sábado, 19 de agosto de 2023

O grilo, o embuá, da vida cheia de pernas

João Marques dos Santos

João Marques* | Garanhuns

O mundo dos bichinhos. Quando se vai começando a viver, a descoberta é intensa das vidas pequenas. Como nos chamam a atenção! E tem este também? pensamos. Aparecem muitos no sítio. A vida ali é abundante. Tem demais água (no meu sítio tinha), mato e bichinhos. Coisas vivas, soltas, sem serem atingidas pelo domínio do homem. Vivem como querem.

Agora, a relação com eles. O grilo é notável, cantando. À noite principalmente. Fica escondido num canto, ao pé da parede, e grita alto de doer os ouvidos. Incomoda! Mais a realidade é que sinto falta, muitas vezes, do canto do grilo. O sapo não é muito doméstico. Canta mais que tudo, satisfeito com a vida. Quem já viu um sapo chorando? A cigarra é a rainha dos cantores. As cigarras cantam em coro. E são muito afinadas umas com as outras. Noto que ensaiam um grande concerto. Não raro, uma para e recomeça o ensaio. A lagartixa não canta. Comunica-se balançando a cabeça afirmativamente. É doméstica, e gosta de escalar as  paredes. Muitas vezes, em verdadeira exibição. O  embuá, este tem mais pernas que a conta. Nunca contei. Uma perninha depois da outra, e, se por ventura perder dez, não faz falta. Aonde é mesmo que o embuá pensa em ir? Rasteja e, ante qualquer ameaça, em vez de correr, se enrola todo. Certamente, para proteger as pernas. O trem, eu penso, teria sido inventado à observação do embuá. E não é só com o embuá. Do grilo o apito. Da cigarra, a flauta. Do sapo, a orquestração. E da lagartixa, o gesto da cabeça humana, para cima e para baixo, para dizer "sim". Bichinhos que entretem e servem para ser imitados em  alguma coisa. Nosso companheiros!

*João Marques dos Santos, natural de Garanhuns, onde sempre residiu, é poeta, contista, cronista e compositor.  Teve diversas funções nas atividades culturais da cidade: foi Presidente da Academia de Letras de Garanhuns, durante 18 anos, Diretor de Cultura do Município e, atualmente, é presidente da Academia dos Amigos de Garanhuns - AMIGA. Compôs, letra e música, o Hino de Garanhuns. Mantém, desde 1995, o jornal de cultura O Século. Publicou quatro livros de poesia: Temas de Garanhuns, Partições do Silêncio, Messes do azul e Barro.

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