quarta-feira, 23 de agosto de 2023

Morrer, pelo amanhecimento


João Marques* | Garanhuns

Durmo a noite intensa, com os olhos não inteiramente fechados. Abro-os nos sonhos, e a qualquer chamamento. Porém, fecho inteiramente os olhos quando morro. E abro-os mais inteiramente ao amanhecer do grande dia da vida. Morrer é despertar da noite dormida. O dia, pela claridão da maior e verdadeira luz, a infinita. E não estranho o novo dia, ele é igual ou mais lúcido que os do passado. E, se tenho o corpo de sol livre e puro, translúcido, não projeto sombras em redor de mim. Não retomo as trevas. Feliz, me desprendo de mim próprio, e tomo a luz, como meu corpo e minha alma, juntos, em uma só unidade. Assim, posso harmonizar-me com o amor e a fonte. A origem e o fim, integrados nesse dia onde amanheço. E não morro apenas por mim, morro por todos. E eu vivo e morro, com todos, a cada dia. E revivo a eternidade, ao fechar e abrir os meus olhos de sempre.

*João Marques dos Santos, natural de Garanhuns, onde sempre residiu, é poeta, contista, cronista e compositor.  Teve diversas funções nas atividades culturais da cidade: foi Presidente da Academia de Letras de Garanhuns, durante 18 anos, Diretor de Cultura do Município e, atualmente, é presidente da Academia dos Amigos de Garanhuns - AMIGA. Compôs, letra e música, o Hino de Garanhuns. Mantém, desde 1995, o jornal de cultura O Século. Publicou quatro livros de poesia: Temas de Garanhuns, Partições do Silêncio, Messes do azul e Barro.

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