Poucos dias depois, a 13 de julho, morre D. Moura, figura tão dentro da minha infância. Só no dia 15 é que vim saber da sua morte. Notícia que recebi com grande dor. No dia 30, fui esperar, no Porto, o seu corpo. Olhei-o duas vezes, na igreja da Madre de Deus. No dia seguinte, acompanhei-o, no trem que saiu, às 13h30min, para Garanhuns. Viagem triste. Aqui chegamos às 10h da noite. Choravam crianças, moços e velhos. No meio da multidão, Alcina me viu. Correndo atrás de mim, chamou-me. E, apesar da tristeza da hora, vi, no seu rosto, a alegria por me rever. Pobre irmã, cuja vida tem sido um calvário de dedicação e de trabalhos, com resignada abnegação! Cheguei de surpresa, em casa.
Não há nada que se compare ao ambiente do lar. Não quis dormir, pois eram poucas as horas que passaria em casa e eu queria aproveitá-las bem, junto aos meus. Às 3h da tarde do dia 1º de agosto, voltei no mesmo trem especial. Agobar voltou, também. Viajamos no mesmo banco. Viagem bem triste, como a minha vida. À 1h da madrugada, como o trem não ia para Cinco Pontas, mas para a Central, ao passarmos pelo cruzamento a linha de bondes, em Areias, resolvemos saltar ali mesmo, com o trem em movimento. Saltei primeiro. Agobar, depois, sacudiu as bolsas e saltou, também. Meu quartinho ficava bem perto. De novo, fez questão de ficar no chão. Pela tarde desse dia, 2 de agosto fui levá-lo no Seminário. Continuei a visitá-lo aos domingos. Na Usina, escasseava o dinheiro, até para os salários. Já nos pagavam com sabão ruim, sabão que eu não tinha coragem de vender. Vento que era impossível continuar nesse emprego, escrevi a Ismael, que morava na Bahia. Recebi, a 9 de outubro, um telegrama, chamando-me. Despedi-me do emprego, no dia 13, e, no dia 14, à noite, fui despedir-me de Agobar. Era um domingo. Em baixo, na Praça, a música em retreta, contrastava com a angústia que ia na minha alma. Saí soluçando. Recebera dele muitos conselhos sobre missa dominical, páscoa, amigos. No dia seguinte, voltei, pedindo ao porteiro para entregar a meu irmão algumas coisas para casa: sabão e umas latas. O porteiro, sem que eu tivesse pedido, chamou Agobar. Foi bom. Novos conselhos, nova despedida. Desci aquela escada de setenta e tantos degraus e, embaixo, olhei para trás: ele ainda estava olhando para mim. Naquele dia, ele estava doente, magro e abatido. Uma carta que ele me entregou para botar no correio, era para meus pais; dizia sentir bastante a ausência do irmão a quem tanto estimava. Chorei muito.
Fonte: O Diocesano de Garanhuns e Monsenhor Adelmar de Corpo e Alma / Manoel Neto Teixeira / 1994.
Fotos: Padre Agobar da Mota Valença. (2) - Dom João Tavares de Moura - 1º Bispo de Garanhuns
Nenhum comentário:
Postar um comentário