressão parnasiana para a Literatura (Prosa e Poesia) exatamente pelo sentido clássico de historiografia Grega. Consagrado à Apoio e às Musas foi motivo de permanente inspiração para os Vates Gregos. Era a morada simbólica dos exímios cultores da poesia. Poetas e romancistas, na visão parnasiana, como Arthur Maia era, se dedicam à reprodução fiel da realidade, ou buscam representá-la na perseguição da beleza, na natureza que o cerca. Para Arthur Maia, que não fazia concessões ao momento da modernidade, fosse da poesia, fosse da Literatura de um modo geral, ele, entendia que  não deveria ceder aos argumentos daquilo que não fosse arte.

Arthur Brasiliense Maia, O Príncipe dos Poetas de Garanhuns, precisa ser estudado, redivivo em sua poesia e na sua obra. No seu espírito altruístico, na sua conduta e no acervo que legou às gerações que lhe seguiram. Hoje ainda está muito esquecido. A administração municipal, durante as festas centenárias de Garanhuns, restaurou a memória de  Arthur Maia, reeditando o seu livro "Versos". Agora é preciso pelos menos duas coisas mais, para se restaurar a memória, por completo de Arthur Maia. Que seu túmulo no Cemitério de Garanhuns seja identificado e que se faça para ele uma lápide. E nela se inscreva uma estrofe de uma das suas poesias.

*Advogado, poeta, escritor, pintor, jornalista e historiador / Recife, 23 de Março de 1985

Foto: Arthur Brasiliense Maia.

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