quarta-feira, 23 de agosto de 2023

Chegança, fandango, marujada e nau catarineta em Garanhuns

Rua Santo Antônio na década de 1930. Atual Avenida Santo Antônio esquina com a Rua Dom José

Jayme Luna*

Garanhuns sempre possuiu alguns costumes das Alagoas. Mais próxima de Maceió do que do Recife, a nossa terra através de intercâmbio intenso com a capital alagoana, principalmente nos tempos da ligação ferroviária, adotou certos folguedos de cunho regionalista que marcaram época, alguns dos quais para os mais velhos, não há negar, motivo de gratas recordações.

A chegança, Fandango, Marujada ou Nau Catarineta que significam a mesma coisa, só para citar como exemplo, figuraram nas festas natalinas garanhuenses como uma verdadeira atração. Foi aqui introduzida essa manifestação folclórica por Martiniano Esteves dos Santos, um oficial de alfaiate natural de Maceió que residiu nesta cidade e trabalhou na alfaiataria do Sr. Cezar de Medeiros Cavalcanti, ali na Av. Santo Antônio, junto à Igreja Presbiteriana, em casa não mais existente, cujo terreno foi adquirido para a ampliação do templo evangélico.

A "Chegança de Martiniano" como era conhecida, constava de um grande barco de madeira, construído com todas as características, sobre 4 rodas e desfilava pelas ruas ladeirosas de Garanhuns.

A sua última apresentação, aconteceu no Natal de 1914. Tinha também, o nome de "Nau Catarineta" e representava as lutas travadas em tempos imemoráveis entre mouros e cristão.

A sua "guarnição" que era composta de pessoas conhecidas da sociedade local, tinha entre outros os irmãos Manoel Maia Lucas, "guarda marinha", João Lucas, "tenente gageiro" e Júlio Lucas, "capitão de mar e guerra".

Havia a parte coral com cânticos dolentes e enternecedores, Manoel Maia Lucas em razão do seu posto desempenhava na parte coral especial destaque com a sua voz estridente natural à transição menino-rapaz e recebia dos espectadores que se postavam em torno do "barco" os mais calorosos aplausos.

Assim a "Chegança de Martiniano Esteves Santos", alegrava a cidade durante as festas natalinas. Mas o seu introdutor espírito irrequieto e impulsivo com trânsito da política da terra, viu-se envolvido na famigerada Hecatombe de Garanhuns.

Pobre, sem proteção nem amparo de qualquer espécie, não terminou bem os seus dias. Morreu no cárcere.

*Jornalista, cronista e historiador / Garanhuns / 1987.

Foto: Rua Santo Antônio na década de 1930. (Atual Avenida Santo Antônio esquina com a Rua Dom José).

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