quinta-feira, 17 de agosto de 2023

Meu tipo inesquecível

Foto: Da esquerda para direita: Carlos Calvino Brasil, Clovis Barros, Jorge Nascimento, Cláudio Roberto todos peladeiros na Boa Vista - Praça São Sebastião - Garanhuns - 1966

Clovis de Barros Filho*

São Paulo (SP) - Quem  não gravou na memória e não  lembra de alguns dos personagens que marcaram sua vida, seja lá onde você tenha vivido? Falo, não daquelas figuras proeminentes da sociedade que sempre se destacaram, mais daquelas mais simplórias que estavam mais próximas, no nosso dia a dia. No meu tempo morando em Garanhuns durante  os anos sessenta, muita figuras emblemáticas e inesquecíveis fizeram parte de algum modo da minha vida. Vou nessa crônica revelar alguns desses nomes, que certamente se tornaram muito marcantes. 

Primeiro, quem não se lembra do vendedor de gibis Washington o simpático gordo que aterrorizava os garotos que não lhe pagavam a conta dos aluguéis das revistas? Washington e sua banca, ficavam embaixo da marquise da praça em frente ao antigo Fórum. Li muitos gibis lá sentado ao lado da sua banca, a maioria dos frequentadores eram de alunos que gazeavam as aulas e ficavam ali lendo passando o tempo, até chegar a hora de voltar para casa. Os gibis mais famosos da sua coleção eram entre outros O Fantasma, Chalie Chan, Billy The Kid, Dom Chicote, Tarzan entre outros. Quem não lembra? 

Outra figura figura folclórica e colega de peladas era o Garrincha e sua vasta cabeleira, engraxate dos bons  que fazia ponto também embaixo da marquise, só que em frente a S. Moraes. Garrincha como o seu xará e ídolo do Botafogo tinha uma deficiência física porém bem mais acentuada  tinha um problema em uma das pernas, mais mesmo assim incrivelmente jogava futebol,  e bem, mostrando uma força de vontade enorme. Garrincha tinha uma paixão grande pelo Santa Cruz seu time do coração. Não sei se ainda é vivo, me encontrei com ele pela última vez em 2002 depois de mais de 25 anos sem reencontrá-lo. Como não deixar de falar da dupla Romildo Pareia e Inaldo Bico Doce. Ambos, trabalhavam  no bilhar vizinho à velha Padaria Royal.  Eu e muitos outros, tivemos sérios problemas com os dois, pois vez ou outra, deixávamos o  famoso "pindura" sem pagar as horas jogadas no bilhar. Romildo era mais durão e não deixava barato. Inaldo era mais amigável e às vezes "esquecia" das dívidas. Romildo  costumava escrever o nome dos maus pagadores na pedra que marcava o jogo. O meu ficou várias vezes exposto. Só se podia voltar a jogar quando a dívida era quitada. Além de trabalhar no bilhar, tanto Romildo quanto Inaldo eram dois excelentes jogadores de futebol. Romildo jogava pela AGA de ponta direita, suas armas eram a extrema velocidade e o drible curto. Romildo também era um dos líderes e treinadores da banda do Colégio Diocesano sendo um excelente corneteiro. Inaldo era goleiro. Jogava no Sete de Setembro como eu. Só que quando comecei,  ele parou de jogar. Inaldo era relativamente baixo para a posição mais por outro lado compensava a baixa estatura com uma colocação e uma calma incríveis. Inaldo era um cara muito brincalhão. Uma das poucas coisas que o tiravam do sério era quando alguém falava de  Nelson do União filho de Mestre Amaro seu pai. Ai Inaldo Bico Doce perdia a doçura. O motivo era simples. Nelson um dos maiores jogadores que Garanhuns já teve, era o carrasco número um de Inaldo no qual marcou muitos gols.

Na rua Dom José vizinha da extinta Fábrica de Colorau havia uma senhora cujo nome não me recordo e em cuja padaria era produzido o melhor Bolo de Rolo da cidade, nunca vou esquecer pois quase todas as tardes lá estava eu comprando o delicioso bolo, como assíduo freguês. Quem frequentava diariamente essa padaria já que morava próximo era o Michelzinho, o filho do seu  Michel Zaidan. Eu e Michel que hoje é um grande jornalista e sociólogo travamos  grandes batalhas  no sinuca ao lado da sua casa. Michel era meio briguento não aceitava derrotas por nada. Não sei se continua assim até hoje.

Não poderia deixar de citar claro a minha turma que marcou de forma indelével a minha vida. Convivi com eles dez anos seguidos, diariamente, fizesse chuva ou sol, durante o dia ou à noite, sempre juntos nos divertindo pra valer. Falo dos meus caríssimos amigos Roberto Caveira, Jorginho de seu Dudu, Calvino e o grande Gilberto o Correntina. Como todo jovem da época na cidade,  não tínhamos muitas opções além claro dos filmes do  Cinema Jardim dos bailinhos, das visitas às docerias e padarias da cidade. Mais, realmente o que mais nos uniu foram as peladas de futebol na rua, nas calçadas à noite, nos campinhos de terra batida da Boa Vista, nos campinhos do Parque de Eucaliptos e sem  falar  nos jogos de times de botões. Infelizmente o tempo e a distância nos afastaram. Perdi contato com a maioria deles, mais jamais  os esquecerei. Amigos a gente nunca  esquece. Esses foram alguns tipos inesquecíveis que lembro da minha juventude em Garanhuns e que de alguma forma  contribuíram positivamente para moldar a pessoa que sou hoje. 

*Clovis de Barros filho nasceu na Serra da Prata (Iatecá). Estudou no Colégio Diocesano de Garanhuns do Admissão ao Científico onde concluiu em 1968. Reside em São Paulo desde 1970. É Licenciado e Bacharel em Química Industrial pela Universidade de Guarulhos e Químico Industrial Superior pelas faculdades Oswaldo Cruz - SP.

Foto: Da esquerda para direita: Carlos Calvino Brasil, Clovis Barros, Jorge Nascimento, Cláudio Roberto todos peladeiros na Boa Vista - Praça São Sebastião - Garanhuns - 1966.

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