Alberto da Silva Rêgo*
[Garanhuns] - Antônio Paulo de Miranda Filho (Paulo Filho) - Na luta de sobrevivência, o velho Antônio Paulo colocava no seu estabelecimento comercial os filhos a fim de ajudarem-no na tarefa de ganhar o pão de cada dia e, obviamente, entrar cedo na escola da vida - o trabalho.
Diz, Nelson Rodrigues (de saudosa memória): O Globo - 08 de agosto de 1980". "Amigos, ir ao oculista é um ato transcendente. Vem o oculista com a pequena luz reveladora. É um exame que põe um abismo aos nosso pés. Aquele que vai ao oculista, volta outras vezes. Assim, minha ida ao Paulo Filho, deixou-me tenso. Vocês entendem. Minha tensão começou na véspera e continuou no dia seguinte. Ele é um amigo doce como um irmão. Tivemos uma conversa longa (é uma das pessoas que melhor conversam no Brasil). Bom para mim foi a sua palavra: - O caso é muito melhor do que eu pensava. Bem melhor porque o seu pessimismo não podia ser mais Temeroso".
Estudando, ajudando o pai na sapataria, Paulo Filho tinha tempo para paquerar. Ei-lo, então a versejar, publicando no "O Imparcial", um soneto dedicado a uma menina moça, muito bonita, que chegou a ser Miss Garanhuns.
Certa vez fui à Paulo Filho, bairro de Fátima (1941) no Rio de Janeiro. Agradável surpresa. Disse-me em tal ocasião que minha mãe era quem fazia o melhor "pé de moleque" pois, saboreara, muitas vezes, este tipo de bola feito por D. Zozima. Prometi e não cumpri a promessa de um dia atender ao seu desejo de saborear novamente "pé de moleque" feito por minha genitora. Em 1951 acompanhei o Mário Lira que precisava consultar um oculista. Ao ser introduzido na sala onde ele atendia aos clientes, reconhecendo o Mário, mandou chamar a recepcionista e disse: "Devolva-lhe o dinheiro da consulta. Este é meu sócio amigo".
Conversando, certa vez, com o Dr. José Eurico Dias Martins, do M.A. meu professor de Pomicultura, no Curso de Especialização, disse-me conhecer o Paulo Filho e admirá-lo por ser um homem grandemente humanitário. E contou-me: Em certo dia, ao lhe fazer uma consulta, verifiquei, na mesma sala em que, como cliente, pagara a consulta, havia outras pessoas, inclusive algumas modestamente vestidas e sem exibir o cartão respectivo de pagamento, e que foram atendidas na minha frente, certamente, em cumprimento a ordem de chegada. Aguardei a minha vez. Ao penetrar na sala onde ele se encontrava durante o período em que era examinado, não pode conter a minha curiosidade de cearense e indaguei, sem muita cerimônia, que eram essas pessoas. Disse-me Paulo Filho. São consultas grátis, que atendo no meu consultório e para que elas não se sintam humilhadas, resolvi que deviam ficar na mesma sala, em igualdade de condições, com os que pagam.
Agora, o poeta:
Soneto para M. N. G.
Logo que te fitei, gentil Maria,
Minh'alma se inflamou com emoção!
E sentindo que em mim tudo sorria
Também sorriu no peito o coração.
Daqueles olhos teus, azuis, saía
A doçura do amor numa eclosão!
E eu fremia de gozo e de alegria,
Cheio de amor e ardente de paixão!
Os teus cabelos louros, refulgentes,
Ao nível colo teu rolam silentes,
Quais fios de ouro num marmóreo manto...
Mas, Oh! Maria, o meu amor é imenso!...
Não desprezes o bem que eu te dispenso:
Eu te quero demais... Eu te amo tanto!
"O Imparcial" - 24 de Julho de 1922 - Antônio Paulo Filho.
*Jornalista, agrônomo, historiador, pesquisador e escritor / Os Aldeões de Garanhuns / 1987.
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