quarta-feira, 23 de agosto de 2023

O autêntico cidadão Aguinaldo de Barros

Aguinaldo de Barros e Silva

Entusiasmado pela vida e por tudo que fazia, o saudoso Aguinaldo  de Barros e Silva foi um dos amigos em  Garanhuns com quem mais aprendi as  coisas de uma maneira correta e inteligente. Conheci Aguinaldo quando ele iniciava o seu segundo e definitivo período de vivência na Suíça Pernambucana. O primeiro foi justamente no ano em que nasci e terminou cedo, em 1941. Mas, em 1957, estava eu no meu primeiro emprego de carteira assinada, nos Serviços de Água e Luz de Garanhuns, quando bem em frente na rua Santos Dumont, instalava-se a primeira Loja São Jorge, tendo à frente Aguinaldo Barros.

Vizinhos no endereço profissional, eu e Aguinaldo iniciamos uma sólida e duradoura amizade até o ano de 1997, quando ele veio a falecer em Garanhuns. Foram 40 anos de convivência solidária e  respeitosa, pois um dos pontos altos do  inteligente Nadinho de Barros era saber  falar e, principalmente, ouvir atenciosamente. Como já estou chegando aos 50 anos no exercício da arte de  escrever (que o digam Urbano Vitalino, Clávio Valença e Roberto Souto Maior), não terei a menor sombra de dúvida em  afirmar que Aguinaldo foi um dos melhores textos que conheci. Ou seja: escrevia com técnica, clareza e perfeição no jogo das palavras.

Comerciante em fase de expansão, Aguinaldo abriu uma segunda loja na avenida Santo Antônio, onde eu ia diariamente, ao cair da tarde para comentar os fatos do dia. Lá, sempre encontrava outro garanhuense de quem Nadinho (como ele assinava os seus comentários e artigos) era também grande amigo: Pedro da Silva Maia, fiscal de rendas e garanhuense. Do relacionamento diário, surgiu a oportunidade de fazermos juntos a resenha esportiva da então Rádio Difusora de Garanhuns.

Apesar de sermos agueanos confessos, sempre adotamos na resenha esportiva uma imparcialidade a toda prova. Independência sem parcialidade e  tanto o noticiário como os comentários de  Aguinaldo Barros eram respeitados pela  sua lisura e competência. Na gestão do empresário Severiano Moraes na presidência da AGA, Aguinaldo ficou com os Departamentos Social e Relações Públicas e, de imediato, fechou questão em torno do meu nome para ajudá-lo na  agremiação da avenida Rui Barbosa.

Quando o primeiro governo de Miguel Arraes foi feita uma tentativa do Executivo Estadual de tomar o prédio e o  campo da AGA, Aguinaldo liderou, com  outros verdadeiros agueanos e garanhuenses, uma campanha para saldar o débito existente junto ao Bandepe, razão da ação maldosa. Atualmente, a AGA tem uma sede magnífica e um bom estádio de futebol, além de parques aquático e infantil, graças a homens como Aguinaldo Barros.

Como o homem é um animal político, Aguinaldo também nutria uma forte paixão pela política. Participou de  vários governos municipais, como os de Amílcar Valença, Souto Dourado e José Inácio Rodrigues. Mas, foi nesse último, onde ele tinha uma ação das mais  decisivas, sem desprezar os dois outros. Partidariamente falando, ele foi o presidente do Partido Liberal em  Garanhuns e chegou a ser candidato a vereador sem, no entanto, obter a votação necessária para chegar à Câmara Municipal.

Mas, teve uma votação consciente de um eleitorado de gabarito. Meu pai Jayme Luna, por exemplo, que não gostava de revelar em quem votava e me dizia com satisfação: voto em Aguinaldo para vereador. Quando Assessorava o então vereador Otávio Augusto Cavalcanti, no Recife, Jayme Luna faleceu em Garanhuns e Aguinaldo redigiu um voto de pesar tão bem feito que ainda hoje guardo e forneço sempre aos amigos pois revelava fatos que eu nem sabia mesmo sendo filho.

Socialmente falando, não foi só como dirigente da AGA que Aguinaldo Barros se destacou. Ele tinha duas outras paixões: o Lions Clube de Garanhuns e a  Maçonaria, como integrante da Loja Maçônica Mensageiros do Bem. Em Garanhuns, Aguinaldo fez de tudo: promoveu torneios e competições esportivas, jogou muito tênis de mesa, secretariou a Codeam e me ajudou muito quando eu fiz a Primeira Gincana Automobilística de Garanhuns, na avenida Santo Antônio. Estávamos  sempre juntos, um ajudando ao outro.

Tinha ele muito orgulho dos seus  pais, irmãos e filhos. Falávamos muito de um seu irmão, atualmente morando no Rio de Janeiro, chamado Moura, mas  que adotou o nome artístico de Novelli em função de um conjunto musical existente em Garanhuns. No nosso último encontro ele me falou de uma  cirurgia bem complicada a que se  submeteu. Quando voltei a Garanhuns soube do seu falecimento através do seu  irmão José Henrique e de sua cunhada Adisa Valença.

Com a sua morte, Garanhuns perdeu o seu mais tradicional Cidadão Honorário, título concedido pela Câmara de Vereadores em 1982 e o mais autêntico garanhuense, desses que só não fizeram nascer entre as Sete Colinas mas, que amam a Terra de Simôa Gomes tanto como nós que somos cada vez mais garanhuense.

*Marcílio Luna / Jornalista e historiador / Garanhuns, 22 de Junho de 2002.

Foto: Aguinaldo de Barros e Silva.

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