quarta-feira, 2 de agosto de 2023

Memórias do Monsenhor Adelmar Valença - Parte VII

Capa do livro "O Diocesano de Garanhuns e Mons. Adelmar de Corpo e Alma". Créditos da foto: Paulo Rocha e Manoel Neto Teixeira

Em 1º de outubro de 1923, fui testemunha do aerólito que caiu naquele dia , com um prolongado estrondo que me fez pular do balcão, como fizeram, os empregados das outras casas. No ano seguinte, a 25 de março de 1924,  passamos pela dor da morte de Adisa. Fui avisar a meu pai em São Pedro, depois das cinco horas da tarde, em passo de resistência, chegando lá em trinta e cinco minutos. Ele preferiu ficar lá, para não aumentar a dor. Em abril desse ano,  deixei o emprego do Sr. Pires e me empreguei na mercearia de Euclides Dourado, onde já trabalhara nos sábados; davam-me 70$000 por mês. Era um bom emprego, numa casa maior que eu tinha o gosto de trazer sempre limpa e arrumada. Minha família passava por uma grande crise financeira. Todo o meu ordenado, mesmo nos outros empregos, eu entregava para ajudar nas despesas da casa. Em São Pedro, o pobre pai, trabalhando excessivamente; vinha aos sábados trazer o que apurava, para as grandes despesas com a grande família. Um verdadeiro herói. 

Meu pai possuíra duas grandes fazendas (Beira-Mar e Vasco), mas aqui, tivera que alugar sítios, como a Vila Regina, a Serra das Antas, o Cajueiro, a Maçaranduba, a Lavoura Seca, uns terrenos na rua Dom José e no fim da rua 15 de Novembro, até conseguir comprar o sítio de São Pedro. Aqui, a pobre mãe, sem parar, cuidando, o dia inteiro, da cozinha, das roupas, da casa toda, esquecida, inteiramente, de si mesma. Uma  heroína! É pena que não tenha sabido corresponder. Em 11 de novembro de 1924, já morando no oitão da Catedral, junto à casa do Mons. Callou, convidado por "amigos", tomei parte numa espécie de protesto, por causa do aumento das tarifas de Great Western. Eu nem sabia o que era tarifa. À noite, fomos arrancar trilhos, num local bem afastado da cidade. Trabalhamos até bem tarde e, apenas, cortamos fios e afrouxamos parafusos. No dia seguinte, fui levar minha mãe e os pequenos em São Pedro. Ao despedir-me dela, à tarde, deu-me um conselho: "Fuja dos maus  amigos!" Parece que ela estava adivinhando. Mal cheguei de volta, à noite, os "mesmos amigos" vieram buscar-me para a conclusão do trabalho. Lembrado das palavras de minha mãe, pretextei cansaço por causa da viagem a pé e fui dormir. Foram eles. E, pela madrugada, a polícia os trouxe para a cadeia, onde ficaram até às 8 e meia da noite. Eu estava no balcão quando eles passaram da cadeia para o Paço Municipal, para serem interrogados. Poucos dias depois, tive uma questão com um fiscal do consumo, Dr. Rego Barros, que queria que eu  deixasse a mercearia sozinha e fosse procurar, na rua, o patrão Agilberto Dourado. Zangado, ele foi até o Paço Municipal e trouxe Euclides Dourado. Este, ao chegar, foi logo dizendo: "Como é que o senhor recebe mal um fiscal do consumo? Respondi na altura, tomei o paletó e o chapéu, abri a porta do balcão e retirei-me. Soube, depois que ele elogiara meu caráter. Quem muito sentiu a minha saída do emprego, foi um outro empregado, Antônio de Barros, que achava ser eu um "sábio", porque, mostrando a mim a relação dos "Dias de Águas", disse-lhe que o nome certo era "Dias aziagos", e que eu não acreditava nisso. Fonte: Livro Diocesano de Garanhuns e Monsenhor Adelmar de Corpo e Alma do escritor Manoel Neto Teixeira.

Foto: Capa do livro "O Diocesano de Garanhuns e Mons. Adelmar de Corpo e Alma". Créditos da foto: Paulo Rocha e Manoel Neto Teixeira.

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