quarta-feira, 2 de agosto de 2023

Memórias do Monsenhor Adelmar Valença - Parte VIII

Feira de Garanhuns na década de 1920 - Na imagem podemos ver o pé de Jatobá (pau da mentira), na antiga rua Jatobá local onde era realizada a feira de animais, hoje praça Jardim

Em janeiro de 1925, empreguei-me com José de Almeida Filho, com o ordenado de 100$000 por mês, trabalhando, porém, na Usina de Algodão e Óleos. Era distante e eu trabalhava muito, recebendo o algodão comprado e entregando-o à Usina. Era, porém, um trabalho divertido, porque os operários, que colocavam os sacos na balança, tinham sempre um assunto engraçado e me respeitavam. Nesse ano, mudamo-nos para a rua enfrente à Estação Ferroviária, para a casa em que Arminda nasceu. Minha mãe, quando ouvia o apito da Usina, sabia que, em poucos instantes, eu chegaria. Em setembro, assisti ao drama da viagem de minha mãe a São Bento, onde assistiu à morte do pai que ela não mais vira, desde   1912, assim como a mãe. 

José de Almeida estava em péssima situação financeira e mal podia pagar os ordenados dos empregados que, às vezes, eram pagos dois meses juntos. Fiquei, por isso, desempregado, passando, logo em dezembro desse ano, a trabalhar com Ismael Gouveia, percebendo 120$000 por mês. O trabalho era em Poço Comprido, onde, hospedado em casa de Vitor Grossi, eu recebia o algodão e entregava a esse senhor. Em 23 de janeiro de 1926, não suportando as saudades de minha casa, saí de lá, à meia-noite, tendo, antes, avisado ao Vitor Grossi. Vim a pé. No dia seguinte, domingo, voltei, sendo mal recebido pelo irmão de Vitor, Vicente Grossi. Disse-lhe uns desaforos e, a pé, saí, ao meio-dia, com fome, para Garanhuns. Ouvindo o barulho do automóvel de Ismael, procurando-me, eu me escondia nos matos. Não era mais possível a minha volta para Poço Comprido. Continuei trabalhando para Ismael, ora na Usina de Algodão, ora no armazém que ficava na rua Jatobá, esquina com a Poço da Folha, perto do pé de jatobá que dera o nome àquela rua, chamado, também, de Pau da Mentira, porque ali se realizava a feira de cavalos, onde só eram mostradas as boas qualidades dos animais, nunca os defeitos. Caipora nos negócios, Ismael, em março, extinguiu a firma e foi para a Bahia. Logo em abril, empreguei-me na firma Pinto Alves, que tinha, como gerente, Osório Valença. Meu trabalho era na última casa do lado esquerdo da rua Poço da Folha e ganhava 150$000 por mês. Não havia movimento nenhum, o que não se dava com meu temperamento. Do lado esquerdo do armazém, havia o tal poço cheio de folhas, largo e raso, que dera o nome à rua, chamada erradamente pelo povo,  de Porto da Folha. Minha família tinha voltado e morar no oitão da Catedral. A 5 de agosto, o sub-gerente, José Rodrigues, assume a gerência e passei a trabalhar com ele, pedindo, antes, demissão, o que ele, generosamente não aceitou. Creio que foi o melhor dos meus patrões. Sem prejuízo das minhas funções, convidado por D. Moura, que, no púlpito me elogiara, lecionei, das 6  às 9 da noite, nos meses de setembro, outubro e novembro, na Escola Gratuita para Homens do Trabalho, ganhando 50$000 por mês. A matrícula era de  cinquenta alunos, mas a frequência, péssima e, assim, no ano seguinte não mais funcionou.

Estava, ainda, na firma Pinto Alves, quando, a 15 de agosto de 1927, comecei a rezar o terço todos os dias. No dia 20 de novembro, porém, em defesa do nome de José Rodrigues, briguei com um dos chefes da firma, Sr. Mário Pena. Com agrados e promessas de aumento e, depois, com ameaças de demissão, queria ele que eu relatasse todos os negócios de José Rodrigues que, naquele domingo, viajara para o Recife. Retirando-me bruscamente, da sala do hotel, onde ele estava, tratei de pedir demissão, antes de ser demitido. Voltando, José Rodrigues me abraçou e me chamou de verdadeiro amigo. Empreguei-me logo em fins de dezembro, na Usina de Algodão, junto ao cemitério, ganhando 120$000 por mês. Fomos morar na rua Dom José, na casa que fazia esquina a com a Praça Jardim. Faltando dinheiro na fábrica, o gerente, Humberto Câmara, me convidou para ir trabalhar na Usina Central, cujo gerente era o pai dele, em Areias, no Recife. Com licença dos meus pais, que, como eu, tinham desejo de que eu saísse de um funil em que me metera, aceitei o tal emprego. Fonte: O Diocesano de Garanhuns e Monsenhor Adelmar de Corpo e Alma do escritor Manoel Neto Teixeira.

Foto: Feira de Garanhuns na década de 1920 - Na imagem podemos ver o pé de Jatobá (pau da mentira), na antiga rua Jatobá local onde era realizada a feira de animais, hoje praça Jardim.

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