sexta-feira, 18 de agosto de 2023

O grupo escolar em Garanhuns

Francisco Pinto de Abreu, Secretário Geral do Estado de Pernambuco

Fui muito precocemente para o Grupo Escolar que se chamava "Severino Pinheiro", localizado perto de minha casa, na Rua de Santo Antônio, terreno onde está edificado a Prefeitura de Garanhuns.

Era um prédio de linhas sóbrias e alegre, igual a tantos outros que encontrei nas outras cidades do interior de nosso Estado.

Segundo jornais da época e, principalmente, o "Álbum de Garanhuns" comitiva especial viera do Recife, em julho de 1922 para inauguração oficial do "Severino Pinheiro", viajando em trem de "Great Western" e composta das seguintes pessoas: Drs. Francisco Pinto de Abreu, Secretário Geral do Estado, os inspetores Abgair Soriano, Oscar Brandão, Apulcro de Assunção, inspetor de higiene Ageu Magalhães e Professor Jerônimo Gueiros, diretor da Escola Normal do Estado.

A comitiva foi festivamente recebida e logo se dirigiu à residência do então Prefeito de Garanhuns, o Sr. José de Almeida Filho, na rua 15 de Novembro (Atual Praça Dom Moura).

Muito embora se tratasse de um estabelecimento do Estado, o Grupo Escolar fora construído pelo Município de Garanhuns.

A diretora do Grupo Escolar era a Prof. Almira Ribeiro de Carvalho, que lecionava a 4ª classe do Curso Primário. Naquele tempo, o Curso Primário era dividido em duas partes: Jardim da Infância e quatro classes da 1ª à 4ª, findando-se o Curso Primário com a conclusão da última, ou seja, a 4ª classe Primária.

O ensino era seriado e as professoras obedeciam ao horário de dois (2) turnos: 8 às 12 horas e 14 horas às 17 horas. Não cheguei analfabeto ao Grupo Escolar. Graças aos esforços e ensinamentos de minha avó materna Maria Soares de Assunção, que se encarregou de me ensinar as primeiras letras, quando cheguei ao Grupo Escolar, fui para o seu Jardim da Infância em (face a minha idade), porém já tendo aprendido em casa, com a famosa carta de ABC e também o 1º livro de leitura de Felisberto de Carvalho.

Fui entregue aos cuidados da Professora Maria Anunciada Coutinho, com as recomendações especiais de ser filho do Delegado de Ensino e outras coisitas mais... Dona Anunciada, como a chamávamos era bonita e simpática e costumava vestir o mesmo uniforme da época: Saia azul marinho pregueada e blusa branca, para as meninas, e camisa branca, gola americana, calça azul marinho, para os meninos.

D. Anunciada era muito dócil e tinha muito paciência com os seus  alunos. Ela conduziu a nossa classe até o 3º ano, seja a 3ª classe, quando fomos para a 4ª classe, a cargo da professora D. Almira Ribeiro Carvalho, que acumulava as suas funções de professora com o trabalho administrativo da Diretoria.

No meu tempo, o Grupo Escolar era misto: meninos e meninas. Antes das aulas, cantávamos os hinos de Pernambuco e uma outra marcha patriótica. No final das aulas, cantávamos o Hino Nacional e nos dias de festas cívicas. Geralmente nos feriados, cantávamos também o Hino à Bandeira, quando se hasteava o Pavilhão Nacional. Naquele tempo, costumava-se ensinar o significado dos feriados.

Aprendemos logo a cantar os Hinos Nacional, de Pernambuco, da Bandeira e da Independência. Havia um dia especial para aulas de canto e os dias feriados (de conformidade com a importância do feriado), havia palestras alusivos à data, pelas professores e convidados especiais, se seguindo-se uma parte recreativa, cantos e recitativos, a cargo de professoras e alunos. Muito diferente dos dias de hoje, quando os alunos na sua  maioria, não sabem porque é dia feriado e desconhecem por completo os hinos patrióticos.

Logo após a revolução de 1930, o Grupo Escolar Severino Pinheiro, mudou de nome. Passou a se chamar de Grupo Escolar Nilo Peçanha. Já não cursava no Grupo Escolar quando ocorreu a mudança de nome. O meu padrinho Dom João Tavares de Moura, me levara em junho de 1927 para o Colégio dos Padre. Quando ocorreu a mudança, a professora Anunciada, também mudou de nome. Casou-se com ilustre membro da família Guimarães, Waldemar Guimarães, filho do Sr. Felipe Nery Guimarães, alto comerciante em Garanhuns, e figura de destaque em sua sociedade. Mesmo casada, continuou ensinando, porém viveu muito pouco, tanto ela como seu marido. O comerciante Waldemar Guimarães, faleceu em 1928 e alguns meses depois, também falecia a minha professora do Grupo Escolar Severino Pinheiro.

Já aluno do Ginásio Diocesano, fui ao seu velório. Tranquila no seu leito de morte, alva, daquela alvura própria dos que morrem com a consciência tranquila do dever cumprido. Os seus antigos alunos desfilaram na sala principal de sua casa diante do seu esquife, muitos choraram. Eu não chorei, porém fiquei com a voz embargada, quando me dirigi à uma de suas cunhadas, lastimando o acontecido. Tudo fora tão fugaz e muito breve a sua passagem pelo nosso Grupo Escolar.

*Alfredo Vieira / Garanhuns do Meu Tempo / 1981 / Jornalista, escritor, advogado e historiador.

Foto: Francisco Pinto de Abreu, Secretário Geral do Estado de Pernambuco. 

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